O senador Jorge Viana (PT-AC) elogiou o diretor diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal Oslain Santana apontou estreitas relações entre campanhas eleitorais e desvio de dinheiro público. Segundo Oslain, mais da metade das grandes operações de combate à corrupção promovidas pela Polícia Federal têm como pano de fundo financiamento de campanhas eleitorais.

- O Diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, que conheço, é um grande profissional, não é afeito a dar entrevistas, mas deu uma entrevista que vale ficar registrada nos anais do Senado. Ontem li e ontem mesmo assumi o compromisso comigo mesmo de trazê-la para cá - disse Viana em discurso no plenário do Senado nesta segunda-feira.

Na entrevista, Oslain sustenta que verbas de contratos e obras públicas são desviadas sistematicamente para bancar campanhas eleitorais nos níveis municipal, estadual e federal. Segundo ele, o problema atinge todos os partidos. Terceiro na hierarquia da PF, o diretor fala com a autoridade de quem comanda as grandes operações da polícia desde o início de 2011.

Oslain deixou claro ainda que a PF e a Justiça Eleitoral não têm estrutura para fazer frente a tantos desvios. A saída seria uma reforma eleitoral com financiamento público de campanha e limite para doações de pessoas físicas, entre outras medidas. Para o diretor, é importante reduzir custos e dar maior transparência a arrecadação e gastos de campanha.

- Nos últimos tempos, temos acompanhado uma ação dirigida ao PT. Não estou querendo que se alivie com o PT nem com qualquer outro partido. Mas o certo é que trago este tema hoje porque acho que é uma voz isenta, a voz de uma autoridade sobre o tema - disse Viana.

O senador citou vários trechos da entrevista. Num deles, Oslain disse que, sem reforma, parte da atuação da polícia contra a corrupção seria tão inútil quanto "enxugar gelo". Viana lembra que em 2011 apresentou projeto que fixa teto para gastos em campanhas eleitorais, entre outras propostas de moralização das eleições.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) também endossou as ideias do diretor da PF. Para o deputado, é fundamental que uma reforma política proíba o financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas. O deputado defende também que se estabeleça um limite para doações pessoais como uma das alternativas para se diminuir os ralos da corrupção associada à política, conforme sugere Oslain.

- O fundamental mesmo é mudar as regras que favorecem esse esquema. Se não mudar o sistema eleitoral no Brasil, a PF e a Justiça Eleitoral continuarão sim enxugando gelo - disse Alencar.

Para o deputado, campanhas eleitorais devem ser financiadas exclusivamente com recursos. Isso diminuiria o peso do dinheiro nas disputas políticas e reduziria o risco de corrupção. Pelas investigações da polícia políticos desviam dinheiro de contratos e obras públicas para financiar campanhas e também para enriquecimento pessoal.