Racismo nos EUA
Apesar da Idade Contemporânea ser definida como uma era tecnológica de grandes progressos em diversos ramos do conhecimento, pode-se perceber que tanto nos EUA como no Brasil assistimos eclodir nos derradeiros anos manifestações contra o racismo e a violência que atingem a população negra e mestiça. E, tais acontecimentos trazem enfoque sobre desigualdade racial que perdura nesses países desde os tempos coloniais. Apesar do mito da democracia racial, o racismo desde a colonização é um processo de constante segregação racial sendo fruto de influência europeia e que perpetua o preconceito mesmo diante de expressiva miscigenação étnica. Ainda, no século XXI, se faz necessária a discussão sobre o racismo para se encontrem soluções que assegure, sobretudo, a proteção da dignidade humana. De fato, o problema existente entre raça e sociedade é psicologicamente complexo, não sendo biológica sua origem, portanto, só pode ser social.
A segregação racial nos EUA
teve princípio depois da Guerra Civil e, com a consequente abolição da escravidão
no Sul dos EUA, na segunda metade do século XIX. Na Idade Contemporânea, a
segregação racial pode ser tida como tipo de política de Estado com o fito de
separar os indivíduos ou grupos de indivíduos de uma mesma sociedade por meio
de critérios étnicos.
Tal medida passou a ser
executada a partir do final do século XIX e teve maior vigor no século XX, em
países como a Alemanha nazista, com o antissemitismo, a África do Sul, com apartheid[1]
e, também nos EUA.
Nos EUA é necessário relembrar
o processo de formação desse país, as diferenças básicas entre o Sul e o Norte.
Inicialmente, os EUA foi formado por colonos ingleses que deram origem às
chamadas Trezes Colônias na costa leste dos EUA. Porém, as colônias do Sul
tiverem desenvolvimento diferente daquelas do Norte.
Pois ao Norte tinha-se o
modelo de pequena propriedade privada, trabalho livre e assalariado. Já no Sul
prevaleceu o modelo da grande propriedade de terras e da escravidão e da
monocultura (chamada de plantation). Prevalecia o trabalho escravo que
era executado por escravos negros vindos do continente africano.
Durante o tempo em que
perdurou a escravidão ao sul dos EUA, os negros eram, bem como no Brasil,
considerados mercadoria de seus donos e, não pessoas portadoras de direitos.
Somente com o fim do modelo
econômico escravocrata no sul dos EUA, com o fim da Guerra Civil[2] que ocorreu entre 1861 a
1863, deu-se o conflito entre os Estados do norte, ou união, comandados pelo
então presidente Abraham Lincoln[3] e, os autoproclamados
Estados Confederados do Sul que pretendia fundar uma confederação separatista.
Depois da guerra, iniciou-se
uma reconstrução dos EUA e a reincorporação dos Estados do sul ao resto do
país. E, ao fim das décadas de 1860 apareceram as primeiras implantações de
políticas segregacionistas.
E, muitos brancos sulistas não
aceitavam que os negros mesmo os recém-libertos, tivessem os mesmos direitos e
ainda ocupassem o mesmo espaço que eles. Quando a guerra terminou em 1865 foi
fundada a seita Ku Klux Klan[4]
por um ex-combatente sulista chamado Nathan Bedford Forrest. De fato, a polícia
da União sufocou os primeiros levantes de ação violenta da Klan contra os
negros. Porém, no início do século XX, a seita voltou a ter força contando com
milhares de adeptos.
A respeito da implantação de
leis segregacionistas nos EUA o historiador e palestrante Leandro Karnal, in
litteris informou:
“Leis de segregação racial haviam feito
breve aparição durante a reconstrução, mas desapareceram até 1868. Ressurgiram
no governo de Grant, a começar pelo Tennesse, em 1870: lá, os sulistas brancos
promulgaram leis contra o casamento interracial. Cinco anos mais tarde, o
Tennessee adotou a primeira Lei Jim Crow e o resto do sul o seguiu rapidamente.
O termo “Jim Crow”, nascido de
uma música popular, referia-se a toda lei (foram dezenas) que seguisse o
princípio “separados, mas iguais”, estabelecendo afastamento entre negros e
brancos nos trens, estações ferroviárias, cais, hotéis, barbearias, restaurantes,
teatros, entre outros. Em 1885, a maior parte das escolas sulistas também foram
divididas em instituições para brancos e outras para negros. Houve “leis Jim
Crow” por todo o sul. Apenas nas décadas de 1950 e 1960 a suprema Corte
derrubaria a ideia de “separados, mas iguais”. (In: KARNAL, L. História
dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007).
De fato, os entraves sociais
provocados pelas leis segregacionistas nos EUA e o violento racismo destas
decorrentes só começariam, a serem parcialmente resolvidos através dos
movimentos de luta pelos direitos civis dos negros e, um desses líderes foi
Martin Luther King Jr.
No Brasil, oficialmente as
instituições e o governo negam a existência de racismo no país, mas a cor da
pele é tida como pelo resto da sociedade como um fator de impactos profundos. O
tratamento diferenciado oferecido aos brancos e negros, nos EUA, também existe
no país. E, apesar de tudo, há específicas peculiaridades e, mesmo a justiça
racial possui mais pontos convergentes do que divergentes.
Apesar de que ambos foram
colonizados por grupo de colonos europeus que devastaram os indígenas[5] e que exploraram a mão de
obra africana e, criaram sistemas de identidade racial para promover as noções
de supremacia branca. Uma das principais conexões é a escravidão oriunda do
colonialismo europeu que posicionou a inferioridade no cerne do racismo negro
e, na concepção de que os negros não têm histórica.
Em verdade, a narrativa
supremacista vem apagando as histórias de populações negras inteiras vindo
mesmo desumanizar tais indivíduos que até hoje vivem às margens da sociedade.
E, as manchetes confirma que pessoas negras são assassinadas com habitualidade
nas favelas brasileiras e, assassinadas pela polícia americana como foi o caso
George Floyd[6].
Afinal, são tidos como descartáveis para a estrutura racista de países
colonizados pela supremacia branca.
Apesar de existirem camadas
sociais sobrepostas entre os países e as culturas diferentes que acarretaram a
defesa por especialistas pela internacionalização da luta racial e, todos os
movimentos devem voltar seus olhos para a África e entender sua história,
porque senão a própria lógica do racismo que pode nos confundir.
Outra questão é a própria
noção de raça ou etnia[7] que é sempre relacional.
Pois, para uma pessoa ser considerada como branca no Brasil diferente do que
seja considerada branca nos EUA, é o que chamam mindset[8]
racial. A supremacia branca é nutrida por pessoas guiadas por sua
ignorância e, isso se resolve, a priori, com a educação.
Por essa razão é que muitos
professores defendem a ideia de haver um mês a ser dedicado à pauta racial e,
debater sobre o tema. Somente pela educação e a revisão história que se poderá
erguer uma equidade racial, pois por enquanto ainda há o privilégio em cada
sociedade a propiciar a segregação.
