Agora a guerra é política

Alvo da guerra que já dura seis dias pelo controle do tráfico na Rocinha.

Fonte: Jornal O Globo

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Alvo da guerra que já dura seis dias pelo controle do tráfico na Rocinha, a população do Rio assiste a um confronto paralelo: o tiroteio político entre as autoridades. Ontem, durante uma reunião, o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, tentou acuar o governo federal e constrangeu o secretário nacional de Segurança, Luiz Fernando Corrêa, anunciando estar disposto a aceitar a oferta de envio de tropas das Forças Armadas para ajudar no combate à violência. No entanto, ressaltou que o controle da operação deveria ficar com o estado. A decisão seria uma resposta ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que admitira anteontem convocar tropas e até decretar estado de defesa para restabelecer a paz no Rio.

- A governadora (Rosinha Matheus) entende que recusar uma oferta tão valiosa seria falta de respeito com a opinião pública. Que eles venham. Nós não podemos fazer uma desfeita com o governo federal - disse Garotinho.

Num documento entregue ao secretário nacional, Garotinho listou oito favelas onde quatro mil homens da elite das Forças Armadas deveriam atuar, por oito meses, até a contratação de mais PMs. A estratégia não funcionou. O ministro recuou e afirmou que, para a presença das Forças Armadas, é necessário que o governo do Rio reconheça ser incapaz de enfrentar o tráfico. O estado teria, então, que entregar o comando à União.

- As Forças Armadas não são instrumentos assim prêt-à-porter (roupas feitas em série), que se possa pegar e trazer sob a direção de autoridades estaduais. Para isso, é preciso obedecer a certos requisitos - afirmou o ministro.

Treze deputados da bancada federal do Rio pediram ontem à noite a Thomaz Bastos a intervenção do governo federal no estado. Para esses parlamentares, o governo não tem mais condições de enfrentar a crescente onda de violência no Rio. Segundo o deputado Eduardo Paes (PSDB), o ministro disse já ter um plano pronto para o estado.

Garotinho cobra medidas da União

Ontem, antes da resposta oficial do ministro da Justiça, o secretário nacional de Segurança, depois do encontro com Garotinho, já dera o tom de que a União era contra o envio de militares para o Rio:

- Se depender do meu voto, a resposta é não. O envio de militares vai ser tratado pelo ministério competente (o da Defesa). Não houve oferecimento das Forças Armadas.

- Então os jornais estavam errados? - devolveu Garotinho.

Inicialmente diplomático, Garotinho, na entrevista depois do encontro, disse que o próprio secretário reconhecera que "a Favela da Rocinha estava totalmente sob o controle da Polícia Militar". Depois da cordialidade, o secretário foi ao ataque, mostrando os pedidos feitos pelo governo do estado à União na área de segurança que não foram atendidos:

- No ano passado, o Rio solicitou recursos para a reforma de cinco presídios e a construção de um outro. Dos R$ 19 milhões pedidos, recebemos R$ 478.080 - reclamou o secretário, que hoje entregará ao ministro da Justiça um documento da governadora oficializando o pedido de tropas federais no estado.

Em ano de eleição, a guerra no Rio virou também palanque. A governadora entrou na linha de tiro do prefeito Cesar Maia, que chegou a sugerir a decretação do estado de defesa no Rio. Cesar também propôs a municipalização da polícia e alvejou seu principal adversário na corrida rumo ao Palácio da Cidade: o vice-governador Luiz Paulo Conde, que sugerira a construção de muros para conter o crescimento das favelas e impedir a invasão de traficantes. O prefeito afirmou que a medida criaria um parque temático das drogas e Conde se disse arrependido da proposta.

- A governadora, depois de um excesso no tratamento de emagrecimento, está al mare (sem rumo, desorientada). Estamos com um conjunto de autistas - afirmou Cesar anteontem.

Rosinha saiu do silêncio ontem para atacar. Em entrevista à rádio CBN, ela escolheu Cesar e o governo federal como alvos. Chamou a União de omissa na repressão à violência e acusou a gestão Lula de não ter cumprido os acordos firmados com o estado:

- No ano passado, foi criado o gabinete integrado para trabalharmos em parceria, e para quê? Nós mandamos o projeto no ano passado e o dinheiro não chega.

A governadora disse que a ocupação ilegal do solo e o crescimento das favelas é uma responsabilidade da prefeitura.

- Faço um desafio: a prefeitura não deixa mais crescer favelas e o governo federal cuida das fronteiras, que o governo estadual vai desarmar o Rio - disse Rosinha.

Também no clima beligerante, o presidente do PT, José Genoíno, atacou para defender o governo federal das acusações de Rosinha:

- A política de segurança do governo do Rio foi para o buraco, fracassou. Fazer da política de segurança um espetáculo para a mídia não dá certo - disse Genoíno.

Ele criticou Cesar Maia pelo pedido de decretação do estado de defesa:

- Uma boa política de segurança não se faz com barulho. O Cesar Maia não deve saber que o estado de defesa implica a suspensão das garantias individuais e do direito de reunião - afirmou Genoíno.
COLABORARAM: Helena Chagas e Ilimar Franco

Palavras-chave: Guerra; Rocinha; Garotinho; Tráfico; Segurança; Estado de defesa

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