Genocídio latino, a guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai foi o conflito externo de maior repercussão para os países envolvidos seja pelas vidas perdidas, seja por seus aspectos econômicos, políticos e financeiros. O conflito se deu num momento de constituição dos Estados Nacionais e, eclodiu devido as contradições platinas, culminando mais tarde, na Proclamação da República no Brasil em 1889.
Nenhuma
guerra é boa, isto é óbvio[1]. Mas, a Guerra do Paraguai
representou a mais longa e devastadora de toda história da América do Sul, e
desfechou no aniquilamento do Paraguai que era o mais desenvolvido país da
época até o início do confronto armado. Os combates se desenvolveram na segunda
metade da década de 1860 e, envolveram o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Anteriormente
ao conflito, desde o princípio da reocupação do território chamado como Bacia do
Rio da Prata, que é formada pela Argentina, Uruguai e pelo Paraguai e banhada
por rios como Paraná, Paraguai e Uruguai, sempre foi alvo de grande disputa. No
século XIX, a navegação marítima e fluvial predominava sobre os demais meios de
transporte. Ainda mais com a implantação da navegação a vapor, quando então a
região se tornou mais relevante, intensificando-se o movimento comercial na
região.
Recordemos
que da Bacia Platina dependia o comércio da Argentina, Uruguai, do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e do Paraná, principalmente, do Paraguai e do Mato Grosso
que não tinham outro meio para alcançar o Oceano Atlântico. Destacou o
historiador Pedro Bastos que era por ali que também escoava a prata extraída do
Peru e da Bolívia.
Gaspar
Rodriguez de Francia que era o primeiro governante do Paraguai, tentou
estabelecer livre navegação no Prata, mas s comerciantes dos portos de Buenos
Aires e Montevidéu insistiam na cobrança de pesadas taxas. E, também, a
Argentina se recusava a reconhecer a independência do Paraguai.
Aliás,
na época, os poderosos comerciantes do porto de Buenos Aires que era o
principal da bacia, almejavam reunificar toda a região platina. Convém destacar
que isto não significava que o país estivesse plenamente isolado.
E, segundo
José Dantas as fazendas estatais produziam para exportar e, praticamente,
monopolizavam o reduzido comércio exterior. Diante do cenário, restou à
república guarani caminhar através de uma política de desenvolvimento autossustentado,
diferentemente dos demais países da região, na qual o Estado controlava a
economia de tal forma que a estrutura socioeconômica se voltava para os interesses
da população e a independência do país. Tal estrutura era livre de burocratas e
cortesãos. E, deu-se a livre opção por ditadores
afeiçoados ao povo.
Francia
considerava que os grandes proprietários e comerciantes eram categorias
perigosas, posto que fossem aliados em potencial de Buenos Aires. Tanto que em
sua gestão, o Estado atacou os privilégios dos ricos, as oligarquias de seu país.
E, confiscou terras cujo direto de posse as classes proprietárias não puderam
comprovar.
A
Igreja Católica fora nacionalizada também com o confisco de seus bens e
propriedades e, realizou-se a primeira grande reforma agrária da América Latina,
pois a metade das terras fora arrendada aos camponeses e indígenas, os quais
receberam implementos agrícolas, sementes e cabeças de gado. De sorte, que
existiam muitas fazendas sob o controle do Estado.
Em
1840, o Paraguai não possuía analfabetos e seu desenvolvimento agrícola
permitia-lhe produzir tudo quanto seu povo necessitava e sua atividade
industrial era capaz de produzir ferramentas, armas e outros utensílios. Lucci
concluiu que havia pouca pobreza naquele país.
O
sucessor de Francia foi Carlos Antônio López que permanecera no poder até 1862,
contratou técnicos e enviou centenas de estudantes para o exterior com o fito
de modernizar a economia. E, o país atingiu esta meta, tanto que a indústria
paraguaia se tornara a mais avançada de toda América do Sul. Então, foram
instalados ferrovias, estaleiros, indústrias bélicas, metalúrgicas, têxteis, de
calçados, de louças, material de construção, instrumentos agrícolas, tintas,
papel, além do telégrafo e da grande Fundição de Ibicuí.
Era,
sem dúvida, a nação mais próspera da América do Sul e protegia sua produção
local, tinha balança comercial estável e favorável, além de ter moeda forte e
estável. Afirmam os historiadores que a exportações paraguaias valiam duas
vezes mais que as importações. Segundo Eduardo Galeano, a intervenção do Estado
na economia era total, pois noventa e oito por cento do território do Paraguai
era de propriedade pública.
