Familiares de vítimas da Boate Kiss querem Lei contra incêndios
Especialista em toxicologia afirma que Brasil não tem sistema eficiente para atender intoxicados por agentes químicos
Em audiência pública nesta segunda-feira (2), a CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa) do Senado Federal recebeu a sugestão de criação de uma lei nacional sobre prevenção e combate a incêndios e uma diligência da comissão para avaliar a atuação dos poderes públicos em Santa Maria (RS) depois da tragédia na Boate Kiss, localizada no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Para Valter Souza Capistani, vice-presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia na Boate Kiss, ilegalidade, irresponsabilidade e conivência de autoridades e empresários na concessão de licenças de funcionamento e em ações de fiscalização resultaram na tragédia. De acordo com ele, a imprensa também age para abafar o caso.
“Agentes e gestores públicos de todas as esferas públicas, sem nenhuma ética, tentam se livrar das responsabilidades usando as influências e a própria mídia. Alguns políticos, alguns empresários estão pedindo para a mídia dar uma abrandada, para a mídia esquecer” disse ele.
Adherbal Ferreira, presidente da associação, defendeu uma atuação preventiva para evitar outras tragédias semelhantes. Ele frisou que as aglomerações de pessoas sem o cuidados necessários podem acabar novamente em um desastre e acrescentou que continuam acontecendo irregularidades. “O desleixo, a desatenção, o jeitinho, continuam”, lamentou.
Em outubro deste ano, após atuação da Associação, o MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) decidiu reabrir o inquérito civil sobre o incêndio na Boate Kiss. Os familiares entregaram à promotoria documentos com indícios de que houve improbidade administrativa por parte da prefeitura de Santa Maria no caso.
Atendimento médico
Especialista em toxicologia, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Solange Garcia, relatou aos parlamentares que depois do incêndio na Boate Kiss outra tragédia começou: o atendimento médico-hospitalar às vítimas. Ela disse que o Brasil não tem um sistema eficiente para atender intoxicados por agentes químicos e sugeriu a criação de uma central de antídotos. A médica informou que a hidroxi-cobalamina, o antídoto ao cianeto, gás que intoxicou os jovens em Santa Maria, não existia no Brasil e foi preciso importá-la.
“Eu me colocava na situação dos pais que imaginavam que seus filhos estavam no hospital sendo adequadamente tratados quando, na verdade, o antídoto especifico para aquela intoxicação sequer existia no Brasil”, disse a especialista.
O representante do Ministério da Saúde, Paulo de Tarso Abrahão, informou que a política de antídotos já existe, e é preciso apenas atualizar a lista de medicamentos.