Artigo: Alca, oportunidade a ser aproveitada

Negociações comerciais nunca são fáceis. Mas poucas foram tão enaltecidas e ao mesmo tempo desacreditadas como as da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas.

Fonte: especial para Folha de S.Paulo

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Negociações comerciais nunca são fáceis. Mas poucas foram tão enaltecidas e ao mesmo tempo desacreditadas como as da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Embora não represente nenhuma panacéia para a resolução de todos os problemas enfrentados pelo hemisfério, a Alca abrirá novas oportunidades para o comércio de sul a norte, norte a sul, leste a oeste e vice-versa. Essas oportunidades para o Brasil, os Estados Unidos e os 800 milhões de pessoas da região significam exportações, empregos, investimentos, competitividade global e, conseqüentemente, crescimento e prosperidade.

Para os Estados Unidos, os benefícios da abertura de mercados não são simples retórica. O dinamismo e a resiliência da economia do país foram conseguidos graças à liberalização comercial. Novos mercados de exportação criaram empregos bem remunerados; milhões de consumidores e empresas beneficiaram-se de importações de baixo custo; bilhões de dólares de investimento estrangeiro entraram no país; e nossa economia atingiu a cifra de US$ 11 trilhões. O comércio é um jogo em que todos podem sair ganhando. E oferece as mesmas oportunidades ao Brasil e aos demais países.

Os Estados Unidos têm uma agenda comercial ambiciosa, que contempla acordos de livre comércio bilaterais, a Alca e o trabalho na OMC. Nossa estratégia -compartilhada com os outros países da região e incorporada ao arcabouço da Alca até o ano passado- é a de lidar com todas as questões pertinentes ao comércio, da eliminação de tarifas à proteção dos direitos de propriedade intelectual, de modo a refletir o mundo em que vivemos e tornar o comércio a força motriz do crescimento e desenvolvimento.

Em novembro do ano passado houve uma reunião de ministros em Miami, para revisar o arcabouço de negociação da Alca. Reconhecendo que as metas do Mercosul são restritas, esse arcabouço passou a possibilitar o avanço dos Estados Unidos e do Mercosul de forma mais limitada, complementando o que nós e outros países da região estamos fazendo bilateralmente.

Como parte do novo arcabouço da Alca, os ministros dos 34 países concordaram em negociar um "conjunto comum e equilibrado de direitos e obrigações aplicável a todos os países". Várias rodadas de conversações formais e informais realizadas neste ano em Puebla, no México, e em Buenos Aires não levaram a um consenso sobre esse "conjunto comum" na Alca. As questões incluem acesso a mercados, agricultura, serviços e direitos de propriedade intelectual, bem como a busca de um equilíbrio entre as expectativas e os pontos sensíveis dos 34 países que seja aceito por todos.

Como a criação do arcabouço inicial da Alca levou anos, não é nenhuma surpresa o fato de os negociadores precisarem de mais do que algumas semanas para transformar os resultados de Miami em instruções para as negociações.

Uma abordagem construtiva e voltada à resolução de problemas, por parte de todos os países, e coerente com os acertos feitos em Miami no ano passado pode nos levar a alcançar os objetivos estabelecidos por nossos governantes para a conclusão da Alca.

Apesar das conjecturas generalizadas sobre o impacto das eleições presidenciais de novembro nos EUA, nossa política de comércio continua totalmente engajada na promoção da liberalização comercial. O representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick, tomou a iniciativa de revigorar a Rodada de Doha, para que se possa obter progresso significativo neste ano na OMC.

Nos últimos meses, os Estados Unidos concluíram acordos de livre comércio abrangentes e bastante ambiciosos com Austrália, Marrocos, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua, El Salvador e República Dominicana. Isso sem falar nos acordos já fechados com os nossos parceiros do Nafta, o Chile e outros países fora do hemisfério. Estamos ou logo estaremos em negociações de livre comércio com Bahrein, Panamá, Colômbia e, esperamos, outros países andinos. Existem pressões protecionistas nos Estados Unidos, assim como em outros países, mas o apoio à liberalização do comércio já vem de longe e perdurará.

Vale a pena observar que, entre as prioridades de todos os nossos parceiros de acordos bilaterais de livre comércio, constavam importantes questões agrícolas. Em conjunto, conseguimos expandir o acesso mútuo aos nossos mercados agrícolas e atender os pontos sensíveis e os interesses de cada um fora dessa área, bem como estabelecer bases para maior integração econômica. Uma estratégia pragmática e equilibrada semelhante também poderá contribuir para o sucesso da Alca.

Estamos empenhados em fazer a Alca funcionar e em colaborar com o Brasil, nosso parceiro na co-presidência nesta fase de conclusão das negociações, para construir um acordo equilibrado, justo e exeqüível, de forma que brevemente nossos cidadãos possam desfrutar de seus benefícios.

Donna J. Hrinak, 52, é embaixadora dos EUA no Brasil. Foi embaixadora na Bolívia (1998-2000) e na República Dominicana (1994-1997).

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