Muita gente quer conversar sobre sexo com os pais mas não tem abertura ou coragem para isso. Foi o que revelou a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, que ouviu 3.501 brasileiros de 15 a 24 anos e listou os dez assuntos que os jovens gostariam de discutir com os pais (ou responsáveis) e amigos. Segundo o estudo, 31% dos entrevistados desejam falar mais sobre sexualidade em casa. O assunto que os jovens brasileiros mais gostariam de discutir com os pais é futuro profissional (68%). Já com os amigos eles preferem tratar de relacionamentos amorosos (51%).

A pesquisa, a maior já feita no país sobre a juventude brasileira, foi uma iniciativa do Instituto da Cidadania (ONG fundada pelo presidente Lula) e ouviu jovens de todos os segmentos sociais. O estudo mostrou ainda que 30% dos entrevistados gostariam de discutir seus relacionamentos amorosos com os pais. Entre os jovens que sentem falta de mais abertura em casa está Rafaella Lessa, de 17 anos.

? Se eu brigo com um namorado não converso sobre o assunto com a minha mãe, que é muito fechada por causa da formação rígida que ela recebeu. Com o meu pai é um pouco menos difícil ? conta ela, que está no terceiro ano do Centro Educacional da Lagoa (CEL). ? Gostaria que fosse diferente.

Coordenador da empresa Criterium Assessoria em Pesquisas, que realizou o perfil da juventude, o cientista político Gustavo Venturi faz uma ressalva em relação à lista dos assuntos que os jovens gostariam de discutir com os amigos:

? Pelos resultados nós vemos que eles citaram assuntos que costumam falar e não os que gostariam de falar com os amigos. No caso dos pais, citaram o que gostariam de conversar, mas não falam ? diz.

Sem abertura para falar com os pais, Rafaella conversa sobre sexo e namoro com os amigos. Psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Márcia Ganime diz que é importante os pais darem espaço para os filhos falarem sobre sexo em casa.

? O adolescente já é naturalmente voltado para si mesmo por causa das transformações pelas quais passa. Eles têm dificuldade na hora de conversar sobre qualquer coisa com os pais, não só sobre sexo. Mas é importante que haja abertura ? afirma.

Márcia diz que é natural que os jovens conversem sobre sexo com os amigos.

? Afinal, eles estão passando pelas mesmas coisas. Cabe aos pais, no entanto, informar os filhos sobre prevenção, gravidez etc., pois muitas vezes os amigos não sabem do que estão falando ? ressalta.

Estudante de engenharia da PUC, Mila Simões, de 19 anos, também defende o diálogo entre pais e filhos. Ela acha que muitas jovens engravidam porque não conversam sobre prevenção em casa. Outro dado da pesquisa revelou que o assunto que os jovens têm mais vontade de conversar com os pais é futuro profissional.

? Nessas horas quem tem experiência ajuda mais ? diz Júlia Roiter, de 16 anos, aluna do segundo ano do CEL.

A desigualdade social e a pobreza estão entre os principais problemas brasileiros. Só 21% dos entrevistados, no entanto, costumam falar sobre esses assuntos com os amigos. Política (14%) e reforma agrária (4%) também estão em baixa.

Antonio Pedro Montera, Ivo Fontenelle e Cláudia Caleffi, também alunos do CEL, admitem que desigualdade social, pobreza, política e reforma agrária não fazem parte de suas conversas de dia-a-dia.

? Quase não falamos sobre essas coisas ? diz Antonio Pedro, de 17 anos, que está no terceiro ano e conversa sobre esportes com os amigos.

? Nós sentimos pena quando vemos alguém numa condição ruim, mas é só ? diz Ivo, que tem 16 anos e é aluno do segundo ano do CEL. ? A gente prefere falar de coisas que nos divertem.

Já a vestibulanda Cláudia, de 17 anos, diz que acha difícil discutir esses assuntos. Guilherme Amado, de 18 anos, estudante de comunicação social da PUC, conta que a história se repete com os seus amigos.

? Eles quase só falam de futebol, sexo e televisão ? reclama Guilherme, que diz se interessar por política.

Outro dado da pesquisa, porém, revelou que 45% dos jovens consideram desigualdade e pobreza o assunto mais importante a ser discutido pela sociedade. Rafaella, Mila, Júlia, Antonio Pedro, Ivo e Cláudia estão entre os 50% que disseram que a educação é o mais importante.

? A falta de educação agrava todos os outros problemas ? diz Mila.