Defensoria Pública critica mudanças nas câmeras da PM em São Paulo
Defensoria Pública critica mudanças no uso de câmeras corporais pela Polícia Militar de SP, destacando impacto na transparência e proteção de direitos humanos.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo está preocupada com as mudanças nas câmeras da Polícia Militar. As novas regras podem prejudicar a transparência, dificultar a apuração de abusos policiais e enfraquecer a relação entre polícia e sociedade.
As câmeras corporais são uma ferramenta importante para registrar abordagens policiais e ajudar na fiscalização das ações de segurança pública. No entanto, a Defensoria aponta problemas graves no acesso às gravações e no funcionamento das câmeras, o que coloca em dúvida a eficácia do programa.
Câmeras corporais e a segurança pública
O uso de câmeras corporais ganhou destaque como uma forma de aumentar a transparência e coibir abusos policiais. Esses dispositivos registram imagens e sons durante abordagens, sendo essenciais para proteger tanto os policiais quanto os cidadãos.
As gravações podem ser usadas como provas em investigações e processos judiciais. Além disso, ajudam a construir uma relação de confiança entre a sociedade e os agentes de segurança.
No entanto, para que essas câmeras sejam eficazes, elas precisam funcionar corretamente e suas gravações devem estar disponíveis para órgãos de controle, como a Defensoria Pública. A falta de políticas claras e eficientes pode comprometer esses objetivos.
Pesquisa da Defensoria: falhas no acesso às gravações
Entre julho e novembro de 2024, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo realizou uma pesquisa para avaliar o acesso às gravações feitas pelas câmeras corporais da Polícia Militar. O levantamento analisou 457 solicitações de imagens relacionadas a abordagens policiais. Os resultados foram preocupantes:
- 48,3% dos pedidos não tiveram resposta. Isso significa que em quase metade dos casos não foi possível saber se as imagens foram gravadas ou se as câmeras estavam funcionando.
- Em 236 casos, houve resposta, mas apenas 100 gravações permitiram análise completa.
- Em 36% desses casos, os policiais não ativaram o áudio durante as abordagens.
Esses números mostram que as câmeras não estão sendo usadas de forma eficiente. Para a Defensoria Pública, a falta de uma política de gravação automática e ininterrupta é um dos principais problemas.
Obstáculos para a gravação
Além da dificuldade de acessar as imagens, a Defensoria identificou obstáculos no uso das câmeras. Em 68% dos casos analisados, houve problemas que impediram a gravação ou dificultaram o acesso às imagens.
Em um dos casos citados, um policial retirou a câmera de posição durante uma abordagem, impedindo o registro de momentos cruciais. Essa prática levanta dúvidas sobre a intenção dos agentes em evitar o registro de situações sensíveis.
A Defensoria também apontou que a falta de uma política de gravação contínua reduz ainda mais a quantidade de imagens disponíveis para análise. Isso prejudica a fiscalização das ações policiais e dificulta a defesa de pessoas que alegam abusos.
Mudanças no programa de câmeras corporais
Em setembro de 2024, o governo de São Paulo assinou um contrato para a aquisição de 12 mil novas câmeras corporais. As mudanças no programa incluem três formas de ativação das gravações:
- Proximidade Bluetooth: as câmeras próximas são ativadas automaticamente.
- Supervisão remota: um supervisor pode iniciar a gravação à distância.
- Acionamento manual: o policial decide quando começar a gravar.
O governo afirma que essas mudanças trazem avanços tecnológicos e aumentam a eficiência das operações policiais. No entanto, a Defensoria Pública considera que a dependência do acionamento manual representa um retrocesso.
Defensoria pede gravação automática
Para a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a gravação automática e ininterrupta é essencial para garantir a transparência e coibir abusos policiais. Quando os policiais podem decidir quando gravar, existe o risco de que momentos importantes não sejam registrados.
A Defensoria apresentou uma série de pedidos ao STF, incluindo:
- Exigir que as câmeras gravem de forma automática e contínua.
- Suspender mudanças que limitem o controle sobre policiais envolvidos em ocorrências graves.
- Nomear um Conselho da Ouvidoria para monitorar casos de abusos.
Essas medidas, segundo a Defensoria, são fundamentais para proteger os direitos humanos e fortalecer a segurança pública.
Resposta do governo de SP
O governo de São Paulo defende as mudanças no programa de câmeras corporais. Segundo a administração, as novas tecnologias são suficientes para garantir a transparência e melhorar as operações policiais.
O governo destacou que a gravação automática via Bluetooth e o acionamento remoto por supervisores são inovações que atendem às necessidades da Polícia Militar. Além disso, as novas câmeras foram adquiridas com base em diretrizes do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Apesar dessas justificativas, a Defensoria Pública argumenta que as mudanças deixam brechas para manipulações e falhas no registro de imagens. Para o órgão, as câmeras só serão eficazes se funcionarem de forma contínua e independente da ação dos policiais.
Impactos na segurança pública e nos direitos humanos
As mudanças no programa de câmeras corporais levantam preocupações sobre como isso pode impactar a relação entre polícia e sociedade. A falta de transparência pode enfraquecer a confiança nas forças de segurança e dificultar a apuração de abusos.
A Defensoria alertou que sem gravações automáticas e acessíveis, o programa pode perder sua credibilidade. Isso não apenas prejudica a fiscalização das ações policiais, mas também enfraquece os mecanismos de controle da ordem pública.
O papel das câmeras corporais na justiça e segurança pública
As câmeras corporais desempenham um papel importante na fiscalização das ações policiais e na proteção dos direitos humanos. Elas ajudam a garantir que as abordagens sejam feitas dentro da lei e podem servir como provas em investigações.
Para que essas câmeras cumpram seu papel, é essencial que:
- As gravações sejam automáticas e contínuas.
- As imagens estejam disponíveis para órgãos de controle, como a Defensoria Pública.
- Haja fiscalização independente do uso das câmeras.
Essas medidas podem fortalecer a confiança da sociedade na Polícia Militar e garantir mais justiça nas ações de segurança pública.
Medidas propostas para melhorar o programa
Especialistas sugerem algumas medidas para melhorar o uso das câmeras corporais:
- Gravação automática e ininterrupta: elimina a possibilidade de falhas ou manipulações.
- Treinamento para policiais: garante que os agentes saibam usar as câmeras corretamente.
- Acesso facilitado às gravações: aumenta a transparência e permite o monitoramento das ações policiais.
- Fiscalização independente: cria um controle externo para monitorar o uso das câmeras.
Com essas mudanças, o programa pode se tornar mais eficiente e confiável, beneficiando tanto os policiais quanto os cidadãos.
O debate sobre transparência e segurança pública
As discussões sobre o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar de São Paulo refletem a importância de transparência e eficiência em políticas de segurança pública. A análise da Defensoria Pública do Estado de São Paulo aponta desafios na implementação do programa, como dificuldades de acesso às gravações e limitações na gravação automática.
Por outro lado, o governo estadual defende que as mudanças tecnológicas introduzidas nas novas câmeras atendem às demandas operacionais e reforçam a eficiência das ações policiais. O equilíbrio entre inovação tecnológica e a garantia de transparência permanece no centro do debate, destacando a necessidade de políticas públicas que fortaleçam a relação entre a polícia e a sociedade.