Desta
forma, o país conseguiu eliminar a oligarquia, a escravidão, a violência, a
miséria e o analfabetismo. Era o único país da América do Sul que tinha uma
indústria de base. O único que não tinha dívida externa ou interna. E, a
economia paraguaia crescia sem a interferência de empréstimos estrangeiros. O
que fez do país uma exceção na América Latina, vez que os demais países
recorriam habitualmente aos banqueiros estrangeiros notadamente aos ingleses.
Enquanto
os países aliados, contra os quais ele lutaria na guerra tinham suas economias
voltadas para o mercado externo, e sequer atendiam suas necessidades internas.
O
historiador Júlio José Chiavenatto (1998) aponta um problema não superado pelos
governantes paraguaios, a inexistência de intelectualidade capaz de apreender a
natureza do confronto com o capital inglês. Como também não havia uma classe
dirigente vinculada aos interesses da nação. Assim, carente de interpretação da
conjuntura política internacional o Paraguai teria fico com presidentes
solitários.
Carlos
López aumentou consideravelmente o poderio militar de seu país, e sabia que a
vizinha Argentina ambicionava reconstruir o antigo Vice-Reino do Prata, que
pressupunha a reanexação da nação guarani. Ao fim de seu governo, de acordo com
Raymundo Campos, o exército paraguaio era o melhor da América Latina e, seu
sucesso Solano López deu continuidade a tal trabalho de organização e
fortalecimento militar.
Cada
historiador aduz diferentes números sobre o exército do Paraguai, a divergência
entre as fontes consultadas é enorme que somos tentados a trilhar os caminhos
do ceticismo. E, entender que a multiplicação de divergências foi distorcida
pelo processo histórico.
Durante
o século XIX, a Inglaterra era a potência hegemônica do mundo e,
constantemente, ampliava seu império colonial e, impunha sua vontade pela
força, especialmente, nos países situados no sul do Equador. A independência de
países latino-americanos com honrosa exceção do Paraguai, posto que era o único
país não penetrado pelo capitalismo britânico, não era completa, pois eram
dependentes do capitalismo mundial.
A
guerra se deu num período caracterizado por expansão da produção e das trocas
inglesas e pelo aumento do número do investimentos britânicos na região. No
estuário do Prata, os ingleses entabulavam intenso comércio, exportando seus
produtos industrializados e importando matérias-primas. Já na segunda metade do
século XIX, do ponto de vista econômico, a Inglaterra efetivamente substituiu
Portugal na condição de metrópole.
A
guerra, enfim, ocorreu exatamente num período dedicado a expansão da produção e
das trocas inglesas e pelo aumento dos investimentos britânicos na região. O
comércio brasileiro, por exemplo, era quase todo feito com a Inglaterra, sendo
ela o principal comprador de café e fornecia a maior parte dos produtos
industrializados que se consumiam no Brasil. Além do comércio, as estradas, os
bancos e muitas empresas eram inglesas, portanto, os valores e os padrões
ingleses acabaram por se impor como sendo modelos para a sociedade brasileira.
A
atuação do Brasil na região platina ocorria, sobretudo, quando havia revoltas
ou guerras, também como representante dos interesses da Inglaterra. Estes dois
países, assim como a França, eram contrários à reunificação dos países
platinos, à consolidação de qualquer grande nação na região, pois desejavam a
livre utilização da rede hidrográfica platina. Portanto, foram razões
comerciais que levaram os governos ingleses a apoiar francamente os movimentos
de independência na América Espanhola, inclusive no Paraguai e também no
Brasil.
A
Inglaterra, no século XIX exportava aproximadamente setenta por cento da sua
produção, constituída por produtos industrializados. Ela necessitava de novos
compradores para estas mercadorias e de diversificar suas fontes de suprimento
de matéria-prima.
Além
de não ser um grande exportador destes produtos, nem voraz consumidor de
mercadorias inglesas, o Paraguai impedia a entrada de capitais provenientes da
Inglaterra. Deste modo, seu modelo econômico independente não era bom para o
comércio britânico, que do Paraguai comprava a erva-mate, mas a ela nada
vendia.
