Dr. Web: "cliente sabe-tudo"

Francisco Carlos Távora de Albuquerque Caixeta, Advogado/PA. Artigo elaborado em 30 de outubro de 2007.

Fonte: Francisco Carlos Távora de Albuquerque Caixeta

Comentários: (0)




Francisco Carlos Távora de Albuquerque Caixeta ( * )

Ao se aproximar o término do primeiro decênio do século XXI, a sociedade está se conscientizando e tendo que lidar com os reflexos e desdobramentos do "boom" da Internet ocorrido na década de 1990. Destarte, não há como concordar com o "encerramento nominal" do "breve século XX" proposto por Eric Hobsbawm em seu livro "Era dos Extremos"(1).

Mesmo em um país como o Brasil, no qual ainda se discutem questões como inclusão digital, através da adoção de políticas públicas e medidas como os "computadores populares", é inegável a difusão e proliferação do acesso à Internet. Em decorrência disso, surgiu um fenômeno denominado "paciente sabido". Tal fenômeno que inicialmente se restringia apenas a área da Saúde, principalmente da Medicina, já se encontra em franca disseminação por outros segmentos de atividades profissionais, inclusive a dos operadores do Direito. Senão vejamos:

Faz tempo em que o paciente era mero ouvinte numa consulta médica e o facultativo senhor absoluto das decisões. Hodiernamente, o paciente lê artigos e reportagens sobre doenças e vai ao consultório com opiniões e perguntas pré-concebidas.

Esse quadro já vem se repetindo, guardadas as devidas proporções, com certos operadores do Direito, precipuamente, advogados. Atualmente, é "normal" um cliente chegar num escritório de advocacia contando seu problema, dizendo o que deseja que o advogado faça (sem saber se isso é legalmente possível) e questionado sua abordagem profissional.

Se por um lado isso é positivo, por outro pode ser um obstáculo, atrapalhando o trabalho do causídico. Quando o cliente confia no seu advogado, não tem receio de indagar e ambos se ouvem, o acesso à informação é salutar. Ademais, um melhor conhecimento sobre a situação pode acarretar menos ansiedade.

É notório que a internet oferece acesso irrestrito a todo tipo de informação, bastando procurar nos sites de busca. Todavia, nem todos os endereços eletrônicos são confiáveis. Existem sites tendenciosos, àqueles voltados à desinformação (até na forma de brincadeiras), e os já desatualizados. Portanto, ler tudo o que se vê pela frente, sem conhecimento técnico-jurídico nem espírito crítico e não ter coragem de a posteriori tirar as dúvidas com um profissional gera um efeito extremamente negativo. Isso também acontece quando o cliente troca informações com pessoas que estão passando pela mesma experiência e acredita inadvertidamente que a solução e o desfecho do problema do outro indivíduo têm que ser igual ao seu. Nesse contexto, várias vezes o cliente se desespera por não ter o panorama que o advogado pode lhe proporcionar.

Assim, o novo perfil de cliente requer do advogado uma postura mais aberta ao diálogo, pois uma simples pergunta pode esconder a angústia e o sofrimento causados por pesquisas efetuadas na web.

Portanto, ouvir a perguntas com atenção e responder com sensibilidade, respeito e humanidade é primordial. Eis um dos novos papéis do advogado: orientar seus clientes na busca por conhecimento em canais válidos e pertinentes. Os sites de instituições e órgãos públicos são sempre fontes de informações confiáveis e seguras.(2)

Em suma, a informação caso bem trabalhada só traz benefícios, não havendo motivos para se combater e depreciar o "cliente sabe-tudo" do Dr. Web.

À luz do exposto, conclui-se que na era da informação instantânea e petição digital, onde se almeja alcançar a maior celeridade processual viável, clientes e advogados precisam construir uma relação pautada na confiança para que o conhecimento disseminado em livros, revistas e internet acerca dos remédios jurídicos a serem empregados na solução dos casos concretos, venha a se constituir num aliado, e não num adversário na luta pela edificação de uma sociedade mais justa e democrática.

BIBLIOGRAFIA:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

TAVARES, Letícia. Paciente sabido. Einstein vida. São Paulo, p. 26-27, 2007.


Notas:

* Francisco Carlos Távora de Albuquerque Caixeta, Advogado/PA. Artigo elaborado em 30 de outubro de 2007. [ Voltar ]

1 - O referido Autor estabelece respectivamente como marcos históricos para o início e fim do século pretérito: a Primeira Guerra Mundial em 1914 e a queda do muro de Berlim em 1991.Voltar

2 - Hoje, o próprio cliente pode acessar (por intermédio de qualquer computador, inclusive de terminais localizados em Shopping Centers) o site dos Fóruns e Tribunais de Justiças para realizar consultas, acompanhar o trâmite de seus processos e assistir on-line e em tempo real a julgamentos. Voltar

Palavras-chave:

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/dr-web-cliente-sabe-tudo

0 Comentários

Conheça os produtos da Jurid