Não obstante a retórica em
sentido contrário, os documentos fundacionais dos EUA apontam para o racismo
desde sua fundação. Somente em 2017, a primeira negra passou a ocupar o cargo
de Secretária do Estado, Condoleezza Rice[9] que apontou que os EUA
surgiram com um defeito de nascença: a escravidão. (In: Programa Sunday
Morning, da CBS, 7.5.2017).
Por mais de dois séculos e
meio as elites brancas deliberadamente construíram e sustentaram uma sociedade baseada
na supremacia branca.
Os primeiros colonos vindos da
Europa desenvolveram uma nação colonizada através do genocídio contra os povos
indígenas da América do Norte, confiscando forçosamente suas terras, bem como,
de forma engenhosa, roubando-as e destruindo nações.
Esse foi o destino daqueles
que chamávamos de “índios”[10] (basta ver os horrendos
erros de navegação do infame Cristóvão Colombo) bem como dos mexicanos, que
tiveram porções do México forçadamente anexadas por colonos europeus.
Tais terras roubadas foram,
aos poucos, incluídas na “nova” nação, ainda que as pessoas de tais terras não
fossem bem-vindas, exceto se pudessem ser escravizadas e forçadas a trabalhar
em prol dos colonizadores.
Assim, eles passaram a chamar
a si mesmos de brancos e a criar raças para os outros, cuja exclusão de seu
regime desejavam. Além disso, africanos foram transformados em negros ao serem
retirados de seu continente e transportados para a América em navios negreiros,
acorrentados e forçados a trabalhar como escravos sem qualquer compensação e,
isso continuou por dois séculos e meio.
A riqueza da nação foi
constituída à medida que as elites brancas exploravam econômica, social e
politicamente aqueles definidos como não brancos.
Em suma, os colonizadores
europeus cunharam raças, para si mesmos e para outros seres humanos, criando
sua própria supremacia branca, à medida que construíam uma hierarquia racial,
sujeitando a ela todos os demais.
Raça é um sistema de
classificação humana que objetiva classificar humanos em categorias distintas
de acordo com uma constelação de traços físicos, cognitivos e culturais, cuja
existência se acredita ser hereditária, distintiva e largamente inescapável.
Contudo os seres humanos não
podem ser classificados dessa maneira. Não vivemos o suficiente em nosso planeta
para terem surgido as diferentes subespécies que atualmente chamamos de raças.
Não há traço biológico ou
genético que marque definitivamente um indivíduo como membro de um grupo racial
em detrimento de outro; tampouco há qualquer outra característica que
identifique todos os membros de um único grupo racial como distintos de todos
os outros grupos raciais.
De fato, mais de 100 (cem)
anos de evidência científica demonstraram que raças humanas (por exemplo,
subespécies raciais atreladas a um fenótipo e outras características genéticas
ou biológicas) não existem.
A crença na possibilidade de
se categorizar cientificamente seres humanos (por exemplo, o racialismo) deriva
da fé no positivismo (a crença que o conhecimento advém de métodos científicos
que podem ser aplicados, de modo preciso e empírico, ao comportamento humano).
Todavia o positivismo é apenas
uma crença, tal como o é o racialismo; nenhum desses sistemas de crenças pode
apresentar a ideia de raça como cientificamente válida.
As inequidades raciais
norte-americanas são evidentes quando a vida começa e continuam presentes ao
longo da vida dos seres racializados. Logo, faz sentido começar a tratar das
desigualdades raciais no nascimento e na morte.
Na capital do país, Washington
DC, o distrito mais pobre (Ward 8, onde residentes negros são
maioria) tem uma taxa de mortalidade infantil que é 10 vezes maior que aquela
observada no distrito mais rico (Ward 3, com residentes
predominantemente brancos).
Na costa oposta, em São
Francisco, mães negras têm 8 vezes mais chances de sofrer com a morte de seu
filho recém-nascido do que as mães brancas. Tem se tornado claro que a razão de
tal disparidade se vincula a uma questão de racismo, não sendo apenas
decorrente do fato de elas se situarem em classificações raciais distintas.
Em que pese a taxa de
mortalidade infantil geral ter caído desde 1950, a diferença entre a
mortalidade infantil de negros e brancos, em verdade, cresceu nas quatro
décadas subsequentes (Singh; Yu, 1995) e chega, agora, à situação na qual um
número 50% maior de crianças negras morre no primeiro ano de vida, em
comparação com o de crianças brancas.
Nos EUA, raças têm vidas
segregadas, e todas as grandes cidades nos EUA são hipersegregadas,
significando dizer que a segregação racial é claramente evidente,
independentemente de como seja medida.
A segregação é um fator que
contribui para uma série de problemas, dentre eles o não menos importante
racismo do meio ambiente, uma vez que, quando comparados aos brancos, os negros
sofrem com maiores níveis de exposição a toxinas, tanto em razão da segregação
geográfica, quanto pelo fato de empresas poluírem mais em áreas habitadas por
pessoas negras.
Negros norte-americanos sempre
participaram de protestos individuais e coletivos contra a opressão racial. A
resistência negra à escravidão teve início dentro de navios negreiros, durante
a passagem transatlântica.
Nos navios, traficantes de
escravos e seus vigilantes tinham de se manter sempre alertas para prevenir
rebeliões e controlar aquelas que se iniciavam em condições desafiadoras. Em
muitos casos, escravos rebelados tomavam os navios negreiros, matavam
traficantes brancos e retornavam à África.
Alguns navios vagavam
eternamente no mar quando rebeliões os tiravam de curso. Também era comum que
escravos se jogassem no mar, optando pela morte em vez da escravidão em uma
terra desconhecida.
Certamente, o protesto negro
contra a escravidão nasceu dentro de navios negreiros, pois sua carga humana
lutou implacavelmente pela liberdade.
Mesmo após a libertação,
contudo, a autodeterminação provou ser algo difícil, uma vez que as severas
construções raciais da Era Jim Crow substituíram a escravidão, colidindo com os
sonhos de liberdade dos ex-escravos.
Como afirmou Du Bois, o regime
Jim Crow era a escravidão com um novo nome. No breve período da Reconstrução
Pós-Guerra Civil (de 1863 a 1877), um enorme número de ex-escravos foi deixado
indefeso, sem armas, terras, riqueza, renda ou abrigo.
Após a guerra, o governo
nacional retirou as forças que protegiam os escravos, deixando a aristocracia
branca sulista perdedora livre para recapturar ex-escravos e forçá-los ao
trabalho com novas formas de extrema exploração econômica, política e social.
O regime Jim Crow permitiu que
brancos capitalistas do Sul levassem os negros de volta às plantações,
forçando-os a trabalhar em troca de uma compensação que mal gerava uma renda de
subsistência, num sistema de débito servil.
Como possuidores de fração da
terra cultivada, os antigos escravos ficavam endividados perante seus antigos
senhores, presos num sistema de contabilidade que tornava impossível o acúmulo
de dinheiro suficiente para se tornarem economicamente independentes ou
providenciarem abrigo e comida de forma adequada às suas famílias.
Sob o regime Jim Crow[11], as elites brancas
prosperaram, e as classes trabalhadoras brancas continuaram a servir como
intermediárias raciais, possuindo uma renda um pouco maior do que aquela obtida
por negros.