José
Dantas afirma que os produtos industrializados do Paraguai já começavam a
abastecer a América do Sul e, para Elian Lucci, a guerra da secessão
norte-americano lançou a economia britânica em uma crise que acentuou ainda mais
sua necessidade de destruir a república guarani, a qual possuía terras férteis
e excelentes para o cultivo do algodão que era matéria-prima vital para forte
indústria têxtil inglesa, que até então dependera das provisões dos EUA.
Realmente,
os capitalistas ingleses estavam inquietos com perigo que representava o
exemplo paraguaio de desenvolvimento, que poderia influenciar as políticas dos
demais países sul-americanos. E, consequentemente, não foi acaso que tais
capitalistas estimularam e abastecem a Guerra da Tríplice Aliança contra o
Paraguai, financiando os aliados, a saber: Brasil, Argentina e Uruguai
dotando-os com grandes empréstimos.
É
verdade que muitos doutrinadores e historiados discordam da interpretação feita
acima. Pois, não incluem os interesses dos capitalistas ingleses entre as
principais causas do conflito[2].
Em
geral, os estudiosos mencionados substituem a argumentação baseadas nas
determinações do capitalismo internacional, o qual se manifesta mais claramente
nas ações imperialistas da maior potência econômica do planeta, por uma versão
que culpa as iniciativas imperialistas de Solano López, realizando a condenação
moral deste presidente.
Interessante
constatar que cinco dentre estes não se preocupam em descrever o modelo
econômico e social do Paraguai e que três não mencionam as trágicas
consequências do conflito para a república guarani, lacunas que não verificamos
em nenhum dos historiadores esforçados em relacionar a atuação da Inglaterra
com a destruição do exemplo paraguaio de desenvolvimento político e econômico.
Existem,
também, estudiosos que combinam os dois fatores para compor suas conclusões.
Na
gestão de Francisco Solano López, a orientação econômica do Estado não sofreu
grandes modificações. E, assim como seu antecessor, contratou vários
profissionais de elevado nível de instrução na Europa para formar e fortalecer
o parque industrial de seu país. Eduardo Galeano assegura que o protecionismo
sobre a indústria nacional e o mercado interno foi muito reforçado em 1863.
O seu
objetivo era fazer do Paraguai um país forte e soberano. Mas, em boa medida, o
Paraguai já era um país forte e soberano. Quantos países europeus, chamados por
nós de desenvolvidos, podiam em meados do século XIX, afirmar que estavam
livres da miséria, da violência e do analfabetismo? Solano López,
provavelmente, apenas desejava consolidar o desenvolvimento de seu país.
Defendendo
e realizando o protecionismo econômico, interessava à república do Paraguai ver
suas embarcações e mercadorias navegando com liberdade na Bacia do Prata. E, do
ponto do vista paraguaio, a independência do Uruguai era a melhor garantia para
manter livre o trânsito no estuário do Prata. Sendo vital para manutenção de um
equilíbrio de poderes na região. Tal equilíbrio garantia, na opinião de Solano
López, a segurança, a integridade territorial e a independência do Paraguai.
Diversos
historiadores declaram que a maior preocupação de López era garantir o controle
sobre os rios platinos ou conseguir saída direta para oceano através da ampliação
do território paraguaio. Aliás, tal medida seria imprescindível para a
continuidade do processo de modernização do Paraguai. Tal ampliação justificavam a tese do Paraguai
Maior.
Enfim,
o projeto de Grande Paraguai é nome atribuído por muitos autores e
historiadores aos supostos planos expansionistas de Solano López. E, tal
expansão se estenderia até o mar. De outro lado,
Sérgio
Buarque de Holanda e Denise Pereira garantem que Solano López deseja incorporar
apenas ao seu país antigas áreas das missões argentinas e das reduções jesuítas
no sul do Brasil. (Holanda, p.33).
Desde
sua independência, o Paraguai, em 1811, procurou se isolar dos demais conflitos
platinos, e Solano López, porém, por considerar fundamental para seu país a
manutenção da independência do Uruguai, abandona essa posição de neutralidade e
firma com este país um tratado militar de ajuda mútua. Este pacto foi conhecido
pelo governo brasileiro, pois o presidente paraguaio deixou claro que
declararia guerra ao Brasil caso as tropas do Império invadissem o Uruguai.
