O promotor Abner Castorino, que iniciou os debates no segundo dia de julgamento do casal acusado de matar duas crianças, apresentou uma carta escrita por um dos garotos e emocionou o júri composto por sete mulheres no Fórum de Ribeirão Pires, no ABC. João Alexandre Rodrigues, de 43 anos, e Eliane Aparecida Rodrigues, de 36 anos, teriam assassinado e esquartejado os filhos dele, de 12 e 13 anos, no dia 5 de setembro de 2008.

A carta foi escrita por João Vitor, o garoto mais velho, quando ele estava no abrigo sob cuidados do Conselho Tutelar. O adolescente fala de seus sonhos. “Queria ter uma vida tranquila. Queria ter minha mãe. Queria ver meu avô. Queria ser policial. Queria amar os outros e não ter inveja. Queria ter Deus no coração. Queria ter uma bicicleta”, dizia carta, de acordo com o promotor. Uma das juradas não conteve as lágrimas. Os garotos de 12 e 13 anos ficaram abrigados durante cerca de oito meses e retornaram a casa da madrasta em janeiro de 2008.

O promotor defendeu que, apesar dos maus-tratos e do abandono que sofreram, as crianças eram carinhosas. “Um deles tinha apelido de Risonho.(...) Mesmo com tamanho abandono, eram crianças amorosas. Buscavam a mãe biológica e tentavam a aproximação com o pai”, disse. O promotor também afirmou que as crianças relataram à diretora do colégio onde estudavam que “não confiavam em adultos”.

O promotor destacou trechos dos autos que narram várias agressões contra as crianças, apontou mudanças nas versões apresentadas pelo segurança João Alexandre Rodrigues e Eliane Aparecida Rodrigues. Ele enfatizou que depoimentos foram acompanhados por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da família dos réus, o que inviabiliza a tese de que teriam sido coagidos. Os réus foram submetidos a quatro exames cada um e em nenhuma ocasião qualquer tipo de lesão foi constatado.

Contra a madrasta, além das acusações de homicídio quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual, recai também uma acusação de que ela teria estimulado a saída dos garotos de casa, dias antes do crime. As crianças, ao serem encontradas perabulando em uma praça, disseram ter recebido dinheiro da madrasta para que eles fossem encontrar a mãe biológica.

O promotor também mostrou as fotos da reconstuição do crime, a faca e a foice utilizadas para matar e esfaquear as crianças. A mãe das crianças acompanha o segundo dia de julgamento.

Na tarde desta quinta-feira ainda deve ser ouvida a defesa do casal. Em seguida, o júri se reúne para decidir se o pai e a madrasta das vítimas são culpados ou não pelas mortes. A sentença deve ser anunciada ainda nesta quinta.