Muito barulho para nada

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. E-mail: mlucia@sercomtel.com.br.

Fonte: Maria Lucia Victor Barbosa

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Maria Lucia Victor Barbosa ( * )

Não sei se o presidente Luiz Inácio acredita realmente no que diz em seus momentos de suprema empolgação consigo mesmo ou se apenas segue o treinamento de seus marqueteiros. O fato é que Sua Excelência alterna encenações onde se compara a Jesus Cristo, Tiradentes, Getúlio Vargas, JK e, às vezes, pretende ser maior que todos eles. Em certos momentos regride à Terra e apresenta ao respeitável público a tocante imagem do pobre operário, do retirante que continua imerso na mais desgrenhada miséria, e que chegou à presidência da República com a missão de salvar seus iguais. Os ricos que o digam.

Seja lá como for, a enorme platéia do circo Brasil demonstra complacência infinita para com as bravatas e despautérios do ilustre mandatário. E isso basta para que o PT, através de seu correligionário mais emblemático, se mantenha no poder. Até quando não se sabe.

Os escândalos de corrupção acontecidos no primeiro mandato, e que derrubaram os homens mais próximos e importantes do presidente; as "piadas de salão" de Delúbio Soares e demais companheiros; os aloprados, as promessas não cumpridas; os programas sociais fracassados; os impostos exorbitantes; o crescimento econômico pífio, nada vezes nada tolda a confiança no salvador da pátria, o qual foi reconduzido ao cargo com expressiva votação.

Embasbacada, a maior parte da população se identifica com aquele linguajar retumbante, com as metáforas futebolísticas, com as piadas e gracejos do senhor presidente. E o deslumbramento (talvez o mesmo que envolve os participantes do BBB) não pertence apenas aos mais pobres, mas a parcela significativa da classe média louca por quimeras esquerdistas, e aos ricos, felizes com os lucros auferidos através do capitalismo marxista do governo do PT.

Entretanto, se o presidente faz sucesso internamente, o mesmo não acontece no plano externo. Foi o que se viu 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul, havida nos dias 18 e 19 deste, no Rio de Janeiro.

Na Reunião, Hugo Chávez, que com sua Lei Habilitante assumiu de vez a posição de ditador vitalício da Venezuela, mais uma vez foi a estrela do Encontro. Insultou como sempre os Estados Unidos, chamou a oposição venezuelana de lixo, discursou longamente apesar do presidente brasileiro ter pedido que todos falassem como ele, durante apenas treze minutos. Não contente, e do alto do seu nebuloso socialismo caudilhista do século 21, Chávez se arvorou em descontaminador da doença neoliberal no Mercosul, criticou o governo Brasil na pessoa de Marco Aurélio Garcia, debochou do companheiro Lula. Depois, se uniu ao seu seguidor boliviano, Evo Morales, para agredir o presidente colombiano, Álvaro Uribe. Evo Morales, na esteira do seu comandante da boina vermelha, também atacou o Brasil.

Naquela inútil Reunião nada foi resolvido. Por exemplo, não se discutiu a "guerra da celulose" entre Uruguai e Argentina ou a recente queixa da Argentina contra o Brasil na Organização Mundial de Comércio. Uruguai e Paraguai saíram insatisfeitos e o bate-boca foi geral. Muito barulho para nada.

Mas barulheira mesmo aconteceu por conta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente havia afirmado que jamais seu governo faria um plano, mas está apresentando o Plano B com pompas e honras. Como Luiz Inácio passou quatro anos prometendo o "espetáculo do crescimento", o que não aconteceu, é de se esperar que mais esse amontoado de intenções não passe de muito barulho para nada. No mais é torcer para que a economia não desande de vez sob a batuta da guerilheira Dilma e do revolucionário Mantega. É preciso lembrar, que o PAC está sendo criticado por governadores, empresários e centrais sindicais.

Depois das turbulências sul-americanas, Sua Excelência partiu em busca de outro mundo possível, não no Fórum Social, em Nairóbi, África, mas em Davos, Suíça. Foi vender o PAC aos detestáveis capitalistas, manipuladores do vil dinheiro, esse excremento do diabo. Todavia, como na Reunião do Mercosul, o presidente brasileiro não fez sucesso. Além disso, impressionou mal seus poucos ouvintes quando defendeu Hugo Chávez dizendo que este "foi eleito três vezes consecutivas de forma mais democrática possível". Quanto a Evo Morales, Luiz Inácio repetiu que "o gás é dele, é a única riqueza dele, tem que nacionalizar". Vem aumento do gás por aí.

Com outra mentalidade, o presidente do México, Felipe Calderón, disse ver na América Latina retrocesso na política com a volta de "ditaduras pessoais vitalícias", e na economia com "expropriações e nacionalizações, que só empobrecem ainda mais os pobres". Pelo menos ainda existem alguns líderes lúcidos nestes tristes trópicos. Coisa que anda a nos faltar. Aqui é muito barulho para nada.



Notas:

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. E-mail: mlucia@sercomtel.com.br. [ Voltar ]

Palavras-chave: barulho

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1 Comentários

Nilton Agostinho Construtor05/02/2007 14:12 Responder

Todos os racionais, devem descer de suas tamancas, e aprender lidar com suas frustações,nunca deixar que isso transpareça.

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