Muitos
historiadores alegam que o Tratado de Tríplice Aliança entre o Império do
Brasil, a República Argentina e a República Oriental do Uruguai foram
secretamente engendradas tratativas um ano de sua publicação. E, Chiavenatto
cita documentos tais como cartas e artigos de jornal que provam o caso. Segundo
Mocellin e Chiavenatto esta farsa tornou-se pública na época, uma vez que
vários países, protestaram contra esse plano premeditado de destruir e
partilhar o Paraguai.
As
bases do Tratado Tríplice Aliança foram lançadas numa reunião entre José
Antonio Saraiva, política brasileiro, Rufino de Elizalde, diplomata argentino A
Inglaterra, no século XIX exportava aproximadamente setenta por cento da sua
produção, constituída por produtos industrializados. Ela necessitava de novos
compradores para estas mercadorias e de diversificar suas fontes de suprimento
de matéria-prima.
José
Dantas afirma que os produtos industrializados do Paraguai já começavam a
abastecer a América do Sul e, para Elian Lucci, a guerra da secessão
norte-americano lançou a economia britânica em uma crise que acentuou ainda
mais sua necessidade de destruir a república guarani, a qual possuía terras
férteis e excelentes para o cultivo do algodão que era matéria-prima vital para
forte indústria têxtil inglesa, que até então dependera das provisões dos EUA.
Realmente,
os capitalistas ingleses estavam inquietos com perigo que representava o
exemplo paraguaio de desenvolvimento, que poderia influenciar as políticas dos
demais países sul-americanos. E, consequentemente, não foi acaso que tais
capitalistas estimularam e abastecem a Guerra da Tríplice Aliança contra o
Paraguai, financiando os aliados, a saber: Brasil, Argentina e Uruguai
dotando-os com grandes empréstimos.
As bases
do Tratado de Tríplice Aliança foram lançadas numa reunião entre José Antônio
Saraiva, político brasileiro, Rufino de Elizalde, diplomata argentino, Venâncio
Flores, militar e político uruguaio e o diplomata inglês Thornton.
O
acordo tinha como seus objetivos principais estabelecer a partilha de uma
grande fração do território paraguaio. tirar do Paraguai a soberania sobre seus
rios, responsabilizá-lo por toda dívida de guerra, não negociar qualquer
trégua, até a deposição de Solano López. Estimulava o saque do país e a
destruição de suas instalações industriais e, seu texto é contraditório, pois
afirma respeitar a integridade territorial da república guarani ao mesmo tempo
em que determina unilateralmente novas fronteiras.
Percebe-se
que o Paraguai era o mais desenvolvido país da América do Sul antes da guerra
ficou arrasado, sua população foi reduzida a uma pequena parcela e sua economia
foi destruída. Desde então o Paraguai não mais se recuperou, sendo até hoje um
dos mais pobres países da América Latina.
Os
vencedores implantaram o livre-cambismo, e o latifúndio. Tudo foi saqueado e
vendido, as terras e propriedades estatais foram vendidas aos capitalistas
estrangeiros.
Em
poucos anos, o país derrotado contraiu enorme dívida com os ingleses, até maior
do que a do Uruguai que fiou sob influência e controle do Brasil. O conflito
entre os aliados e a nação guarani foi um dos maiores massacres da história das
Américas. Os historiadores divergem enormemente a respeito do número de mortos
e do tamanho do território perdido pelo Paraguai[3].
Para
cumprir o tratado de aliança, a integridade territorial e a independência do
Paraguai foram mantidas. Isso é mentira. Pois as terras incorporadas pelo
Brasil e pela Argentina estariam sob o legítimo poder do governo paraguaio ou
eram terras de ninguém. Somente desta maneira, pode-se compreender o
entendimento de alguns estudiosos sobre o Tratado da Tríplice Aliança, como
algo diferente de uma propaganda cínica e mentirosa.
Chiavenato
e Mocellin declaram que a república guarani perdeu cerca de cento e quarenta
quilômetros quadrados de terras. Mas, há outros como Dantas que afirmam que
foram apenas quarenta quilômetros quadrados.
Outros,
como Max Justo Guedes acredita que a perda foi na ordem de quarenta por cento
do território total do Paraguai. As
perdas populacionais para alguns foram exageradas, pois calcula-se que foram em
cerca de vinte por cento da população, já outros historiadores, afirmam cerca
de setenta e cinco por cento da população paraguaia.
E, ao
contrário dos aliados, o Paraguai confiou em seu próprio arsenal e estaleiros,
pois, não comprou armas, navios com dinheiro dos ingleses. Infelizmente, ele
foi obrigado pelos vencedores a assumir a pesada dívida de guerra[4] que nunca teve condições
de pagar. Tempos depois, os aliados reconheceram que o Paraguai jamais teria
como saldar as dívidas de guerra e acabaram por perdoá-las.
