Zelada efetuou transferências para contas na China e em Mônaco
Ex-diretor da área Internacional da Petrobras foi preso nesta quinta (2). Zelada foi sucessor de Nestor Cerveró no cargo e atuou entre 2008 e 2012
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada, preso nesta quinta-feira (2) pela 15ª fase da Operação Lava Jato, fez transferências bancárias para a China e para Mônaco, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF). Foram € 11 milhões para Mônaco e outro US$ 1 milhão para a China. O dinheiro no país europeu já estava bloqueado desde março deste ano.
Zelada será levado para Curitiba ainda nesta quinta. Inicialmente, ele deve ficar detido na Superintendência da Polícia Federal.
O ex-diretor é suspeito de envolvimento no esquema bilionário de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro na Petrobras. De acordo com as investigações, um saldo milionário em contas no exterior, auditorias internas na estatal e depoimentos de outros suspeitos que firmaram acordo de delação premiada são provas do envolvimento de Zelada no esquema criminoso. O MPF diz que ele tinha salário mensal na Petrobras de R$ 100 mil.
Após o início da Operação Lava Jato, Zelada efetuou transferências para contas bancárias no exterior. Entre julho e agosto do ano passado, foram € 7 milhões provenientes de contas em Mônaco, disse o MPF. “Indica continuidade de crime de lavagem e tentativa de proteção desses valores para impedir que a Justiça alcance”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos.
De acordo com o despacho do juíz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Zelada, ainda não existem informações seguras sobre o montante recebido pelo suspeito a partir do esquema criminoso investigado.
A investigação não exclui a possibilidade de existirem outras contas no exterior em nome de Zelada, além das já conhecidas. Também há suspeitas de que ele possua um sócio do Brasil que o ajuda a ocultas ativos.
Suspeitas
Zelada foi sucessor de Nestor Cerveró – já condenado a cinco anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro – no cargo e atuou entre 2008 e 2012 na estatal.
O nome dele surgiu nos depoimentos de delação premiada de outros investigados pela Lava Jato. Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, que cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro, já tinha dito que Zelada era um dos beneficiários do esquema de corrupção
O ex-gerente de Serviço da Petrobras Pedro Barusco afirmou que Zelada foi beneficiado à época em que era gerente geral de obras da Diretoria de Engenharia e Serviços. Todavia, Barusco não soube informar se Zelada continuou a receber vantagens indevidas no cargo de diretor da área Internacional.
De acordo com Barusco, Zelada era beneficiado assim como ele o ex-diretor de Serviços Renato Duque, que está preso no Complexo Médico-Penal, na Região Metropolitana de Curitiba.
Barusco disse ainda que Zelada negociava diretamente com as empresas em contratos menores na área de exploração e produção. O delator também informou que repassou diretamente a Zelada R$ 120 mil. O pagamento foi efetuado, conforme o delator, em três visitas à casa do ex-diretor.
Segundo o MPF, existe ainda a suspeita de que Zelada tenha recebido propina proveniente de contratos de navio sonda. “Há fortes indicativos que ele recebeu valores pela celebração de contratos de aluguel”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos.
Segundo as investigações, os contatos envolvendo navios sonda, por serem milionários, eram constantemente utilizados como meio para arrecadação de propina.
Além disso, segundo a investigação, auditorias da Petrobras apontam irregularidades severas em contratos sob a responsabilidade de Zelada.
14ª fase
A 14ª fase da operação, chamada de 'Erga Omnes', foi deflagrada no dia 19 de junho e cumpriu 59 mandados judiciais em SP, RJ, MG e RS. A operação teve como alvo as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez e prendeu os seus respectivos presidentes - Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo.
Outros dez investigados, a maioria executivos das duas empresas, também foram presos na ação. Três deles tiveram a prisão temporária vencida e foram soltos. Alexandrino de Salles, executivo da Odebrecht, teve a prisão temporária convertida em preventiva.
Segundo a PF, há indícios concretos, com documentos, de que os presidentes das empresas tinham "domínio completo" de atos que levaram à formação de cartel e fraude em licitações, além de pagamento de propinas.