'A pessoa cometeu um erro, eu afasto', diz Lula

Segundo o presidente, não interessava a ele a divulgação de um dossiê contra os tucanos

Fonte: Estadao.com.br

Comentários: (0)




O candidato a reeleição à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse na manhã desta quinta-feira que no episódio de envolvimento de petistas e funcionários da presidência na tentativa de compra de um dossiê contra os tucanos, o papel do presidente da República é afastar pessoas. "Eu não posso julgar, eu não posso prender", disse Lula, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo. Durante o programa, o candidato disse ainda que quem tentou ajudar, não ajudou.

Sobre os afastamentos, Lula considerou ser necessários para a reta final de sua campanha. "A pessoa cometeu um erro, qualquer que seja ele, pequeno ou grande, eu afasto ele. A partir daí é o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça que vão tomar conta da situação. Não é o presidente da República. Até porque não é papel do presidente da República fazer julgamento", afirmou. "Quando eu afasto um companheiro como Ricardo Berzoini (da coordenação da campanha eleitoral), não é porque acho que ele tem culpa ou está envolvido. É porque eu não posso, faltando dez dias de campanha ter um coordenador que vai passar 10 dias respondendo pelo dossiê. Eu tenho que colocar alguém que coordena a campanha, que faça minha campanha. Por isso chamei o companheiro Marco Aurélio", disse, referindo-se ao seu assessor para assuntos internacionais, que assumiu a coordenação.

Ricardo Berzoini foi afastado na quarta-feira da coordenação da campanha à reeleição. Berzoini admitiu que tinha conhecimento de uma reunião entre um integrante da campanha de reeleição do presidente Lula - Oswaldo Bargas, responsável pelo setor de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula e ex-secretário do Ministério do Trabalho - e a revista Época.

Ato abominável

Lula disse também que considera abominável a utilização de dossiês para comprometer candidatos, como ocorreu recentemente, no episódio de dois petistas pegos em flagrante na tentativa de comprar documentos que poderiam comprometer os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin no esquema da máfia das ambulâncias. "Eu acho abominável, muito abominável, e tenho demonstrado isso ao longo da minha vida política", disse Lula.

Segundo ele, em 1989 "quando não faltaram aqueles que queriam que eu fizesse denúncias gravíssimas contra o Collor (Fernando Collor de Mello), de coisa que eu achava abominável que tinham acontecido na época", ele resolveu não fazer. O mesmo ocorreu, segundo Lula, em 1998, contra o candidato Fernando Henrique Cardoso.

"Não faz parte do meu currículo político, não faz parte da minha vida política e já fiz quatro eleições, ficar procurando coisa da vida dos outros para fazer campanha política. Eu quero debater idéias, debater programa", afirmou.

Para Lula, a busca de dossiês "só pode acontecer porque as pessoas são insanas quando têm esse comportamento político". "Eu estou numa situação altamente confortável na campanha política, faltam 10 dias para acabar a campanha política, não sei por que alguém haveria de querer um dossiê contra o governo de São Paulo; ou seja não era nem contra o Alckmin. Então, qual seria o interesse da minha campanha nesse negócio, a não ser que alguma pessoa achou que estava descobrindo a mina de Salomão?", questionou.

Para Lula é grave o envolvimento de pessoas de seu governo nessa questão. "É grave, lógico que é grave. O fato da pessoa fazer a investigação da vida dos outros, e sobretudo pagar. Você tem que partir do seguinte pressuposto: quando alguém oferecer uma maldade e pede por essa maldade dinheiro, essa pessoa não merece confiança. Esse é o princípio básico de quem tem que agir com honestidade, sobretudo de alguém, que participa de uma campanha como a minha", disse.