Tais disparidades raciais de
renda e o bônus do privilégio racial foram suficientes para desencorajar a
união entre trabalhadores brancos e negros em uma classe.
O regime em questão
correspondia a um sistema tripartite de dominação, uma vez que controlava os
negros política, social e economicamente. Durante as nove décadas do regime Jim Crow, os
negros do Sul não possuíam direitos políticos que os brancos devessem
respeitar.
A exclusão dos negros
significava que eles não podiam participar como jurados em júris populares, nem
eleger membros da classe política. Sem direitos políticos, as pessoas negras
não podiam proteger seus interesses.
Além disso, estas eram constantemente
restringidas, política e socialmente, por ameaças constantes de terror,
inclusive linchamento.
A evidência da longa história
de protesto negro, que teve início antes da introdução da negritude, passando
pelo movimento moderno de direitos civis, levou Morris (1984) a concluir que a
comunidade negra é parte de uma duradoura tradição de protesto.
A partir de tal tradição,
emergiram grandes organizações de protesto, incluindo o Movimento Niágara[12], em 1905, a Associação
Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, em 1909, a Associação Unida de
Melhoria, em 1914, e o Movimento da Marcha em Washington, em 1941.
Em meados do século XX,
numerosas vitórias em pequena escala começaram a deteriorar as fundações do
regime Jim Crow. Uma intervenção direta,
na forma de ação afirmativa, era necessária para que fosse endereçada essa
privação e, em 1965, o Presidente Johnson apoiou sua adoção para que fossem
remediadas as dificuldades sofridas pelas pessoas negras, tendo afirmado:
"Mas Liberdade não é suficiente.
Não se podem varrer as cicatrizes de séculos ao dizer: ‘Agora vocês estão
livres para ir para onde quiserem, fazer o que quiserem, e escolher os líderes
que lhes agradam’. Não se pega uma pessoa que, por anos, ficou acorrentada e a
liberta, trazendo-a para a linha de início de uma corrida, dizendo: ‘Você está
livre para competir com todos os outros’, acreditando-se que tal situação é
justa. Assim, não é suficiente apenas abrir os portões da oportunidade. Todos
os nossos cidadãos precisam ter a possibilidade de caminhar por esses portões
(Johnson, 1965)".
O Movimento Black Power[13]
defendia o controle comunitário da polícia e o empoderamento econômico como
parte de sua luta para o ganho real de poder e para levá-lo às comunidades
negras. De tal forma, bem como de outras, ele era diferente de movimentos
anteriores e, de modo específico, contrastava significativamente com o
Movimento de Direitos Civis, não violento, pois o Black Power insistia na ideia
de autodefesa.
Durante esse período, um
grande número de rebeliões urbanas (negativamente rotuladas por brancos como
“motins”) ocorreu, geralmente em resposta à brutalidade policial perpetrada
contra vítimas desarmadas. O assassinato de líderes do movimento, incluindo
Malcolm X[14],
Luther King, e boa parte da liderança do Partido das Panteras Negras[15], também serviu para
incendiar o protesto negro.
Posteriormente, o Movimento Black
Power revelou a grande magnitude das disparidades raciais no Norte.
Formalmente, o regime Jim Crow pode não ter afetado o Norte, mas a segregação
racial e a opressão, de fato, encontravam-se espalhadas pelas cidades
nortistas. Tal como no movimento sulista não violento, o Movimento Black Power
obteve concessões do governo, apesar de ser difícil traçar sua origem
diretamente do movimento.
Nos Estados Unidos do século
XXI, a escravidão e a opressão legal do regime de Jim Crow estão rigidamente
proibidas por lei. De fato, a discriminação racial é amplamente considerada
como politicamente incorreta, mesmo no contexto atual, no qual a direita
intolerante tem tido mais espaço, em razão do apoio explícito e tácito do 45º
(quadragésimo-quinto) Presidente dos Estados Unidos.
A maioria dos brancos nos EUA
acredita que o racismo é uma coisa do passado e crê que ser chamado de “racista
branco” é algo inexprimível e horrível. Mesmo no ambiente mais gentil dos anos
de Obama, vimos negros ficarem bem atrás de brancos no que diz respeito às
chances de uma melhor qualidade de vida. Em outros termos, a desigualdade
racial institucionalizada é prevalente nos EUA, e talvez seja até óbvia.
Ainda assim, nos Estados
Unidos, não é fácil tratar do racismo de forma aberta. A desigualdade, o ânimo
e a violência racistas são amplamente difundidos, mas falar do assunto não é
algo tolerado.
Atualmente, encontros violentos
com a polícia advindos da sujeição criminal racial (racial profiling)
ocorrem diariamente durante atividades rotineiras, havendo problemas relevantes
raciais que necessitam ser resolvidos nos EUA do século XXI. A fim de proteger
os interesses de grupos dominantes, a vigilância e o policiamento dos pobres e
oprimidos constituem altas prioridades.
Atividades criminosas baseadas
em uma economia subterrânea compensam a inexistência de empregos viáveis, mas
também justificam (nas mentes dos brancos dominantes) os altos índices de
vigilância policial em comunidades negras e de cor, onde tais pessoas sofrem
com a sujeição criminal, e incessantes abordagens para revista (stop-and-frisk).
Essas práticas, conduzidas muitas vezes por policiais brancos, criam interações
hostis e até mesmo violentas entre agentes de controle social e pessoas de
cor.
Basicamente a diferente entre
o racismo brasileiro e o ianque é que esse é explícito enquanto o outro é
dissimulado é mais difícil de combater.
Em pleno século XX, o mito da
democracia racial gerou artificialmente a ideia de que havia harmonia entre as
raças no Brasil, mas em realidade jamais existiu.
Aliás, desde 1966, o dia 21 de
março ficou marcado como sendo o Dia Internacional pela Eliminação da
Discriminação Racial[16], porém, quase não é
lembrada, até o Velho Guerreiro, o adorável Chacrinha frisou a existência da
discriminação racial no país, quando detalhou ao mundo que havia proibição aos
câmeras de enfocarem diretamente o auditório, para que negros e negras não
fossem mostrados na telinha.
E, prossegue o país escondendo
a população negra que continua a liderar trágicas estatísticas, como as de
mortes evitáveis, desemprego, subemprego e de analfabetismo, entre outras.
A Constituição da República
Federativa Brasileira de 1988 também enfatiza o estabelecimento de direitos
iguais entre pessoas independentemente de qualquer elemento distintivo. O art.
5º da Constituição in litteris: “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Apesar de não mencionar
diretamente a questão étnico-racial, o trecho citado do documento atesta que
não pode haver discriminação de qualquer natureza, ficando implícito que
discriminação racial não é permitida.
E, ainda há a previsão no
direito positivo brasileiro do crime de racismo e de injúria racial. Desde 12
de janeiro de 2023[17], com a sanção da Lei
14.532, a prática de injúria racial passou a ser expressamente uma modalidade
do crime de racismo, tratada de acordo com o previsto na Lei 7.716/1989. Até
então, a injúria racial estava prevista apenas no Código Penal brasileiro, com
penas mais brandas e algumas possibilidades que agora deixam de existir.
