Ex-diretor de Segurança do Carandiru diz que Rota chegou ao presídio atirando

Para Moacir dos Santos, o massacre no pavilhão 9 não foi provocado por confronto

Fonte: Agência Brasil

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A segunda testemunha de acusação a ser interrogada na tarde desta segunda-feira (17) no julgamento do Massacre do Carandiru foi Moacir dos Santos, que era diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção do Carandiru e substituto imediato do então diretor do presídio, José Ismael Pedrosa.


Em seu interrogatório, que durou cerca de uma hora e vinte minutos, Santos disse que o massacre que ocorreu no Pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, não foi provocado por um confronto entre policiais e detentos, pois os presos não portavam armas de fogo. “Não sei quem atirou, se foi a Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar], se foi o Gate [Grupo de Ações Táticas Especiais]. Mas quem chegou atirando lá embaixo foi a Rota”, disse.


Naquele 2 de outubro de 1992, dia em que o massacre ocorreu, Santos contou que estava almoçando quando soube que estava ocorrendo uma briga entre duas facções no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, local que, na época, segundo ele, tinha entre 1,8 mil e 2 mil presos. “Não era uma rebelião. Aquilo lá era um acerto de contas entre eles [detentos], uma briga de facções do Barba e do Coelho [apelidos de dois detentos rivais]”, disse. A briga, de acordo com ele, envolvia detentos do segundo e do terceiro pavimentos.


Segundo o ex-diretor, quando ele chegou ao Pavilhão 9, assim que soube da briga de facções, viu os detentos com “máscaras improvisadas, estiletes e pedaços de pau”. “Conversamos com eles para evitar a tragédia, mas não tivemos sucesso”, disse, acrescentando que a briga entre os detentos não tinha nada a ver com os funcionários. “Não era contra a administração. Os funcionários saíram tranquilos do local, mas antes trancamos a entrada principal do pavilhão”.


Após isso, Santos disse ter acionado o alarme da Casa de Detenção e avisado ao diretor do presídio na época, José Ismael Pedrosa, de que a situação no Pavilhão 9 tinha fugido do controle. “Quando chega nessa situação, o funcionário não tem mais como colocar ordem. Quando o presídio foge do controle, a função passa a ser da Polícia Militar”, disse.


Assim que a Polícia Militar foi informada sobre a briga de facções, eles se dirigiram ao local e ficaram parados na porta do Pavilhão 9. “O [coronel] Ubiratan Guimarães trouxe o Choque, a Rota, o Canil, o Gate. Eles ficaram ali na porta do pavilhão, parados”, falou. Uma reunião entre juízes, corregedores, diretores, policiais decidiu que a Polícia Militar deveria, em princípio, tentar uma negociação com os presos. “Mas a Rota já entrou invadindo e atirando, contrariando a determinação de que era para conversar com os presos. A entrada foi tumultuada”, disse. Neste momento, falou Santos, um botijão de gás explodiu e acabou atingindo o coronel Ubiratan, que teve que deixar o local, ferido [a versão de Santos contradiz a versão mais conhecida de que o coronel foi atingido por um aparelho de televisão, arremessado pelos detentos].


Enquanto isso, as autoridades civis foram proibidas de entrar no presídio e ficaram do lado de fora. “Só ouvimos os tiros, os gritos e as bombas. Ouvi várias rajadas de metralhadoras”, disse. Ele e os demais civis só puderam entrar no Pavilhão 9 por volta das 19h daquele dia, quando eles encontraram todos os presos sobreviventes pelados, sentados no pátio. Alguns dos presos, segundo ele, foram chamados pelos policiais para ajudar a retirar os corpos. “Mas percebemos que os policiais estavam fuzilando os presos que estavam arrastando os cadáveres e então passamos a anotar os nomes dos presos que estavam subindo [para retirar os cadáveres dos pavimentos] e eles [policiais] pararam com isso. Se não, não teria nenhum preso para contar”, disse.


O diretor do presídio ressaltou não ter visto, naquele dia, os detentos portando quaisquer armas de fogo. “Não vi nenhuma arma de fogo, só facas improvisadas que os detentos faziam na cadeia”, disse.


O interrogatório de Santos terminou com uma pequena discussão entre o advogado de defesa dos policiais, Celso Machado Vendramini, e os promotores Márcio Friggi de Carvalho e Eduardo Olavo Canto Neto, que demandou uma intervenção do juiz Rodrigo Tellini Aguirre Camargo, exigindo respeito e educação das partes.


Nesta etapa do julgamento, 15 policiais, integrantes do COE (Comando de Operações Especiais), serão julgados pela morte de oito presos que ocupavam o quarto pavimento (ou terceiro andar) da antiga Casa de Detenção do Carandiru. Todos os 15 policiais estão hoje acompanhando o julgamento.


A primeira testemunha a ser ouvida hoje foi o perito criminal Osvaldo Negrini, que também falou que não houve confronto entre policiais e detentos, pois as marcas de bala que ele encontrou no presídio foram disparadas praticamente em uma única direção: de fora para dentro das celas.


Após isso, o juiz decidiu encerrar os trabalhos por hoje e deixar para amanhã cedo, a partir das 10h30, a continuação do julgamento. O ex-detento Marco Antonio de Moura, que sobreviveu ao massacre, também seria ouvido hoje como testemunha de acusação, mas foi dispensado pelos promotores e não será mais ouvido.


O maior massacre do sistema penitenciário brasileiro aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos durante a invasão policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do Presídio do Carandiru.

Palavras-chave: massacre do carandiru direito penal

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2 Comentários

seu nome sua profiss?o19/02/2014 10:46 Responder

O tal diretor é um grande mentiroso e trabalha em conluio com o ex governador Fleury que não teve a coragem de de dizer a verdade, a qual seja: que ordenou a entrada dos PM na detenção, a qual revidou o ataque dos detentos. Todos deveriam agradecer aos lixeiros da sociedade (Policias) que nos livraram dos lixos humanos, no entanto os lideres do crime organizado está aproveitando a oportunidade para acabar de vez com a segurança pública e dominar definitivamente o país.

Adherson Negreiros Tejas Servidor P?blico19/02/2014 12:34 Responder

O massacre do Carandiru, confirma que os policiais militares, sob o comando do Cel. Ubiratan, invadiram a cadeia pública determinados a executar os detentos e não conversar com os mesmos. Foram responsáveis pela execução de 111 detentos, conforme divulgado pela imprensa nacional. Sabe-se que ali foram mortas pessoas que cometeram os mais diversos crimes, no entanto, foram sentenciados a morte sumariamente pela policia militar de São Paulo, naquele 02 de outubro de 1992. O Estado falhou, ao permitir que policiais agissem a margem da lei, fazendo a sua própria justiça. A falha é tão grande, que ainda hoje, após 22 anos do massacre, não se tem ainda, a condenação de todos os envolvidos na execução dos 111 detentos do Carandiru. Percebe-se que a nossa carceragem é um lixo em todo o pais, não ressorcializa ninguém, serve apenas de depósito humano. A segurança pública é precária, deficiente e mal preparada. É necessário um efetivo maior, salário melhor, viaturas, armamento, preparar melhor as nossas polícias, colocar uma boa tecnologia a serviço da segurança pública, passar por uma avaliação médica, principalmente psicológica, a cada quinzena, para defender melhor a sociedade em diversas situações. O que não se permite são os abusos, arbitrariedades cometidas em nome da lei, isso não faz parte do Estado Democrático de Direito, onde o alicerce basilar se constitui pelo principio da dignidade humana, estando em liberdade ou em clausura, conforme carta constitucional vigente.

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