Para Luciano Castilho, anticolonialismo de Furtado é inspirador

Ministros do Tribunal Superior do Trabalho prestaram homenagem póstuma ao economista Celso Furtado na abertura da sessão de Dissídios Individuais 1 (SDI 1).

Fonte: Notícias do Tribunal Superior do Trabalho

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Ministros do Tribunal Superior do Trabalho prestaram homenagem póstuma ao economista Celso Furtado na abertura da sessão de Dissídios Individuais 1 (SDI 1). O vice-presidente do TST, ministro Ronaldo Lopes Leal, que presidiu a sessão, ressaltou a importância do pensamento de Furtado na história do País e o pesar pela morte dele.

Coube ao ministro Luciano de Castilho destacar a trajetória de Furtado, ?um dos maiores intelectuais brasileiros?. O ministro descreveu as principais idéias do economista, sempre vinculadas à busca de um projeto de desenvolvimento nacional inspirado nas peculiaridades do País e não na trajetória histórica de outros países. Esse pensamento anticolonialista deveria também inspirar as mudanças do Direito do Trabalho no Brasil, disse Luciano de Castilho.

O ministro defendeu uma perspectiva brasileira para a reforma trabalhista e sindical, ou seja, da perspectiva da cultura e história econômica do País. ?O que temos feito, numa linha bem colonial, são reformas tendo em vista o que acontece em outros países do mundo, desconsiderando nossa realidade?, lamentou.

Segue a íntegra do texto do ministro Luciano de Castilho:

?Como é sabido por todos, faleceu, no último dia 20, Celso Furtado, um dos maiores intelectuais brasileiros.

Já em 1959 ? dando sequência aos estudos sobre a economia brasileira -, publicou o seu clássico Formação Econômica do Brasil, no qual, como ele mesmo disse, teve em mira apresentar um texto acessível ao leitor sem formação técnica, abrindo novas perspectivas para o conhecimento da História do Brasil, pois ?sem uma adequada profundidade de perspectiva torna-se impossível captar as inter-relações e as cadeias de causalidade que constituem a urdidura dos processos econômicos.? (op. Cit. Ed. Fundo de Cultura ? RJ- 2ª ed. Pp.9/10)

Seus estudos econômicos passaram a ser obrigatórios para os que estudavam as teorias do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. A novidade estava na explicitação de a economia também ter condicionamentos históricos. É o que ficou bem colocado no seu importante estudo ?O desenvolvimento e subdesenvolvimetno?, publicado em 1961 e recentemente republicado nos textos reunidos na comemoração dos 50 anos da Cepal.

Já àquele tempo Celso Furtado fixava o entendimento de que:

?Como fenômeno específico que é, o subdesenvolvimento requer um esforço de teorização autônomo. A falta desse esforço tem levado muitos economistas a explicar, por analogia com a experiência das economias desenvolvidas, problemas que só podem ser bem equacionadas a partir de uma adequada compreensão do fenômeno do subdesenvolvimento. A tendência ao desequílibrio no balanço de pagamento é daquelas que, à falta de um marco teórico adequado, mais tem sido incorretamente formuladas e mal interpretadas nos países de economia subdesenvolvida, como no caso do Brasil. ? (50 anos do pensamento da Cepal ? ed. Record.- 2000 ? p. 262)

Os estudos levaram o mestre a inquietantes interrogações como a seguinte, feita em 1964:

?Caberia perguntar: um sistema de poder orientado para a preservação do status quo tem condições para formular e executar uma política de desenvolvimento em um país em que o desenvolvimento requer necessariamente modificações na própria estrutura social?? (conf. Ver. Civilização Brasileira ? Ed. Civ. Brasileira ? nº 1 ? maçro de 1965 ? p. 144).

Esta visão histórica do desenvolvimento brasileiro sempre o levou a se insurgir contra o pensamento único de que nossa economia deve se basear na exportação e nos investimentos estrangeiros.

Em um de seus últimos livros, sob o título ?O capitalismo global?, publicado em 1998, ele doutrinou:

?Nossa política econômica deveria adotar como objetivo estratégico o crescimento do mercado interno, o que significa privilegiar os interesses da população. O componente principal do mercado interno é a massa salarial. A inserção internacional é importante por muitos motivos: pode completar nosso potencial de recursos naturais, dar maior flexibilidade ao sistema produtivo, facilitar o acesso a tecnologia de ponta, ampliar a oferta de poupança dentro de certos limites etc. Mas, numa economia com as características da nossa, tudo isso terá sempre um papel complementar. O essencial é o crescimento do mercado interno, o qual movimenta 90% da economia.

Só por ignorância ou má-fé pode se confundir essa opinião com a prédica tradicional do fechamento da economia. Durante o longo período em que o Brasil seguiu uma política de proteção de seu mercado interno as empresas transnacionais investiram fortemente no Páis, como exemplifica a instalação de uma grande indústria automobilística a partir dos anos 60. O objetivo imediato não era a competitividade internacional, o que explica o uso, em muitos casos, de equipamentos que não eram os mais modernos. Por essa forma, privilegiou-se o crescimento do mercado interno, objetivo de muito maior alcance social.

O crescimento econômico deve ser visto como um meio de aumentar o bem-estar da população e de reduzir o grau de miséria que pune parte dela?. (Furtado, Celso. O capitalismo global. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1998 ? p. 80)

Vladimir Safatle, sobre o mesmo livro e sobre Celso Furtado, afirma:

?Por outro lado, contrariando o tom modernidade triunfal reinante, Celso Furtado utiliza todo seu arsenal histórico para desvelar, na estrutura da globalização atual, uma espécie de grande salto para trás. Voltamos ao modelo do capitalismo original, cuja dinâmica se baseava nas exportações e nos investimentos estrangeiros. No caso brasileiro, isto traduz-se em uma instabilidade macroeconômica potencial. Assim, colocar a competitividade internacional como objetivo estratégico ao qual tudo se subordina é o caminho mais curto para a bancarrota?. (Safatle, Vladimir. (Sem título). In: Furtado, Celso. O capitalismo Global. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1998. Orelha)

Tudo o que falo sobre o grande brasileiro precisa ser compreendido pela Justiça do Trabalho. É preciso, quanto às reformas trabalhistas e sindicais, considerá-las numa perspectiva brasileira, levando-se em conta a nossa cultura e a nossa história econômica. O que temos feito, numa linha bem colonial, são reformas tendo em vista o que acontece em outros países do mundo, desconsiderando nossa realidade.

O pensamento de Celso Furtado animou uma mudança na política brasileira na última eleição presidencial, e o atual presidente da República, como afirmado em nota oficial, guarda os ideais do mestre.

Por último, deve ser ressaltado que, em 1964, o pensamento do professor Celso Furtado não mais servia ao Brasil que fazia uma caça aos subversivos. Ele teve seus direitos políticos cassados. Perseguido em sua terra, foi professor das universidades de Yale (EUA), Sorbonne (França), Cambridge (Inglaterra) e Columbia (EUA).?

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