A mudança foi importante por
reconhecer que a injúria racial também consiste em ato de discriminação por
raça, cor ou origem que tem como finalidade, a partir de uma ofensa, impor
humilhação a alguém. A alteração legislativa acompanha recentes entendimentos
dos Tribunais Superiores que já vinham afirmando que o crime de injúria racial
não prescreve e que poderiam ser enquadrados como racismo.
Uma das alterações diz
respeito a não ser mais possível àqueles que cometem o crime de injúria racial
responderem ao processo em liberdade, a partir do pagamento de fiança arbitrada
pelo Delegado de Polícia – o que antes era possível.
Outra mudança importante é que
agora a injúria racial é um crime imprescritível, ou seja, a qualquer tempo,
independente de quando o fato aconteceu, o mesmo pode ser investigado e os
responsáveis processados pelos órgãos do sistema de justiça e, se condenados, receberam
as penas previstas na legislação.
Com o novo texto legal, a pena
prevista para o crime de injúria racial – caracterizado quando a motivação é
relacionada a raça, cor, etnia ou procedência nacional – que era de um a três
anos, passou a ser de dois a cinco anos de reclusão.
Também houve mudança para o
tratamento do chamado racismo recreativo, que consiste em ofensas supostamente
proferidas como “piadas” ou “brincadeiras”, em contexto ou com intuito de
descontração, diversão ou recreação, mas que tenham caráter racista. Para esses
casos, a pena foi aumentada de um terço até a metade, podendo ainda ser
agravada se cometida ou difundida por meio de redes sociais ou publicações de
qualquer natureza.
Os documentos citados são
ferramentas importantes para a construção de uma nação onde haja democracia
racial, no entanto, não basta a promulgação da lei, sendo necessário que ela
seja cumprida. Para além da discriminação e do preconceito racial, muito
precisa ser feito para que um país seja, de fato, considerado uma democracia
racial.
Devido ao fato de existir um
racismo estrutural[18] que segrega negros e
brancos em classes sociais diferentes, que dificulta o acesso da população
negra a serviços básicos de educação, saúde, segurança e ao emprego digno,
faz-se necessária a tomada de medidas de reparação histórica para que uma nação
seja, de fato, uma democracia racial.
Nos EUA, as disparidades
raciais em termos de renda, riqueza, bairros de residência, educação, pobreza,
encarceramento, saúde e expectativa de vida são gritantes. Ao observarmos os
dados, chegamos à conclusão de que a realidade de raças desiguais, enraizada na
escravidão racial, ainda permeia a sociedade norte-americana.
Ainda assim, muitos brancos
contemporâneos, especialmente aqueles em posições de elite, veementemente negam
a existência do racismo nos Estados Unidos, pois, para eles, a sociedade se
tornou indistinta quanto às cores das pessoas, tal como desejava Martin Luther
King Jr[19].
As “pessoas de cor”, por outro
lado, continuam a sofrer economicamente, vivenciam exclusão de registros
eleitorais, sofrem com negativas para votar em cabinas de votação, morrem nas
ruas nas mãos da polícia e do seu próprio povo, e se encontram presas nas
amarras da pobreza e do desespero.
A eleição de Donald Trump para
a presidência dos EUA estimulou brancos racistas a emergirem de cada canto da
sociedade, resistindo a quaisquer propostas que promovam mudança na questão
racial. Por certo, a violência racial branca e a intolerância são agora
abertamente demonstradas de modo jamais visto no passado recente.
Em razão de o sistema atual de
opressão racial, nos Estados Unidos, ter tais deletérios efeitos sobre pessoas
de cor, um acadêmico, totalmente ciente dos efeitos opressores da escravidão e
do regime Jim Crow, descreveu-o como produtor de uma nova baixa nas relações
raciais norte-americanas
"De fato, atualmente,
sobretudo no Brasil, a democracia racial é uma lenda. Boa parte do senso comum
afirma que no Brasil não há racismo, que nele há uma democracia racial pelo
fato de não haver uma divisão de raças tão forte quanto há nos Estados Unidos
atualmente." O que é puro engano ou cegueira séptica.
"De fato, dado o fim da
escravidão, pode-se constatar no Brasil a grande miscigenação entre negros de
origem africana, brancos de origem europeia e índios nativos das terras
brasileiras, o que difere nosso país de todos os outros territórios colonizados
no Ocidente. No entanto, o racismo persistiu ainda por muito tempo de maneira
descarada, pública e impune e, ainda hoje, persiste nos âmbitos privado e
público de maneira velada e estrutural."
A democracia racial é um termo
usado por algumas pessoas para descrever relações raciais no Brasil. O termo
denota a crença de alguns estudiosos que o Brasil escapou do racismo e da
discriminação racial.
Alguns estudiosos afirmam que
os brasileiros não veem uns aos outros através da lente da raça e não abrigam o
preconceito racial em relação um ao outro. Por isso, enquanto a mobilidade
social dos brasileiros pode ser limitada por vários fatores, gênero e classe
incluído, a discriminação racial é considerada irrelevante (dentro dos limites
do conceito da democracia racial).
O conceito foi apresentado
inicialmente pelo sociólogo Gilberto Freyre[20], na sua obra intitulada “Casa-Grande
& Senzala”[21],
publicado em 1933. Embora Freyre jamais tenha usado este termo nesse seu
trabalho, ele passou a adotá-lo em publicações posteriores, e suas teorias
abriram o caminho para outros estudiosos popularizarem a ideia.
O sociólogo Freyre também
argumentou que a miscigenação continuada entre as três raças (ameríndios, os
descendentes de escravos africanos e brancos) levaria a uma
"meta-raça". Questiona-se
muito o conceito de raça, visto que, do ponto de vista genético e graças à
análise do DNA, se sabe que os humanos têm entre si muito mais semelhanças do
que diferenças.
Mesmo assim, ainda costumamos
dividir a humanidade em raças com base nas características físicas de cada
povo. Isso é tão verdade que hoje, mais do que nunca, os negros procuram
afirmar-se como tal em sua luta contra o racismo e pela preservação de seus
valores culturais.
A teoria se tornou uma fonte
de orgulho nacional para o Brasil, que se contrastou favoravelmente com outros
países, como os Estados Unidos, que enfrentava divisões raciais que levaram a
significantes atos de violência.
Com o tempo, a democracia
racial[22] se tornaria amplamente
aceita entre os brasileiros de todas as faixas e entre muitos acadêmicos
estrangeiros. Pesquisadores negros nos Estados Unidos costumavam fazer
comparações desfavoráveis entre seu país e o Brasil durante a década de 1960.
Questiona-se se o Brasil é
mais racista que os EUA? E, destaca-se que as polícias brasileiras mataram seis
vezes mais que a polícia norte-americana em 2019, sendo que 75% das vítimas
eram negras.
E, os dados estatísticos
refletem encaminhamentos diferentes para a questão racial. Em suma, os dois
países possuem um passado de escravidão e, ainda hoje são estruturalmente
racistas. Porém, cada sociedade formou-se com valores diferentes.
