RIO - Cidadãs brasileiras que esperaram dez anos por uma decisão da Justiça dos Estados Unidos estão revoltadas. Elas tiveram problemas com próteses de silicone e vão receber uma indenização bem menor do que as mulheres americanas.

Lindinalva da Silva Luz é uma das 1.050 brasileiras em que a prótese de silicone não deu certo: depois de três anos, o seio enrijeceu e saiu do lugar. Ela já passou por quatro cirurgias sem sucesso. Agora vai fazer mais uma.

- Eu tenho vergonha do meu marido, não vou mais à praia faz dez anos, porque tenho vergonha, mudou tudo pra mim - conta a manicure Lindinalva.

Foram tantas as ações, de 400 mil mulheres de 84 países, reclamando de danos sofridos, como artrite e até câncer, que a Dow Corning, empresa americana que fabricava próteses de silicone, fechou um acordo na Justiça: US$ 3,6 bilhões em indenizações, mais de R$ 11 bilhões.

Dez anos de batalha judicial das brasileiras. As indenizações podem variar de US$ 700 a US$ 105 mil. Mas o que mais choca no final dessa história é o critério dessas indenizações: as brasileiras vão receber sempre 30% do valor pago às americanas pelo mesmo dano causado.

A advogada Silvia Regina Borges fica revoltada com a diferença de tratamento. Ela também foi submetida a uma cirurgia para retirar o silicone:

- As americanas realmente vão receber uma indenização maior, que provavelmente pague o que elas gastaram e tratamentos médicos e tudo, em detrimento das estrangeiras."

Não há mais recurso. Segundo o advogado Fernando Vergueiro, na hora de fechar o acordo com a empresa, as americanas eram maioria e aprovaram os critérios:

- É um processo que eu ganhei, mas sinto que perdi. Me sinto frustrado. Minhas clientes sofreram muito, tiveram muitos danos e vão ter uma indenização abaixo das indenizações americanas. Uma indenização quase ridícula.