Deputados devem votar neste ano publicação de biografias não autorizadas

Proposta aguarda apenas votação no Plenário para seguir para o Senado. O tema é polêmico e também está sendo julgado no STF

Fonte: Agência Câmara

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O Plenário da Câmara dos Deputados deve votar, neste ano, projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas de pessoas públicas (PL 393/11). A proposta altera o Código Civil (Lei 10.406/02) para dispensar de autorização prévia a publicação de livros, imagens ou gravações que relatem a trajetória de artistas, políticos e outras pessoas de relevância social.


A matéria já foi aprovada em caráter conclusivo pelas comissões permanentes da Câmara e poderia seguir para o Senado, mas houve recurso assinado por 72 deputados para que o Plenário a analisasse.


Autor do recurso, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) justifica a iniciativa por considerar a mudança muito profunda. Ele afirma que a proposta coloca em conflito dois direitos fundamentais – à privacidade e à liberdade de expressão. Rogério defende que um assunto “tão complexo” seja debatido mais profundamente.


O projeto é tema de enquete no portal da Câmara. Vote aqui.


Proibição da censura prévia


Na avaliação do autor da proposta, deputado Newton Lima (PT-SP), a regra atual tem um resquício autoritário. Atualmente, juízes costumam determinar o recolhimento das biografias não autorizadas, quando há questionamentos. Ele afirma que seu projeto proíbe a censura prévia, mas não impede o reparo a abusos eventualmente cometidos.


"Veja que nós estamos tratando de celebridades, que são aquelas que fazem a História – jogadores de futebol, artistas – como o caso do Roberto Carlos, ele mudou a minha geração e a geração de muita gente, com a Jovem Guarda, e a biografia dele está proibida”, exemplifica o parlamentar.


“Não é possível se contar a história adocicada só a juízo de quem é a celebridade. É justo que outros que são autores, biógrafos, estudiosos, professores, ao escreverem as biografias, deem a sua versão da história”, acrescenta Newton Lima. “Se cometerem abuso, se violarem a honra da pessoa biografada, a Constituição e a legislação estão aí para garantir a reparação, a posteriori."


Decisão antes do Judiciário


Newton Lima espera que a Câmara decida sobre o tema antes do Judiciário. Uma ação direta de inconstitucionalidade, de 2012, está para ser julgada no Supremo Tribunal Federal.


A Associação Nacional dos Editores de Livros questiona o artigo do Código Civil que está sendo modificado pelo projeto. O advogado da entidade Gustavo Binenbojm esclarece que a mudança na lei não significa quebra do direito à privacidade.


"A pesquisa histórica, o levantamento de informações se dá no limite da legalidade, ou seja, com o resgate de depoimentos esquecidos, como foi aquele dado pelo Chico Buarque ao biógrafo do Roberto Carlos, Paulo César Araújo. Chico Buarque ele disse que não tinha dado a entrevista e Paulo César provou que a entrevista existiu, inclusive, pela gravação”, lembra o advogado. “Então, nós estamos a falar aqui das informações que são legalmente apuradas ou voluntariamente reveladas pelos seus detentores."


Conciliação de direitos


O assunto levou artistas a se manifestarem nas redes sociais. A associação "Procure Saber" reúne músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Chico Buarque. Roberto Carlos também participava, mas depois se desentendeu com os participantes e retirou-se do grupo.


Eles divulgaram vídeo afirmando que não querem censura prévia e que confiam no Poder Judiciário para encontrar uma forma de conciliar o direito constitucional à privacidade com o direito, também fundamental, à informação. Eles argumentam ainda que se trata de juízo íntimo a decisão sobre o que é público ou privado em suas vidas.


Tramitação


O projeto que permite a publicação de biografias não autorizadas recebeu pedido de urgência e poderá ser analisado depois da liberação da pauta do Plenário.

Palavras-chave: biografias não autorizadas direito constitucional polêmica

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