E, lidam com a questão racial
de forma distinta, produzindo desdobramentos também muito particulares,
conforme aponta os historiadores e sociólogos e o advogado e filósofo Silvio
Almeida. Atualmente, treze por cento da população dos EUA é negra enquanto o
Brasil tem 55% de negros e mestiços segundo o último recenseamento do IBGE.
Para Silvio Almeida, se os
Estados Unidos pudessem ser retratados com um rosto humano, ele teria uma
grande cicatriz, resultado de um “corte civilizatório” importante para a
construção do nacionalismo estadunidense.
Ele se refere às leis de
segregação racial feitas após o fim da escravidão e da Guerra Civil e
reconhecidas pela Suprema Corte em 1896. “Na luta pelos direitos civis, eles
trataram o corte, mas nunca fizeram uma operação para dizer que esse corte não
pode continuar. Desinfeccionaram o corte, mas às vezes ele sangra. Não tiraram
a faca de dentro”, explica Almeida.
Além de ter sido o último país
das Américas a abolir a escravidão, em 1888, Brito destaca seu passado
monárquico. “O país funda as bases de sua sociedade a partir do privilégio. Nem
branco nem o preto foram educados como cidadãos dotados de direitos civis. O
policial no bairro de elite escuta ‘você sabe com quem está falando?’”.
Em termos legais, significa
que os “brasileiros nunca tiveram uma legislação segregacionista”. Em termos
práticos, contudo, a segregação racial sempre existiu, seja na proibição de
atletas negros em clubes de futebol no início do século XX, seja na perseguição
—esta sim institucionalizada durante décadas — da cultura negra e das religiões
de matriz africana, seja na falta de políticas públicas que deixaram a
população negra abandonada a própria sorte, explica Rios.
Nas palavras de Almeida, autor
do best seller “Racismo estrutural” (Editora Polén), “enquanto a
civilização como tal se entende nos Estados Unidos a partir de uma faca enfiada
e que não pode ser retirada”, no Brasil “alguém está enfiando a faca em você a
toda hora, está fazendo você sangrar, enquanto dizem ‘isso é coisa da sua
cabeça, não tem faca nenhuma’”.
Para Almeida, o Brasil
desenvolveu “um aparato de violência altamente repressivo, altamente
sofisticado”. O problema, portanto, não é que as instituições funcionem mal,
mas sim, que funcionem da forma que foram pensadas inicialmente. “O Estado
brasileiro é sensacional: consegue ao mesmo tempo criar um aparato de repressão
racializado que serve de modelo para outros lugares do mundo em termos de
violência, mas que aparece como se racializado não fosse.
Já na Era Vargas (1930-1945 e
1950-1954) consolidou a ideia de que o povo brasileiro é misturado e que somos
brasileiros. Os negros brasileiros sempre estiveram incluídos no discurso
nacional, ainda que de forma desigual. Não há a expressão afro-brasileiro. Por
conta da mestiçagem chegou a ser promovida a política pública de
embranquecimento da população e, as cotas sócioraciais[23] nas universidades
públicas são destinadas para pretos e pardos e, não propriamente para
afrodescendentes.
Lembremos que em 2008, Barack
Obama fora eleito o primeiro presidente negro dos EUA. Para muitos significou o
anúncio de uma nova era, sem as tensões raciais que tanto marcaram a história
do país.
A democracia nos EUA fora
comprometida por hierarquia racial estruturada desde o período da escravidão e
que ganhou novos contornos no período pós-abolição. Na primeira década do
século XX, as organizações políticas emergiram a partir de intensa migração de
negros para as cidades do Norte tais como Nova York, Chicago, Boston e Detroit.
E, os trabalhadores que fugiam da violência racial e da recessão nos Estados do
Sul contribuíram para o crescimento das comunidades negras situadas no norte do
país, que se transformariam em base de operação do ativismo negro.
Em 1980, o republicano Ronald
Reagan quando assumiu a Presidência da República com a promessa de severos
cortes de gastos, atingindo os programas sociais associados aos democratas. E,
obteve impacto negativo sobre as populações negra e pobre, forma criadas as
condições para uma guerra contra o tráfico de drogas. Reagan fez grande
investimento para reprimir o consumo e o comércio de drogas ilícitas,
contribuindo para o grande crescimento do encarceramento[24].
A eleição de Obama não inaugurou, infelizmente, uma era pós-racial, porém apenas revelou a realidade bem conhecida para os latino-americanos, na qual as práticas racistas são reproduzidas ainda que sem a existência e vigência de uma legislação segregacionista.
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Notas:
[1] O apartheid, ou "desenvolvimento separado das raças" em afrikaner, sistematizou, a partir de 1948, a segregação praticada desde o século XVII pelos primeiros colonos holandeses. "O Apartheid foi um regime político que ocorreu entre 1948 e 1994 na África do Sul. Esse regime foi sustentado por um partido de extrema-direita chamado Partido Nacional e se baseou no estabelecimento de uma legislação segregacionista, com o intuito de promover uma série de privilégios para a parcela branca da população. Esse sistema foi extremamente impopular, tanto na África do Sul quanto no exterior. Na África do Sul, ele se sustentou por décadas graças à censura e ao uso da violência por parte do governo. Movimentos de resistência foram formados, e um dos nomes dessa resistência foi o de Nelson Mandela. O Apartheid começou a ruir durante a presidência de Frederik de Klerk.
[2] A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, aconteceu nos Estados Unidos entre o Norte e o Sul do país e resultou no fim da escravidão em todo território americano. A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, foi um conflito que aconteceu entre Norte e Sul dos Estados Unidos entre 1861 e 1865. O Norte era industrializado e contrário à escravidão, enquanto o sul agrícola defendia o uso da mão de obra escrava. A guerra aconteceu entre 1861 e 1865, sendo vencida pelos estados do norte. A principal consequência dessa guerra foi a abolição dos escravos em todo território dos Estados Unidos. O fim da guerra aconteceu, finalmente, em 1865, com a derrota dos Estados Confederados da América (sulistas). Foi promulgada a 13ª Emenda Constitucional, reafirmando o fim da escravidão, e os Estados foram reintegrados à União.
[3]
Abraham Lincoln (1809-1865) foi um político norte-americano que serviu como o
16° presidente dos Estados Unidos, posto que ocupou de 4 de março de 1861 até
seu assassinato em 15 de abril de 1865. Lincoln liderou o país de forma
bem-sucedida durante sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana,
preservando a integridade territorial do país, abolindo a escravidão e
fortalecendo o governo nacional. Criado em uma família carente na fronteira
oeste, Lincoln foi autodidata, tornou-se advogado, líder do Partido Whig,
deputado estadual de Illinois durante a década de 1830 e membro da Câmara dos
Representantes por um mandato durante a década de 1840. Após uma série de
debates em 1858, que repercutiu em todo o país mostrando a sua oposição à
escravidão, Lincoln perdeu uma disputa para o Senado para seu arquirrival,
Stephen A. Douglas. Lincoln, um moderado de um swing state (estado decisivo),
garantiu a nomeação para a candidatura presidencial de 1860 pelo Partido
Republicano. Com quase nenhum apoio do Sul, ele percorreu o Norte e foi eleito
presidente. Sua eleição fez com que sete estados escravistas do Sul declarassem
sua secessão da União e formassem os Estados Confederados da América. A ruptura
com os sulistas fez com que o partido de Lincoln obtivesse amplo controle do
Congresso, mas nenhuma ação ou reconciliação foi feita. Em seu segundo discurso
de posse, ele explicou que "ambas as partes desprezavam a guerra, mas uma
delas faria guerra ao invés de permitir a sobrevivência da nação e a outra
aceitaria a guerra ao invés de deixar esta perecer, e veio a guerra".