Nosso
país perdeu muitas vidas e enorme montante financeiro. Havia o temor de que a
Bolívia ajudasse a Solano López, o que levou o governo brasileiro a ceder ao
ditador boliviano Legarejo a região do Acres. Para Argentina e Brasil e também
para o Uruguai, a guerra aumentou a dependência ao capital inglês, mas
desafogou suas dificuldades financeiras mais imediatas.
O
número de negros do Brasil sofreu uma grande queda, uma vez que havia um branco
para quarenta e cinco negros dentro das forças brasileiras. A navegação
brasileira nos rios Paraná e Paraguai foi garantida.
O
Império, de acordo com Eduardo Galeano ganhou mais de sessenta mil quilômetros
quadrados de território e levou muitos prisioneiros paraguaios como mão de obra
escrava. O exército brasileiro ficou mais unido e ganhou maior importância
político. Assim, o exército tornou-se um centro de contestação à escravidão e
ao Império e, aderiu às campanhas abolicionista e republicana. A guerra do
Paraguai foi uma das causas da queda do Império brasileiro.
As
províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes tiveram grandes lucros
vendendo provisões aos exércitos aliados. A Argentina ficou com noventa e
quatro mil quilômetros quadrados de terra paraguaia, segundo Eduardo Galeano e
Claudius Ceccon.
Os
bancos ingleses que financiaram os Aliados, foram remunerados com altos juros.
E, os prejuízos que os países envolvidos tiveram foram muitos maiores do que os
benefícios. Com a guerra do Paraguai quem saiu ganhando muito foi a Inglaterra
e que passou a vender seus produtos ao Paraguai.
Mesmo
depois de mais de cento e cinquenta e sete anos do início[5] da Guerra do Paraguai e
ainda há controvérsia entre os historiadores sobre os motivos do conflito. O
Paraguai lutou contra Brasil, Argentina e Uruguai, acabou derrotado e, ainda
hoje sente as consequências da guerra. Alguns especialistas afirmam que guerra
era apenas parte da política expansionista de Solano López, outros que foi
reação desproporcional do ditador à invasão do Uruguai pelo Império brasileiro.
Em
verdade, os historiadores divergem sobre a verdadeira razão para o início do
referido conflito. Mas, há consenso em afirmar que ditador paraguaio errou ao
declarar guerra.
Logo
após a declaração de guerra ao Brasil, López invadiu a região atualmente
correspondente ao Mato Grosso do Sul. No ano de 1964, o Brasil havia invadido o
Uruguai e destituído o presidente.
Segundo
o cientista social e doutor em história das relações internacionais Francisco
Doratioto, Solano López tinha um plano: ele teria declarado a guerra em busca
de novos territórios e de uma saída para o mar através do domínio do Rio Prata,
libertando-se, assim, das tarifas alfandegárias cobradas pelo porto de Buenos
Aires.
Doratioto
é autor do livro intitulado "Maldita Guerra", afirma que, na época,
havia litígio de territórios no Rio Grande do Sul e, em Mato Grosso do Sul.
López usou a invasão ao Uruguai como pretexto, pois já havia mobilizado forças
na fronteira[6]
mesmo antes disso acontecer e sem nenhum risco de ameaça, afirma.
Estudioso
e autodidata, o brasileiro Júlio José Chiavenato enxerga Solano López apenas
uma atitude de defesa dos interesses paraguaios, após o Brasil invadir o
Uruguai sob a alegação de que brasileiros estavam sofrendo ataques em meio à
guerra civil que acontecia no país. Para o historiador, López entendeu como ato
de guerra a invasão ao país com o qual tinha acordos de defesa mútua.
O
autor do livro “Genocídio americano: a guerra do Paraguai”, publicado em 1979,
Chiavenato entende que López se sentiu ameaçado por acreditar que seria o
próximo alvo do Império de Dom Pedro II. O ditador, porém, não acreditava que a
guerra se estenderia por tanto tempo e, que se trataria depois de uma atitude
suicida ao iniciar o conflito.
Há um
ponto em comum no entendimento dos historiadores, Solano López errou a iniciar
uma guerra que matou grande parte da população de seu país, e acarretou graves
consequências econômicas, sociais e políticas que o Paraguai jamais conseguiu
superar.
