Lula se contradiz sobre relação entre ex-diretor da Petrobras e ex-tesoureiro do PT

Ex-presidente prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, na quarta-feira (10). Ele falou por cerca de cinco horas.

Fonte: G1

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que depôs ao juiz Sérgio Moro em uma ação da Lava Jato nesta quarta-feira (10), entrou em contradição ao ser questionado se sabia da relação entre o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.


Lula disse primeiro que não tinha conhecimento da relação dos dois. Depois, ele admitiu que pediu que Vaccari intermediasse um encontro com Duque.


Moro chamou a atenção do ex-presidente com relação às declarações. Veja parte do trecho:


Sérgio Moro: O senhor Renato Duque tinha alguma relação com o senhor João Vaccari Neto?


Lula: Não sei.


Sérgio Moro: O senhor ex-presidente não tinha conhecimento de nenhuma relação entre os dois?


Lula: Eu sei que tinha porque na denúncia aparece...


Sérgio Moro: Não, na época dos fatos né?


Lula: Não.


Sérgio Moro: Salvo equívoco meu, senhor ex-presidente, há pouco eu perguntei se o senhor sabia se eles tinham alguma relação e o senhor falou que não. Então, o senhor tinha conhecimento que eles tinham alguma relação?


Lula: Eu pedi para o Vaccari se ele tinha como trazer o Duque para a reunião e ele disse que tinha. Isso não implica que ele tinha relação, implica que ele podia conhecer.


A Justiça liberou todos os vídeos do depoimento. Confira os principais pontos.


Lula é réu nesta processo e responde por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Ele é acusado de receber R$ 3,7 milhões em propina, de forma dissimulada, da empreiteira OAS. Em troca, ela seria beneficiada em contratos com a Petrobras. Segundo o MPF, o dinheiro foi destinado ao ex-presidente por meio do apartamento em Guarujá, no litoral de São Paulo, de reformas no imóvel e também com o pagamento da guarda de bens de Lula em um depósito da transportadora Granero.


Ainda durante o depoimento, Lula disse que no governo dele a nomeação dos diretores da Petrobras seguia a mesma lógica dos governos anteriores. O presidente nomeava indicados dos partidos políticos em busca de apoio no Congresso. Mas Lula negou que soubesse de irregularidades.


Moro, então, perguntou se Lula não se informava sobre o que ocorria no âmbito da Petrobras ou com os diretores que ele indicou. "O senhor acha que as pessoas falariam de propina?", rebateu o ex-presidente.


Ele detalhou que esteve pessoalmente com Duque uma vez no Aeroporto de Congonhas. "Porque tinha vários boatos no jornal de corrupção e de conta no exterior. Eu pedi para o Vaccari, porque eu não tinha amizade com o Duque, pra trazer o Duque para conversar e...", disse Lula.


O juiz questionou sobre quando aconteceu o encontro. Por sua vez, Lula disse que não se lembrava. "Ah, eu não tenho ideia, doutor. Eu não tenho ideia".


Moro perguntou a Lula se ele procurou algum outro ex-diretor da Petrobras com o mesmo propósito e ele negou.


"E por que o senhor procurou especificamente o senhor Renato Duque?", indagou Moro.


Lula respondeu que foi porque Duque tinha sido indicado pela bancada do PT.


Depoimento de Duque


Diante do juiz Sérgio Moro, na última sexta-feira (5), Duque acusou o ex-presidente Lula de ter recomendado que destruísse provas da propina recebida por petistas fora do Brasil no escândalo do Petrolão. Ele também relatou três encontros com o ex-presidente, entre 2012 e 2014, quando já não trabalhava mais na estatal e Lula não era mais presidente.


Duque afirmou que Lula determinou, por meio do ex-ministro Paulo Bernardo, que, a partir de 2007, a arrecadação de propina ao PT por meio de contratos da Petrobras fosse negociada com João Vaccari.


O ex-presidente, ainda de acordo com Duque, era chamado de Chefe, Grande Chefe ou Nine nas conversas, segundo o ex-diretor de Petrobras.


“Eu fui chamado a Brasília e essa pessoa [Paulo Bernardo] falou: ‘Olha, você conhece uma pessoa indicada pelo...’. Ele fazia esse movimento [Duque passa a mão no queixo], não citava o nome. O presidente Lula era chamado como Chefe, Grande Chefe, Nine ou esse movimento com a mão. Você vai receber uma pessoa que está sendo indicada e ele vai conversar com você. Ele vai ser, agora, quem vai atuar junto às empresas que trabalham para a Petrobras. Foi quando eu conheci o Vaccari, em 2007”.


Moro perguntou a Duque como ficou definido o pagamento de propina ao partido político pelos estaleiros. “Os 2/3 do partido político, Vaccari me informou que iriam para o Partido dos Trabalhadores, para José Dirceu e para Lula. Sendo que a parte do Lula seria gerenciada por [Antonio] Palocci”, afirmou o réu.


Próximos passos do processo


Após o depoimento de quase 5 horas de Lula, o processo no qual ele é réu chega à fase final. O ex-presidente foi o último réu a depor no processo. Agora, o Ministério Público Federal e as defesas dos envolvidos poderão pedir as últimas diligências. Caso isso não ocorra, o juiz Sérgio Moro determinará os prazos para que as partes apresentem as alegações finais.


Em seguida, os autos voltam para Moro, que vai definir a sentença, podendo condenar ou absolver os réus. Não há prazo para que a sentença seja publicada.

Palavras-chave: Operação Lava Jato Ação Penal Depoimento Petrobras Esquema de Propinas Triplex OAS

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