Quando o Norte optou com entusiasmo pela união nacional, após o ataque
confederado no Forte Sumter, em 12 de abril de 1861, Lincoln concentrou os
esforços militares e políticos na guerra. Seu objetivo neste momento era unir a
nação. Como o Sul estava em rebelião, Lincoln exerceu sua autoridade para
suspender o habeas corpus para prender e deter sem julgamento e temporariamente
milhares de separatistas suspeitos. Lincoln lidou habilmente com um conflito
diplomático no final de 1861, evitando que o Reino Unido reconhecesse os
Estados Confederados como nação independente. Seus esforços para a abolição da
escravidão incluíram a assinatura da Proclamação de Emancipação em 1863,
encorajando os estados escravocratas de fronteira (border states) a
tornarem a escravidão ilegal e dando impulso ao Congresso para a aprovação da
Décima Terceira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que finalmente pôs
fim à escravidão, em dezembro de 1865.
[4]
Também conhecida como KKK, ou simplesmente "o Klan" é o nome de três
movimentos distintos dos EUA, passados e atuais e que defendem correntes
reacionárias e extremistas, tais como a supremacia branca, o nacionalismo
branco, a anti-imigração e, ainda, em iterações posteriores, o nordicismo, o
anticatolicismo e o antissemitismo, historicamente expressos através do
terrorismo voltado aos grupos ou indivíduos aos quais eles se opõem. Todos os
três movimentos têm clamado pela purificação da sociedade norte-americana e
todos são considerados organizações de extrema-direita. A primeira Ku Klux Klan
na verdade foi fundada pelo general Nathan Bedford Forrest da cidade de
Pulaski, Tennessee, em 1865 após o final da Guerra Civil Americana. Seu
objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por
exemplo, adquirir terras e ter direitos concedidos aos outros cidadãos, como
votar. O nome, cujo registro mais antigo é de 1867, parece derivar da palavra
grega kýklos (do grego κύκλος), que significa
"círculo", "anel", e da palavra inglesa clan (clã) escrita
com k. Devido aos métodos violentos da KKK, há a hipótese de o nome ter-se
inspirado no som feito quando se coloca um rifle pronto para atirar.
Provavelmente o nome também pode ter origem no nome de um templo maia, chamado kukulcán,
onde segundo os maias, "kukul" significa sagrado ou divino e
"can" significa serpente, mas não existem dados que comprovem isso.
[5]
Quanto a indígena, esse termo que normalmente usamos para nos referir aos
ameríndios (e olhe a palavra índio aí de novo, disfarçada!) nada tem a ver
etimologicamente com os índios. A palavra vem do latim, portanto já existia bem
antes de os europeus terem chegado à América, e significa simplesmente “natural
da terra, nativo”, do latim indu-, “dentro”, e geno, “nascer”. Ou seja,
indígena é quem nasceu dentro (do país). A semelhança fonética fortuita entre
índio e indígena foi um prato cheio para estabelecer-se a confusão e passar-se
a achar que só os habitantes originários do Novo Continente são indígenas.
[6]
Uma nova onda de protestos começou nos Estados Unidos após o assassinato por
estrangulamento de George Floyd por um policial branco, em 25 de maio. O
episódio teve impacto nos resultados na corrida eleitoral para a presidência
dos Estados Unidos. Segundo a imprensa internacional como consequência do
racismo, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil sem que a
questão racial seja analisada cotidianamente.
[7]
Esses dois conceitos (raça e etnia) são confundidos inúmeras vezes, mas existem
diferenças sutis entre ambos: raça engloba características fenotípicas, como a
cor da pele, e etnia também compreende fatores culturais, como a nacionalidade,
afiliação tribal, religião, língua e as tradições de um determinado grupo.
"Etnia" determina as características de um grupo por seus aspectos
socioculturais, principalmente ligado a um território (um lugar). Já a “raça” é
um conceito mais complexo. Definido inicialmente por critérios físicos ou
biológicos para diferenciar os indivíduos, foi ressignificado por movimentos
sociais para explicitar as desigualdades (raciais) existentes na sociedade.
[8] “Mindset de mudança é a capacidade para lidar com mudanças deliberadas ou involuntárias, aprendendo a reconfigurar a nossa mentalidade para responder aos desafios com mais consciência, agilidade e qualidade.” Enquanto o etnocentrismo designa uma classificação por etnia, o racismo parte da noção de “raça”, que foi construída socialmente ao longo dos anos, e defende a posição de que os diferentes grupos étnicos podem relacionar-se com as diferentes “raças”. A noção de raça já está em desuso no campo da antropologia e da sociologia, pois ela pretendia, quando surgiu, assumir a tese de que a espécie humana era classificada por diferentes raças hierarquizadas, de modo que algumas fossem superiores e outras inferiores. Na antropologia do século XIX, tentava-se associar o nível de desenvolvimento cultural com a “raça” (entendendo raça como um aspecto biológico), sendo que “culturas superiores” derivariam de raças superiores, e “culturas inferiores”, de raças inferiores. Essa visão, por ser etnocêntrica e ter como base o homem branco europeu, justificou, à época, a exploração dos povos africanos, asiáticos, indianos, e nativos da Oceania e das Américas, por parte dos europeus."
[9] Condoleezza Rice (Birmingham, 14 de novembro
de 1954) é uma diplomata e cientista política americana que é a atual diretora
da Instituição Hoover da Universidade de Stanford. Membro do Partido
Republicano, atuou anteriormente como a 66.ª secretária de Estado dos Estados
Unidos de 2005 a 2009 e como a 19.ª conselheira de segurança nacional dos
Estados Unidos de 2001 a 2005. Rice foi a primeira secretária de Estado
afro-americana e a primeira mulher a servir como conselheira de segurança
nacional. Até a eleição de Barack Obama como presidente em 2008, Rice e seu
antecessor, Colin Powell, eram os afro-americanos de mais alto escalão na
história do poder executivo federal (em virtude de o secretário de Estado estar
em quarto lugar na linha de sucessão presidencial). Na época de sua nomeação
como Secretária de Estado, Rice era a mulher de mais alto escalão na história
dos Estados Unidos a estar na linha de sucessão presidencial.