O
historiador Ricardo Henrique Salles, autor do livro “Guerra do Paraguai:
escravidão e cidadania na formação do Exército”, enxerga no Brasil a culpa pelo
conflito. O Paraguai avisou que, se o Brasil invadisse o Uruguai, declararia
guerra. López só declarou guerra porque achou a invasão a uma ameaça fatal a
ele.
Segundo
Salles, a História oficial brasileira trata a invasão ao Uruguai e a Guerra do
Paraguai como conflitos diferentes quando, na verdade, trata-se de um só. A
invasão do Uruguai foi ato agressivo do Império brasileiro que desencadeou a
guerra. Afinal, a ação brasileira no Uruguai foi sem qualquer provocação, foi
invasão, usando fúteis pretextos do assassinato de brasileiros no país quando,
na verdade, o governo brasileiro comprou a briga de estancieiros gaúchos que
tinham interesse em terras, defende.
Segundo
o historiador, não existiam evidências de que, depois do Uruguai, o próximo
país a ser invadido seria o Paraguai. Além disso, Solano López teria apostado
que enfraqueceria o Brasil e que teria o apoio de grupos na Argentina,
superestimando suas forças e subestimando as forças do Império brasileiro. A
estratégia dele deu errado, ele fez uma guerra errada. Já o Brasil achou que a
guerra seria um mero passeio e que, com o que tinha na época em efetivos
militares, daria conta, o que de fato, não ocorreu.
Segundo
dados[7] demográficos, Júlio José
Chiavenato afirma que é possível apontar a população paraguaia em mais ou menos
oitocentos mil pessoas, e que a guerra promoveu matança absurda, deixou o
Paraguai em uma situação que até hoje não se recuperou. Afirma o historiador
que na guerra, morrera cerca de noventa por cento da população masculina maior
de vinte anos.
“Esta
guerra foi uma coisa tão indecente e vergonhosa que só durante o conflito que
se soube que, no pacto da Tríplice Aliança, havia uma cláusula que previa que
ela só terminaria com a morte de López e a troca de poder no Paraguai, não se
poderia assinar armistício”, afirma o escritor, acrescentando que o conflito
produziu um trauma no continente.
“Todos
estes números são polêmicos. As informações que eu tenho é que o Paraguai tinha
cerca de 400 (quatrocentas) mil pessoas e que sobraram 180(cento e oitenta) mil
a 200 (duzentos) mil no fim da guerra. Mais de dois terços da população
masculina”, aponta o professor Doratioto.
Já
para Salles, que leciona história na UniRio, os números sobre a população
paraguaia na época eram de 300 (trezentos) mil a 700 (setecentos) mil. “Ninguém
consegue chegar a um número preciso”. Ele discorda de Chiavenato quanto à
“matança” provocada pela guerra e afirma que 80% dos mortos – cerca de 300
(trezentos) mil pessoas – foram vítimas de fatores indiretos, como fome e
doenças[8].
Outra
polêmica do conflito foi o fato de o Brasil ter enviado escravos como soldados.
“A maioria dos soldados era negra, mulata, mestiça, mas o Exército não aceitava
escravos[9]. Há uma confusão entre a
população negra que era livre e a população que era escrava. Cerca de 10% da
tropa era de escravos, que foram libertos para lutar. Isso pegou mal para o
Brasil na ordem moral e social, um país escravagista ter que recorrer a
escravos para se defender”, afirma Salles.
Já
para Chiavenato, que teve acesso à documentação do conflito, apesar de não
haver números oficiais, a maior parte da tropa brasileira era, sim, de
escravos. “Eles eram enviados para irem no lugar de brancos de classe média que
eram convocados. O Brasil não tinha Exército na época, era uma Guarda Nacional,
mas que só existia no papel, com cerca de 23 (vinte e três) mil homens que não
tinham nem farda”, diz. Já do lado paraguaio, Chiavenato vê o patriotismo como
fator preponderante na luta: “Foi uma luta coesa, o povo entendeu que, se a
guerra fosse perdida, seria o fim do Paraguai”, diz.
Salles
e Doratioto também dizem acreditar nisso: “O paraguaio lutou bravamente”. O
povo viu a guerra como uma ameaça e uma agressão à sua terra. Claro que, por
ser uma ditadura, o governo de López tinha poder coercitivo. Mas isso não explica
o povo paraguaio lutar como lutou”, afirma Salles.
