O álibi furado do PT

O governo Lula se esvai em manobras políticas menores para abafar a CPI dos Bingos e impedir a investigação plena do caso Waldomiro Diniz.

Fonte: Folha de S. Paulo

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O governo Lula se esvai em manobras políticas menores para abafar a CPI dos Bingos e impedir a investigação plena do caso Waldomiro Diniz. Culpados, apanhados em flagrante delito, os representantes do governo costumam produzir justificativas que fazem a fortuna do anedotário popular. Geralmente são lamúrias que remetem a circunstâncias, "pressões contingenciais", "más companhias", "privação dos sentidos" e outras alegações de petições forenses.

Os mais audaciosos chegam a apresentar álibis. Alegam cavilosamente que, na hora do crime, estavam em outro lugar e não podem ser acusados. A não ser que... fossem ubíquos. A partir daí, a discussão envereda por caminhos que costumam esquecer o fato originário. Não se fala mais do crime e passa-se a discutir o fenômeno da ubiqüidade. É desse expediente que vive o governo Lula. A qualquer flagrante indiscutível de incompetência, desídia, apatia, estagnação e até desvio grave, esquece que exerce o poder há mais de 15 meses e alega que a culpa não lhe cabe, mas "aos governos anteriores". Como escreveu o presidente nacional do PT, José Genoino, na Folha do dia 2/4 ("O senador, a amnésia e a tergiversação", pág. A3). O proselitismo petista costuma até ir mais longe. Recupera velhos títulos de novelas radiofônicas: "O Passado me Condena". Ou "Herança Maldita".

Foi com um desses falsos álibis que o presidente do PT recusou o flagrante que registrei na Folha no dia 29/3 ("O governo, a soja e o trovão", pág. A3), mostrando que o governo Lula não fez nenhum planejamento estratégico para o escoamento dos 52 milhões de toneladas de soja, piorado este ano em relação ao tempo em que exportávamos apenas 28 toneladas. Fui claro e muito concreto na acusação: o governo mostra-se surdo ao trovão representado pela perda de US$ 1,2 bilhão na atual safra de soja, pois é este o deságio do produto brasileiro no mercado internacional. Tudo devido à demora de embarque dos grãos por falta de estradas e dificuldades nos portos.

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Em janeiro de 2003 o presidente Lula assumiu e, para desgosto geral, em vez de mudar, o país estagnou
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No caso de Paranaguá, o tempo para um navio encostar e carregar havia chegado a ultrapassar 35 dias, enquanto a fila de caminhões chegou a 80 km. Já nos portos do golfo do México, os cargueiros chineses levam de três a quatro dias para encostar, carregar e zarpar, levando a soja americana. A resposta de Genoino indica que o PT esqueceu as circunstâncias da memorável e indiscutível vitória do seu candidato a presidente nas eleições de 2002, baseada no argumento essencial da mudança.

Na esteira da pregação petista de que todos os governos brasileiros passados eram corruptos e ineficientes -os tais "300 picaretas" da canção dos Paralamas são uma citação de Lula-, a campanha eleitoral prometeu mudar tudo, homens e métodos. E foi nisso que o povo apostou, atribuindo-lhe consagradora votação. Foi também a leitura que fizemos, humilde e democraticamente, no PFL. Assumimos o nosso papel de oposição e passamos a pensar no futuro. Era preciso pensar, planejar, imaginar novas propostas e soluções para os problemas brasileiros.

Desde outubro de 2002 não paramos de promover nossa própria revisão e de esperar, em vão, pelas mudanças prometidas pelo PT e seu candidato. Em janeiro de 2003 o presidente Lula assumiu e, para desgosto geral, que está sendo expresso na crescente e espontânea decepção popular, em vez de mudar, o país estagnou.

Mas fiquemos na questão específica da soja. Graças ao dinamismo do agronegócio (que não é propriamente a forma de desenvolvimento agrário que mais agrada ao governo Lula, que prefere o MST e o companheiro Stedile), a produção evoluiu para o recorde dos 56 milhões de toneladas. Que fez o governo Lula nesses 15 meses, mesmo constantemente alertado, pelo próprio IBGE, Ipea e outros órgãos?

Enquanto se plantava a safra, previam-se os aumentos de produtividade -que até criaram a questão da soja transgênica-, o mercado internacional se agitava, oferecendo preços tentadores, e os exportadores, especialmente a China, fechavam contratos de aquisição do nosso produto, o governo não realizou nenhum planejamento estratégico para atualizar as condições de escoamentos da produção. No entanto, flagrado por não escutar o trovão representado pela perda de US$ 1,2 bilhão dos produtores brasileiros -um estrondo inquietante que denuncia a inépcia da administração federal-, o PT vem se queixar do passado...

A oposição propõe o contrário. Que se instale uma CPI para sepultar em prazo certo esse lamentável caso Waldomiro Diniz. E que o governo, em vez de insistir nos álibis furados, comece a trabalhar tendo metas definidas, como a melhoraria das condições de comercialização das safras agrícolas, para que, em 2005, desapareça, ou pelo menos seja diminuído, o deságio que neste ano reduziu o preço da nossa soja a 935,75 centavos de dólar, enquanto a soja americana obtinha 1.056,10 centavos.

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Jorge Konder Bornhausen, 66, é senador pelo PFL-SC e presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).

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