[10]
Índio: A palavra índio deriva do engano de Colombo que julgara ter encontrado
as Índias, o "outro mundo", como dizia, na sua viagem de 1492. Assim,
a palavra foi utilizada para designar, sem distinção, uma infinidade de grupos
indígenas; Gentio: O coletivo gentio foi utilizado pelos jesuítas. A palavra
índio tem a ver com a Índia, e a primeira das acepções desse vocábulo nos
dicionários é justamente “o mesmo que indiano” (em espanhol, até hoje, os indianos,
habitantes da Índia, são chamados de índios, e em inglês Indian significa
indistintamente “indiano” e “índio”). É que, segundo consta, ao chegar ao
continente americano, Cristóvão Colombo acreditava ter chegado às Índias. E
naquele tempo, Índias era a designação que os europeus davam não só à Índia
propriamente dita, mas a todo o sudeste asiático, daí o termo no plural.
[11] Jim Crow é um personagem de teatro - desenvolvido e popularizado por Thomas D. Rice (1808-1860) - e uma representação racista dos afro-americanos e de sua cultura. Rice baseou o personagem em um malandro popular chamado Jim Crow, que há muito era popular entre os escravos negros. Rice também adaptou e popularizou uma canção tradicional dos escravos chamada " Jump Jim Crow " (1828). O personagem se veste normalmente com trapos e usa chapéu de cama e sapatos rasgados. Rice aplicou maquiagem negra feita de cortiça queimada no rosto e nas mãos e personificou um afro-americano muito ágil e irreverentemente espirituoso, que cantou: "Venham ouvir todos vocês, galhas e meninos, vou cantar um pouco música, meu nome é Jim Crow, vamos lá e vire-se e vamos, então, é hora de eu pular Jim Crow. A origem real do personagem Jim Crow foi perdida para a lenda. Uma história afirma que é a imitação de Rice de um escravo negro que ele viu em suas viagens pelo sul dos Estados Unidos, cujo dono não era o Sr. Crow. De acordo com Conner, o estábulo de libré pertencia a um homem branco chamado Crow, cujo nome o escravo idoso adotou. Ele cantou uma música, 'I Turn About and Wheel About', e a cada noite compôs novos versos para ela, alcançando o público e fazendo um grande nome para si mesmo.
[12]
O Niagara Movement (Movimento Niagara) foi uma organização de direitos
políticos dos negros fundado em 1905 por um grupo liderado por W. E. B. Du Bois
e William Monroe Trotter. Foi nomeado em homenagem a Niagara Falls (próximo a
Fort Erie) pelo fato de lá ter sido o local do primeiro encontro do grupo. O
Movimento do Niágara publicou sua declaração de princípios em 1905. O documento
foi escrito em grande parte por Du Bois.
[13]
Black Power (em português: "poder negro") é um slogan político
e um nome para várias ideologias associadas que visam alcançar autodeterminação
para pessoas de ascendência africana. É usado principalmente, mas não
exclusivamente, por afro-americanos nos Estados Unidos. A expressão black
power (poder negro) foi criada por Stockley Carmichael, militante radical
do movimento negro nos Estados Unidos, após sua 27ª detenção, em 1966. “Estamos
gritando liberdade há seis anos”, anunciou Carmichael. “O que vamos começar a
dizer agora é poder negro.” Ex-dirigente do Comitê Coordenador dos Estudantes
pela Não Violência (SNCC – Student Nonviolent Coordinating Committee),
Carmichael escreveu o livro Black Power, em parceria com Charles V. Hamilton, e
foi um dos mais destacados militantes do Partido dos Panteras Negras (Black
Panther Party).
[14]
Malcolm X, mais tarde nomeado como Malik el-Shabazz, foi um afro-americano,
ativista dos direitos humanos, ministro muçulmano e defensor do Nacionalismo
Negro nos Estados Unidos. Fundou a Organização para a Unidade Afro-Americana,
de inspiração separatista. Malcolm X nasceu na cidade de Omaha, no estado de
Nebraska, em 19 de maio de 1925. Seu nome de registro era Malcolm Little e seus
pais chamavam-se Earl Little e Louise Little. Malcolm X (1925-1965) foi um
ativista norte-americano, um dos mais polêmicos e populares líderes do
movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Malcolm X nasceu
em North Omaha, Nebraska, Estados Unidos, no dia 19 de maio de 1925. Filho de
Earl Little, um pastor batista e trabalhador da Associação Universal para o Progresso
Negro foi assassinado quando Malcolm estava com seis anos de idade. Sua mãe
passou dificuldades para sustentar os filhos e pressionada por assistentes
sociais do governo para que seus sete filhos fossem levados para lares
adotivos, acabou sendo internada em um hospital psiquiátrico.
[15]
Os Panteras Negras foram um partido político norte-americano surgido em defesa
da comunidade afro-americana. Esse partido originou-se, a princípio, como um
grupo voltado ao combate contra a violência policial contra os negros durante a
década de 1960, no contexto do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.
Os Panteras Negras assumiram uma ideologia revolucionária que advogava pela
autodefesa armada dos negros contra a violência do Estado contra essa comunidade.
Eles possuíam um projeto de autogestão social, isto é, a comunidade
afro-americana deveria autogovernar-se, e defendiam a realização de projetos
sociais para atender os mais pobres. Os Panteras Negras sofreram
consideravelmente com a repressão do governo dos Estados Unidos. O FBI realizou
inúmeras ações para enfraquecer o grupo, que acabou desaparecendo na década de
1980. Um dos símbolos da luta dos Panteras Negras era o punho erguido para o
alto.
[16]
No dia 21 de março de 1960, na África do Sul, 20 mil negros protestavam contra
uma lei que limitava os lugares por onde eles podiam circular. A manifestação
era pacífica, mas tropas do Exército atiraram contra a multidão. O Dia
Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi criado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) e celebra-se em 21 de março em referência
ao Massacre de Sharpeville.
[17]
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta quinta-feira (28),
que o crime de injúria racial configura uma forma de racismo e é imprescritível.
Por maioria de votos, o colegiado negou o Habeas Corpus (HC) 154248, em que a
defesa de uma mulher condenada por ter ofendido uma trabalhadora com termos
racistas pedia a declaração da prescrição da condenação, porque tinha mais de
70 (setenta) anos quando a sentença foi proferida. Em novembro de 2020, o
relator do caso, ministro Edson Fachin, votou pela equiparação da injúria
racial (artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal) ao crime de racismo
(previsto pela Lei 7.716/1989). Portanto, entendeu que não há como reconhecer a
extinção da punibilidade a acusados por injúria racial. Afinal, o artigo 5º,
XLII, da Constituição, estabelece que "a prática do racismo constitui
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei". Vide in:
https://www.conjur.com.br/dl/fachin-hc-injuria-racial-imprescritivel.pdf]
Acesso em 8.5.2023. No mesmo sentido, a ministra Cármen Lúcia considera que,
nesse caso, o crime não é apenas contra a vítima, pois a ofensa é contra a
dignidade do ser humano. Ela ressaltou que, de acordo com o Atlas da Violência,
em 2018, os negros foram 75,7% das vítimas de homicídio. “Vivemos numa
sociedade na qual o preconceito é enorme, e o preconceito contra pessoas negras
é muito maior”, apontou.
