Lula ainda faz reuniões para decidir o mínimo
Com quase 30 dias de atraso no anúncio do novo salário-mínimo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará hoje mais uma de uma série de reuniões ministeriais antes de anunciar sua decisão.
BRASÍLIA. Com quase 30 dias de atraso no anúncio do novo salário-mínimo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará hoje mais uma de uma série de reuniões ministeriais antes de anunciar sua decisão. O governo chegou a adiar em um mês a data do reajuste e, segundo ministros e aliados, Lula não tinha batido o martelo até ontem. Defensores de um aumento mais generoso ainda alimentavam alguma esperança. No governo e no Congresso, no entanto, a aposta é de que a equipe econômica ganhe a queda-de-braço e o mínimo passe para R$ 260.
Defensor do mínimo de R$ 270, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, não nutria ontem expectativa quanto às chances de um aumento superior aos R$ 260. Mas chega hoje à reunião disposto a expor seu ponto de vista, segundo o qual o sucesso da política econômica depende da ampliação da renda:
? Salário-mínimo não é só despesa. É um indutor do crescimento. Um dos fatores de limitação do crescimento é a falta de renda interna.
Amir Lando fará esforço por reajuste maior do mínimo
O ministro da Previdência, Amir Lando, também se esforçará por um aumento maior. Além de argumentar que o Congresso fará restrições a um reajuste menor, levará um estudo sobre a possibilidade de se recuperar as dívidas do INSS, encomendado por Lula.
Segundo a equipe econômica, a fixação de um salário-mínimo de R$ 260, acompanhado de um salário-família de R$ 25 por filho, representaria um gasto adicional de R$ 1.069,2 bilhão até o fim do ano e de R$ 1.711,2 bilhão em 12 meses. O reajuste para R$ 270, com um salário-família de R$ 20 por filho, custará R$ 2.271,3 bilhões até o fim do ano e R$ 3.467,5 bilhões em 12 meses. Hoje, Berzoini e o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, insistirão, mais uma vez, na tese de que o aquecimento da economia vale esse gasto adicional. A equipe econômica frisará que o mínimo de R$ 260 é o limite possível.
Segundo o secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Social, ministro Jaques Wagner, a idéia é encontrar um ponto de equilíbrio em que se permita um aumento do poder real de compra do trabalhador e o não comprometimento das contas públicas:
? A decisão final caberá ao presidente, mas esse é um tema a que damos muita importância. Tanto é que está sendo discutido há três reuniões.
Oposição lembra que Lula prometeu duplicar mínimo
O ministro não quis dizer se o presidente anunciará ainda hoje o novo valor do salário- mínimo. No entanto, uma fonte do governo que está participando diretamente das discussões lembrou que há duas possibilidades: se o reajuste do mínimo for uma única medida, o percentual será maior. Caso contrário, se a correção vier acompanhada de outras medidas, como aumentos para o Bolsa Família e o salário-família, o índice de reajuste do salário-mínimo será menor.
Ontem, numa reunião no Palácio do Planalto, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, teria dito aos líderes aliados que eles serão chamados para uma reunião com Lula assim que for tomada a decisão. Toda essa expectativa, porém, acabou produzindo desgaste. A oposição lembrou no Congresso que a duplicação do valor nominal do mínimo foi uma promessa de campanha do presidente.
? Só este mês de atraso significou menos R$ 350 milhões nos bolsos dos aposentados e o mínimo deveria ter um reajuste real de 10%. Em sete anos e meio, seu valor teria dobrado ? disse o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).