Vítimas das próprias famílias

O primeiro estudo mundial sobre violência contra crianças e adolescentes é coordenado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

Fonte: Jornal O Globo

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O primeiro estudo mundial sobre violência contra crianças e adolescentes é coordenado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Desde 1998, ele integra um grupo de 26 especialistas da Subcomissão de Proteção e Promoção de Direitos Humanos das Nações Unidas. E a pesquisa vai dar o que falar. A partir da análise de informações das agências da ONU, de ONGs, institutos e governos, Pinheiro descobriu, por exemplo, que um dos grandes riscos para as crianças européias é a própria família.

Segundo o Unicef, 3.500 crianças com menos de 15 anos morrem anualmente vítimas de violência na família nos 27 países ricos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) da Europa. Em 80% dos casos, os responsáveis pelos crimes são os pais biológicos. Os casos de violência sexual nas famílias são tantos que o governo francês está pensando em reeditar uma lei criminalizando o incesto, enterrada no final do século 19. Pinheiro está impressionado com os dados: 

Antes de começar o estudo, eu não tinha idéia da dimensão do problema das gangues na América Central nem do número de meninas domésticas no Nordeste brasileiro. São centenas de milhares de meninas empregadas ? diz o brasileiro.

O estudo que Pinheiro coordena será apresentado em 2006 pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Trabalho sobre Burundi e Mianmar

Aos 60 anos, Pinheiro é um veterano em direitos humanos. Ele dirigiu o Núcleo de Estudos sobre Violência da USP durante 14 anos e continua ligado ao órgão, como pesquisador. Teve uma breve passagem pelo governo, como secretário de Direitos Humanos, de novembro de 2001 até o final do governo Fernando Henrique Cardoso.

A colaboração de Pinheiro com a ONU começou na Conferência Internacional sobre Direitos Humanos de 1993, na Áustria, quando apresentou um trabalho sobre direitos humanos e violência no mundo. Em 1995, foi nomeado relator da ONU para o Burundi, país dividido por um conflito étnico. Mas renunciou ao cargo depois de um acidente.

Hoje, além de coordenar o estudo sobre violência contra crianças, Pinheiro dá aulas na Universidade Brown, nos Estados Unidos, e é relator da ONU para Mianmar, país asiático que há 40 anos é dirigido por uma junta militar violenta.

Nas últimas semanas, o governo do general Than Shwe libertou vários prisioneiros e prometeu soltar outros. Pinheiro acha que é um bom sinal, mas não suficiente. Há muitos presos políticos, inclusive a prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, líder da oposição. Em novembro passado, seu relatório sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar foi pessimista: 

Talvez o governo queira mostrar que pretende seguir o mapa de transição democrática, de 2003.

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