[18]
Todo o racismo é estrutural porque o racismo não é um ato, o racismo é processo
em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de
determinados grupos que são identificados racialmente. Silvio Almeida “É
estrutural [o racismo] porque estrutura todas as instituições”, pontuou o
professor, que também é presidente do Instituto Luiz Gama e autor do livro “O
que é racismo estrutural?”, da coleção Feminismos Plurais, coordenada por
Djamila. “[Racismo estrutural] não é só uma questão moral, não é uma questão
jurídica, não é uma questão somente econômica”, continuou Silvio, lembrando que
o racismo está em todas as estruturas da sociedade.
[19]
Martin Luther King Jr. (nascido Michael King Jr.; Atlanta, 15 de janeiro
de 1929 — Memphis, 4 de abril de 1968) foi um pastor batista e ativista
político estadunidense que se tornou a figura mais proeminente e líder do
movimento dos direitos civis nos Estados Unidos de 1955 até seu assassinato em
1968. King é amplamente conhecido pela luta dos direitos políticos através da
não-violência e desobediência civil, inspirado por suas crenças cristãs e o
ativismo não-violento de Mahatma Gandhi. Liderou em 1955 o boicote aos ônibus
de Montgomery e posteriormente se tornou o primeiro presidente da Conferência
da Liderança Cristã do Sul (abreviado em inglês como SCLC). Como presidente da
SCLC, ele liderou sem sucesso em 1962 a luta contra a segregação em Albany, e
foi um dos participantes que organizaram os protestos não-violentos de 1963 em
Birmingham. King ajudou na organização da Marcha sobre Washington onde ele
ditou seu famoso discurso "Eu Tenho um Sonho" (em inglês: "I
Have a Dream") aos pés do Memorial de Lincoln. Em 14 de outubro
de 1964, King ganhou o Prêmio Nobel da Paz por combater o racismo nos Estados
Unidos através da resistência não-violenta. Em 1965, ele ajudou a organizar as
Marchas de Selma a Montgomery. Nos seus últimos anos, ele ampliou seu ativismo
contra a pobreza e a Guerra do Vietnã. O diretor do FBI J. Edgar Hoover achava
King um radical e fez dele alvo do programa de contrainteligência a partir de
1963. Os agentes do FBI o investigaram por possíveis laços comunistas,
ameaçaram tornar público suas supostas relações extraconjugais e o denunciaram
para agentes governamentais e, em 1964, mandaram a King uma carta ameaçadora
anônima, o qual ele interpretou como uma tentativa de alguém a incentivá-lo a
cometer suicídio. Antes de sua morte, King estava planejando uma ocupação em
Washington, D.C., que seria denominada Campanha dos Pobres, quando ele foi
assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis. Sua morte causou forte reação e
foi seguida por manifestações em várias cidades dos Estados Unidos. Alegações
que o assassino convicto de King, James Earl Ray, ter sido coagido ou agido em
conjunto com agentes do governo persistiram por décadas após o tiroteio. King
foi premiado postumamente com a Medalha Presidencial da Liberdade e a Medalha
de Ouro do Congresso. O Dia de Martin Luther King foi estabelecido como feriado
em cidades e estados dos Estados Unidos a partir de 1971; o feriado foi
promulgado a nível federal por uma legislação assinada pelo presidente Ronald
Reagan em 1986. Centenas de estradas nos EUA foram renomeadas em sua honra, e
um condado em Washington foi dedicado a ele. O Martin Luther King Jr.
Memorial no National Mall em Washington D.C. foi inaugurado em sua
homenagem em 2011.
[20]
Gilberto de Mello Freyre foi um polímata
brasileiro. Como escritor, dedicou-se à ensaística da interpretação do Brasil
sob ângulos da sociologia, antropologia e história. Foi também autor de ficção,
jornalista, poeta e pintor. É considerado um dos mais importantes sociólogos do
século XX. Ele defendia a mestiçagem e a maneira de ser do português católico
em contraponto com o protestante inglês. Esta mistura de raças será decisiva para
construir uma sociedade diferente daquela existente dos países anglo-saxônicos.
"O antropólogo e sociólogo brasileiro Gilberto Freyre nasceu na cidade de
Recife, Pernambuco, em 15 de março de 1900. De família tradicional na sociedade
recifense, seu pai, Alfredo Freyre, era professor, advogado e juiz. Freyre
estudou no antigo Colégio Americano Gilreath, atualmente Colégio Americano
Batista, instituição de ensino tradicional dirigida por algum tempo por seu
pai. Freyre despontou-se desde cedo como um talento para a literatura e as
ciências humanas. Ainda no colégio, o sociólogo participou como editor e
redator do jornal O Lábaro, produzido pelo Colégio Americano Gilreath."
[21] Segundo Gilberto Freyre, a formação da
sociedade brasileira ocorreu no seio da unidade familiar – ou seja, na
casa-grande. Logo, não foi o Estado, a economia, ou o indivíduo desbravador que
colonizou as terras brasileiras, mas as famílias. Para o autor, as
casas-grandes eram tão coesas e organizadas que o rei de Portugal reinava no
Brasil sem precisar governar. A casa-grande era a residência dos senhores e
suas famílias, onde viviam também, cotidianamente, as pessoas escravizadas
trazidas forçadamente do continente africano. Centralizados na figura de um
patriarca, esses domicílios serviam como fortaleza, capela, escola, banco, e os
mortos eram enterrados em lugar próximo. A concepção racista perpetuada por
Gilberto Freyre levanta uma reflexão importante: a de que mesmo as relações
ditas afetivas e amorosas podem conter violências. Essa é uma constatação
relevante no Brasil, pois o mito da democracia racial prega que, supostamente,
só porque brasileiros, frequentemente, possuem pessoas de diferentes tons de
pele em suas famílias, não existiria racismo em suas relações.
[22]
A teoria mais difundida de Gilberto Freyre perpassou toda a sua obra. Em Casa
grande e senzala, ela começou a ser discutida, apesar de ainda não ter sido
enunciada. Era a teoria da democracia racial, criticada por defensores da luta
contra o racismo por apresentar-se como um mito de que havia democracia nas
relações entre senhores e escravos no período colonial. Para Freyre, a
miscigenação era um fator corroborativo para pensar-se em uma relação
democrática entre senhores e escravos, apesar da relação de escravidão
impregnada entre os dois."
[23]
A Lei de Cotas (prevê que 50% das vagas em universidades e institutos federais
sejam direcionadas para pessoas que estudaram em escolas públicas. Desse total,
metade é destinada à população com renda familiar de até 1,5 salário-mínimo per
capita. A Lei nº 12.711/2012, também conhecida como Lei de Cotas, determina que
metade das vagas de instituições de ensino superior públicas devem ser
destinadas a candidatos que estudaram os três anos do ensino médio na rede
pública. Em 2022, a Lei completou 10 (dez)anos.
[24]
A maioria, aproximadamente 75% dos negros norte-americanos teme que eles ou
alguém que amam sejam atacados por supremacista branco por conta de sua cor é o
que indica a Pesquisa do Instituto Ipsos para o jornal The Washington Post
divulgada em 21.05.2022. Outra pesquisa do Washington Post-Ipsos, realizada de
21 de abril a 2 de maio, indicou que 43% dos entrevistados brancos acreditam
que os Estados Unidos já fizeram o suficiente pela igualdade racial. Apenas 9%
dos entrevistados negros compartilham essa visão.