A quem interessa?

O agronegócio brasileiro, liderado pela agricultura, vem se constituindo no principal suporte da economia, tanto no tocante à geração de renda, como especialmente em relação ao resultado positivo da balança comercial.

Fonte: Folha de S. Paulo

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O agronegócio brasileiro, liderado pela agricultura, vem se constituindo no principal suporte da economia, tanto no tocante à geração de renda, como especialmente em relação ao resultado positivo da balança comercial. Os fortes investimentos dos setores público e privado em tecnologia, insumos, máquinas, financiamento e logística movimentam um grande número de setores que, em conjunto, respondem por cerca de 37% do PIB e 44% das exportações, segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Seria de esperar que esse importante segmento da economia fosse colocado em posição de destaque na política governamental, procurando remover obstáculos à sua expansão, como os gargalos da infra-estrutura, que reduzem a competitividade do produto agrícola nacional, ao onerar excessivamente os custos de transporte, e apoiando a agricultura de acordo com seu relevante papel econômico e social.

Infelizmente não é o que se observa, pois a agricultura vem sendo prejudicada pela ação ou omissão de algumas áreas do governo que, em vez de darem o apoio que seria esperado e devido, agem em sentido contrário ao desenvolvimento do setor e, conseqüentemente, do país. Basta verificar o que está acontecendo com a questão dos transgênicos, cuja regulamentação vem sendo debatida no Congresso e que, após negociações que conduziram a um texto equilibrado de autoria do atual ministro Aldo Rebelo, passou a ser contestado pelo Ministério do Meio Ambiente, que defende posições altamente negativas não apenas em relação à soja, mas para o desenvolvimento da pesquisa genética nacional.

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A agricultura vem sendo prejudicada pela ação ou omissão de algumas áreas do governo
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Não bastasse a atuação do MST invadindo propriedades rurais ao longo dos últimos anos, com a omissão, ou até o estímulo, de setores governamentais, verifica-se, agora, um movimento claramente orquestrado de invasões na área rural por grupos indígenas e uma posição unilateral dos órgãos públicos, que dialogam apenas com uma das partes, a dos invasores, sem levar em conta a situação dos legítimos proprietários.

Ao mesmo tempo, cria-se nova polêmica em relação à demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, que ocupará grande parte do território do Estado de Roraima, insistindo-se na demarcação de uma área contígua, que implica a destruição de cidades e a expulsão de um grande contingente de pessoas -inclusive muitos mestiços- da reserva, apesar da oposição de grupos indígenas que preferem a convivência com os atuais habitantes da região.

Em todos esses movimentos que afetam a agricultura brasileira nota-se o apoio, quando não a influência, de organizações não-governamentais estrangeiras, que não apenas exercem pressão, como financiam ações e manifestações, geralmente sob pretextos de defesa do meio ambiente, da inclusão social ou de uma "volta à natureza" da população indígena, que deve ser mantida em seu estado primitivo para deleite de alguns antropólogos que se beneficiam de todas as comodidades do progresso.

Não se discutem o patriotismo e a sinceridade de brasileiros que defendem essas posições, mas cabe indagar qual o real objetivo de alguns grupos estrangeiros que as incentivam. A quem realmente interessa dificultar o desenvolvimento da agricultura brasileira em um momento em que se discute o grande desafio que representa o ingresso da China, e também da Índia, como grande consumidora de alimentos, à medida que aumenta a renda per capta de suas gigantescas populações?

Enquanto o Brasil briga nos organismos internacionais para a redução do subsídio agrícola dos países industrializados, para poder ocupar seu lugar como o grande celeiro mundial, a agricultura sofre com esses problemas, que podem afetar os investimentos no setor. Será que as pressões e os financiamentos externos em apoio às invasões no campo, às restrições às pesquisas refletem movimentos desinteressados de caráter humanitário de organizações estrangeiras ou, em muitos casos, servem a interesses de concorrentes da agricultura brasileira no mercado internacional? Essas são questões que precisam ser debatidas sem preconceito ou xenofobia, mas com realismo, para que as posições e soluções em relação aos problemas enfrentados pela agricultura sejam fruto de um consenso interno e representem os legítimos interesses nacionais.

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Guilherme Afif Domingos, 60, é presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo) e da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

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