Aumento do tempo de internação para menores é alvo de polêmica

Ato infracional equiparado a crime hediondo poderia chegar a pena de até oito anos

Fonte: Agência Brasil

Comentários: (4)




O relatório de reforma do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que deve ser discutido e votado pela Câmara dos Deputados em breve, e prevê aumento de três para até oito anos do período de internação dos adolescentes, de 16 a 18 anos, que praticarem ato infracional equiparado a crime hediondo, tais como tortura e tráfico de drogas, foi criticado por especialistas em São Paulo.


Durante debate na tarde desta quinta-feira (17), no Instituto Sedes Sapientiae, zona oeste da capital paulista, para discutir os avanços e desafios dos 24 anos da promulgação do ECA, os especialistas condenaram a proposta prevista no relatório do deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP). Em seu site, o deputado defendeu a medida. “O plenário da Câmara deve reproduzir o sentimento da nação, que está indignada com essa questão da impunidade. Muitos adolescentes têm plena ciência do ato infracional que estão praticando e muitas vezes ficam internados por apenas um ano”, disse ele.


Mas, para o juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, que integra a Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, o aumento da pena não resolve o problema. “Aumentar o tempo de internação não resolve o problema. O que resolve a longo prazo é a prevenção. E, no caso de adolescentes, instituições de segregação e as unidades de internação com bom atendimento e bom serviço, ampliando seu trabalho, e com políticas públicas visando também as famílias. É preciso cuidar, não punir”, falou o juiz.


Opinião semelhante foi manifestada pelo advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. Alves disse que a proposta fere o princípio constitucional da brevidade. “Tem um princípio do estatuto que é o da brevidade das medidas socioeducativas. Oito anos [de internação] para um jovem de 16 anos representa 50% de seu tempo de vida. Fere esse princípio que está na Constituição. Essa é uma forma de tentar driblar a questão da redução da maioridade penal, que é inconstitucional”, falou ele. Alves disse não ser contrário a se discutir ou reavaliar o tempo de ressocialização, que foi definido na década de 90, “mas não com essa finalidade”.


A psicóloga Paula Saretta de Andrade e Silva reclamou que questões como essas são discutidas ou viram leis sem embasamento teórico ou estatístico que possam justificá-las. “As pessoas se posicionam sem nenhum dado relevante ou científico. Não há estatísticas para se falar. Se se comparar com vários outros países que fizeram isso, não tem dado certo. Por que olhamos para casos isolados, como se em todos os cantos houvessem adolescentes com esse mesmo perfil [de cometer crimes considerados hediondos]? Não estamos olhando para a grande massa de adolescentes que estão presos. Tem aquelas pessoas que argumentam que os adolescentes estão perdendo muito pouco, ou que três anos [de internação] é muito pouco. Perder a juventude é uma perda muito grande, que nunca mais terá recuperação. Isso não é uma questão de números. O grande problema é se olhar só para dados isolados. É preciso olhar para a população em geral”, falou ela.


Para Ariel Alves, a legislação atual referente às crianças e adolescentes, embora tenha representado grande avanço no país, precisa ser, de fato, efetivada. Ponto que também foi defendido pelo juiz. “Uma das dificuldades do ECA é que não aprendemos ainda a trabalhar de forma multidisciplinar. A política educacional deve estar ligada à política de saúde e de assistência social, por exemplo”, citou o juiz Carvalho durante o debate.


“A integração operacional e multidisciplinar nem sempre ocorre. A maior parte das crianças em abrigos estão lá por problemas de alcoolismo de seus pais”, ressaltou Alves. Segundo ele, o ECA ainda apresenta muitas falhas provocadas pela sua falta de implementação e efetividade. “Casos recentes que tiveram grande repercussão, como o assassinato do menino Bernardo Boldrini, em abril, no Rio Grande do Sul; as denúncias de exploração sexual infantil durante a Copa do Mundo; e a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que absolveu o fazendeiro Geraldo Brambilla, de 79 anos, acusado de estupro e exploração sexual de vulneráveis, ao considerar que o réu foi induzido a erro quanto à idade das vítimas e que elas já eram 'prostitutas'; demonstram o quanto a proteção integral das crianças e adolescentes no Brasil ainda é uma utopia”, disse o advogado.

Palavras-chave: eca direitos humanos menor infrator penalidades

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/aumento-do-tempo-de-internacao-para-menores-e-alvo-de-polemica

4 Comentários

LAURO MATOS Delegado Geral de Polícia19/07/2014 15:02 Responder

Normalmente quem não lida \\\"frontalmente\\\" com menores delinquentes, são seus defensores. Pode-se observar, até mesmo no Congresso, aqueles que derrubaram a maioridade penal para 16 anos, são todos uns boa vidas, que nunca foram vítimas destes delinquentes juvenis. Sabe-se que toda quadrilha hoje em dia possui pelo menos um menor para ser o detentor das armas, no caso de prisão - com isto eles se sentem super homens e ficam muito perigosos. Esta medida de oito anos de internação é até muito amena...Ainda sou defensor da maioria penal com 16 e acredito que todos policiais e pessoas que já foram suas vítimas o são. LAURO MATOS.

Clovis cidadão20/07/2014 11:13 Responder

Parabéns ao Dr.Lauro.Resumidamente,foi brilhante.De modo geral,só os utópicos,alheios à realidade,que pensam diferentemente.Muitos desses imaginam que assassinos em série ,bárbaros,irão se recuperar.Enquanto aguadam,os criminosso agem.O Brasil é o campeão mundial em assassinatos.Também muitos desses devem ter ficado com imenso dó daqueles que,por livre vontade,andaram destruido bens particulares e alguns o patrimônio de todos os brasileiros.Quando a policia age para coibir os abusos dos coitadinhos dos mascarados-coitado dos policiais.O mote da bandeira nacional não é observado:Ordem e Progresso.

Carlos Advogado21/07/2014 10:06 Responder

Infelizmente o que se houve até agora é uma chuva de congressos e palestras, onde a única coisa que se decidem por lá é não deixarem nada acontecer. Data vênia, são profissionais de teorias e filosofias, QUE NÃO SAEM DO LUGAR alegando sempre que não é assim que resolve a situação. Entretanto, esquecem que dados mais urgentes é a dura realidade de pessoas que a todo momento estão perdendo suas vidas em decorrência dessa ATUAL Lei Paralítica e seus defensores. Penso que primeiro temos que FAZER ALGO URGENTE, mesmo que posteriormente fosse necessário aperfeiçoar. No entanto, TEM QUE TER ATITUDE!!!

braz cortez aposentado/bacharel em direito27/07/2014 11:10 Responder

O quadro atual reclama medida punitiva mais drástica, sem prejuizo da aplicação de outras políticas sócio-educativas, cujos efeitos são de longo prazo. Os contrários jamais foram vítimas desses delinquentes - alegam que perdem parte da juventude, e esquecem quando esses mesmos tiram TODA a juventude de muitos outros!!! - São uns idiotas.......

Conheça os produtos da Jurid