O Jornaleiro

A antiga redação, no local mais nobre do prédio, hoje é o departamento comercial. E aquela redação gigantesca transformou-se numa tímida sala em local menos nobre.

Fonte: Luciano Pires

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Recentemente estive visitando a redação de um jornal, que conheci bem nos anos 80. Tomei um susto.

A antiga redação, no local mais nobre do prédio, hoje é o departamento comercial. E aquela redação gigantesca transformou-se numa tímida sala em local menos nobre.

E notei que o mesmo está acontecendo com outros jornais pelo Brasil.

Essa mudança de foco é preocupante. A razão de um jornal é seu conteúdo editorial. É ele que vai conquistar os leitores, ampliar a tiragem e possibilitar que o jornal "alugue" esse acesso aos leitores, para seus anunciantes.

E nessa busca por audiência, os jornais começam a encontrar um grande obstáculo. Para atingir o grande público, precisam de um conteúdo genérico, sem grandes sofisticações, sem focar em interesses específicos. Lembram-se?

Fórmulas simples, para serem assimiladas por muita gente e portanto conquistar "compradores".

Há quem chame isso de "nivelar por baixo"...

Se o conteúdo editorial empobrece, se o jornal perde a capacidade de atrair leitores, se não é capaz de oferecer um conteúdo criativo, excepcional, único e sensorial, o processo não anda. Por melhor que seja área comercial.

Para piorar, por questões de custo, os jornais alimentam-se hoje das mesmas fontes. E mandam embora os salários mais altos, contratando a garotada inexperiente. E ficam todos iguais. Afinal, como conciliar esse enxugamento das redações com a necessidade de gente com competência para contar histórias, para tratar os textos com técnicas literárias, para conquistar os leitores pela riqueza dos relatos e das visões provocadoras?

Houve um tempo em que eu comprava a Folha só para ler o Paulo Francis...

Para piorar: para desespero dos publicitários, o mercado já descobriu que a propaganda não é mais a alma do negócio.

O resultado desse processo? Em 1996, a Folha de São Paulo editava aos domingos, 924 mil exemplares. Hoje, edita 379 mil. Em 1996, o Estadão editava aos domingos, 656 mil exemplares. Hoje são 302 mil. Em 1996, O Globo editava 731 mil exemplares. Hoje são 353 mil.

Entramos numa espiral destrutiva.

Se eu servir como modelo, dou a fórmula. Quero ler algo que me provoque.

Quero visões distintas do mesmo fato. Quero gente inteligente colocando pontos de vista diferentes. Quero humildade para reconhecer erros. Quero que não me tratem como um idiota. Admito posições partidárias desde que transparentes. Quero textos NUTRITIVOS...

E isso jamais virá dos departamentos comerciais.

Luciano Pires é profissional de comunicação, jornalista, escritor, conferencista e cartunista, atualmente Diretor de Comunicação Corporativa da Dana. Visite o site www.omeueverest.com .

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