Segundo Lula, as pessoas envolvidas nesse episódio, ao receberem a proposta de compra do dossiê deveriam ter denunciado como ele fez, no dossiê das Ilhas Cayman para não prejudicar o segundo turno da campanha de Mário Covas ao governo de São Paulo. "Eu fiz questão de entregar para o Márcio Thomaz Bastos que chamou o candidato José Serra, que chamou o Mário Covas e entregou (o documento). Agora, se companheiros tiveram a ilusão de que estavam encontrando algo tão poderoso que poderia mudar o planeta terra, essas pessoas pagarão, porque eu quero saber quem é que deu dinheiro, se teve dinheiro, o que tem esse dossiê. Eu quero saber o que ele tem, por que ele valia tanto, por que tantas pessoas se envolveram numa coisa que para mim não tem nenhum sentido. Esse dossiê divulgado ou não, não me ajuda em um milímetro na campanha eleitoral. Eu quero saber, disse isso ao ministro da Justiça, eu faço questão que a Polícia Federal vá fundo, investigue as entranhas de tudo que aconteceu nesse processo, porque nós não podemos permitir que isso aconteça nas campanhas políticas."

Mercadante

O candidato a reeleição à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva disse que duvida e coloca "a mão no fogo" se o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Aloizio Mercadante, teria concordado com a compra de um dossiê para comprometer a candidatura do tucano José Serra. "Duvido que ele concordasse", reafirmou.

"Agora, meu caro, um cidadão está lá trabalhando, alguém fala: olha tem uma notícia que pode abalar o mundo. Então a pessoa deve ter pensado: eu vou descobrir ouro puro e vou ser famoso. Quebrou a cara! Quebrou a cara, porque quando o bandido tenta te procurar para alguma coisa, você tem que desconfiar do bandido", afirmou.

Lixo debaixo do tapete

O candidato a reeleição à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva disse que apesar das denúncias de corrupção, o seu governo "não joga o lixo debaixo do tapete". "Houve a concretização daquele denúncia, nós afastamos e investigamos a pessoa. Por isso nós reequipamos a Polícia Federal, preparamos melhor a inteligência da Polícia Federal, contratamos mais gente. Por isso o Ministério Público tem independência como jamais teve na história do Brasil para que possa investigar tudo o que acontecer", disse Lula.

"E é bom que seja assim, porque isso que aconteceu com esses meninos, hoje, pode acontecer com qualquer outra pessoa amanhã que seja acusada. Alguns obviamente serão inocentados, porque no Brasil nós precisamos ter em conta que não é pelo fato de sair a cara do cidadão no jornal, que ele já é culpado. Às vezes gostariam que fosse assim, mas graças a Deus nós temos uma nação republicana e a gente tem procedimentos que envolvem várias instâncias do Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal e aí você condena as pessoas", afirmou.

Jogo eleitoral

O candidato a reeleição à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva negou que tenha dito em Nova York, nesta semana, que havia interesse da oposição em "melar" o jogo eleitoral, com o episódio do dossiê para comprometer candidatos tucanos.

"Eu não disse isso. Eu apenas afirmei o seguinte: a quem interessa melar o processo eleitoral", afirmou Lula, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo. "Porque a mim não interessava. Como é que um candidato que tem 50% de votos já algum tempo, um voto que está praticamente fixado, 46 espontâneo; como é que um candidato que está prestes, com muita possibilidade de ganhar as eleições, que o meu adversário não está fazendo com que ocorra nenhum risco, qual é o interesse meu e da minha coordenação de fazer isso?", questionou.

Para o presidente o que aconteceu, no episódio do dossiê, "foi uma coisa imoral neste país para a campanha política".

Bolívia

Lula foi questionado pelos entrevistadores sobre sua política externa, principalmente sobre o segundo episódio envolvendo a questão do gás boliviano e sua ´política carinhosa´ para com Evo Morales. De acordo com o presidente, embora não goste de depender do gás do vizinho, Brasil e Bolívia têm interesses mútuos. Lula disse que o presidente boliviano Evo Morales garantiu que as partes chegarão a um acordo. ´A Bolívia só tem a ganhar com a parceria com o Brasil´, afirmou.

Palavras-chave: Lula

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/a-pessoa-cometeu-um-erro-eu-afasto-diz-lula

0 Comentários

Conheça os produtos da Jurid