Em depoimento à Justiça Federal no Rio, Cabral admite que "houve doações legais e caixa dois"

Depoimentos são referentes às acusações que motivaram a operação Mascate. 'Nunca houve 5%. Que história é essa? Que maluquice é essa? Que vigia no governo Cabral. Atônito vi isso. Há caixa dois, reconheço', admitiu.

Fonte: G1

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O ex-governador do Rio Sérgio Cabral prestou depoimento à 7ª Vara Federal Criminal nesta segunda-feira (10) e, pela primeira vez, respondeu às perguntas feitas pelo juiz Marcelo Bretas - até então só atendia aos próprios advogados. Ele voltou a admitir o caixa dois é negar vantagens indevidas, dizendo que os 5% de propina pedidos em grandes obras, como disseram delatores, é "maluquice".


Aparentando tranquilidade, o ex-governador e o magistrado só tiveram um momento de discussão mais dura. Bretas quis saber como as doações extraoficiais não significariam contrapartidas às empresas beneficiadas se o governador era, em alguns casos, amigo dos empresários. Cabral respondeu que a relação é semelhante à de juízes com amigos advogados.


O ex-governador respondeu que, enquanto foi governador, não houve "toma lá dá cá".


"Basta o governador discernir uma coisa da outra. Nunca houve contrapartida por ter dado doações legítimas ou caixa dois. Nunca houve. Nunca houve contrapartida. Nunca houve 5%. Que maluquice é essa? Que (se dizia que) vigia no governo Cabral. Atônito vi isso. Há caixa dois, reconheço" disse ele, negando a propina delatada por empresários.


Sobre caixa dois, ele voltou a dizer que a prática é comum em todo o Brasil é nas mais variadas matizes ideológicas.


"Reitero que reconheço o hábito da política brasileira do caixa dois. Houve doações legais e caixa dois", destacou Cabral no depoimento.


Minutos depois, ele disse que as doações extraoficiais são "prática disseminada" e que todos os partidos faziam isso nas eleições. Bretas então questionou se ele tinha conhecimento desta prática nas eleições em que o PMDB, partido de Cabral, foi vitorioso nas eleições à Prefeitura. O ex-governador disse que não tinha conhecimento.


O ex-governador está preso desde novembro do ano passado por envolvimento em esquemas de corrupção. Cabral foi intimado a prestar depoimento juntamente com Ary Ferreira da Costa Filho, preso durante a operação Mascate da Polícia Federal em fevereiro, e Carlos Emanuel de Carvalho Miranda. Ambos eram operadores do dinheiro que seria entregue a Cabral. Os depoimentos são referentes às acusações que motivaram a operação Mascate.


O advogado de Sérgio Cabral mudou a estratégia usada até o momento em depoimentos e disse que ele, diferentemente, dos demais interrogatórios, vai responder às perguntas.


No mês passado, o ex-governador foi condenado pelo juiz Sérgio Moro – responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância – a 14 anos e 2 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele já foi denunciado 12 vezes na Operação Lava-Jato. A última foi por corrupção na área de alimentação e serviços especializados.


O primeiro a depor foi Ary Ferreira da Costa Filho, ex-assessor de Sérgio Cabral. Ele disse que foi a duas empresas apresentar Carlos Miranda aos executivos que repassaram um total de R$ 5 milhões ao braço direito do ex-governador.


O depoente admitiu que sabia que os valores eram de caixa dois. Segundo Ary, as sobras de campanha eram repassadas para compra de imóveis e veículos. As compras ocorriam porque ele foi orientado a "circular o dinheiro" e não correr riscos de assaltos.


No depoimento, ele afirmou também que administrou a logística de campanhas de Cabral, Eduardo Paes e do atual governador Pezão.


Ary é suspeito de pegar o dinheiro vivo desse esquema e intermediar a lavagem de dinheiro e a ocultação de patrimônio. Ele entregava dinheiro para dono de concessionárias de veículos, que contratavam serviços de consultoria da empresa de Carlos Miranda, que também é operador de Sérgio Cabral nesse esquema. Quem delatou o esquema foi Adriano Reis, dono de uma dessas concessionárias.


Atualmente, Cabral está em um presídio em Benfica, onde ficava o antigo Batalhão Especial Prisional (BEP), que foi recentemente reformado.


Em parecer no qual pedia a manutenção da prisão preventiva de Luiz Carlos Bezerra, operador de Sérgio Cabral, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que Cabral é "líder de uma organização criminosa, dedicada a dilapidar sistematicamente o erário público, sem nenhum escrúpulo". O parecer foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF).


No texto, Janot explica que a prisão preventiva é necessária, já que a organização criminosa "permaneceu ativa muito tempo depois da renúncia do ex-governador Sérgio Cabral", e lembrou que o ex-governador, de acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, "reiteradamente cobrava propina no valor de 5% de todos os contratos celebrados com o Governo do Estado do Rio de Janeiro".

Palavras-chave: Operação Lava Jato Organização Criminosa Corrupção Passiva Caixa 2 Propina Lavagem de Dinheiro

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