A
geração daqueles que lutaram na guerra do Paraguai, quer nos países aliados,
quer no Paraguai, não registrava de forma positiva o papel histórico de Solano
López. Havia certeza da sua responsabilidade, quer no desencadear da guerra, ao
invadir o Mato Grosso, quer na destruição de seu país, pelos erros na condução
das operações militares e na decisão de sacrificar os paraguaios, mesmo quando
caracterizada a derrota em lugar de pôr fim ao conflito.
Doratioto
não se limitou a rever toda a historiografia da guerra à luz das fontes
documentais, elaborou uma ampla análise da política internacional da Bacia do
Prata, utilizando de conhecimentos multidisciplinares e abordando aspectos tão
variados como os interesses econômicos nacionais, os conflitos de natureza
geopolítica e a personalidade dos dirigentes envolvidos no conflito. Chega a
revelar, em relação à insistência de Dom Pedro II em prosseguir com o conflito
até a morte de Solano López[10], que a familiaridade com
a personalidade do ditador paraguaio, advinda do estudo das fontes primárias,
permite reconhecer uma certa lógica na atitude do Imperador.
As
causas da Guerra do Paraguai estão concentradas no processo de formação dos
países platinos na segunda metade do século XIX. Onde cada país possuía seus
interesses econômicos e políticos e, a defesa desses interesses causou o choque
entre o Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai. Importante destacar que o
Paraguai não era potência econômica alternativa na América do Sul conforme o
revisionismo afirmou. Era apenas uma nação essencialmente agrária, possuía
sistemas de educação e saúde precários e havia passado por modernização somente
nos meios militares.
Existem três interpretações (os historiadores
chamam isso de historiografia) acerca do conflito popularizaram-se em
diferentes momentos no Brasil, e a atual é a mais completa delas. As diferentes
historiografias a respeito dessa guerra são a tradicional, a revisionista e a
pós-revisionista ou nova historiografia.
A
historiografia tradicional apontava a guerra única e exclusivamente como
resultado da megalomania de Solano López, ditador do Paraguai, e desconsiderava
uma série de eventos relevantes no contexto geopolítico da bacia platina. Essa
historiografia foi muito comum no Brasil no início do século XX até a década de
1960, aproximadamente.
A
historiografia revisionista foi muito conhecida no Brasil na década de 1960 até
meados da década de 1990. Segundo essa historiografia, o Paraguai era um modelo
de desenvolvimento autóctone (nativo) e único na bacia do Prata. Isso
desagradaria à Inglaterra, que, para sujeitar o Paraguai ao capitalismo inglês,
manipulou Brasil e Argentina para que guerreassem e destruíssem o modelo
econômico do Paraguai.
Hoje essa historiografia é considerada pelos historiadores como ultrapassada e imprecisa, pois ignora diversos fatos do contexto platino e é muito criticada por não possuir comprovação documental. Os novos estudos foram realizados de maneira pioneira por historiadores paraguaios e brasileiros, entre os quais se destacam Juan Carlos Herken Krauer, Maria Isabel Gimenez de Herken, Ricardo Salles e Francisco Doratioto[11].
As
denúncias de que o exército brasileiro ao lutar na guerra era formado por
escravos não são novas. Seus primeiros estudiosos foram os redatores dos
jornais paraguaios da época.
Tratavam
de menosprezar o exército brasileiro com base em duvidoso argumento, por ser
formados de negros, deveria ser de qualidade inferior. É verdade que soldados
negros, ex-escravos ou não, lutaram em pelo menos três dos quatro exércitos dos
países envolvidos.
Os
exércitos paraguaio, brasileiro e uruguaio tinham batalhões inteiros formados
exclusivamente por negros, como o caso do Corpo dos Zuavos da Bahia[12] e o batalhão uruguaio
Florida. Eram escravos propriamente ditos, engajados como soldados que lutaram
comprovadamente nos exércitos paraguaio e brasileiro.
A
frase é: - "Como matar a los negros?" foi dita pelo paraguaio
Solano López logo depois de receber no ventre o golpe de lança do Cabo de
Ordens do Coronel Joca Tavares, seu xará Francisco Lacerda, chamado de “Chico
Diabo”[13]. Na época da guerra de
1964-1870, no Paraguai o negra era, antes de tudo, o inimigo. O exército
brasileiro era o exército macacuno e seus líderes, segundo a propaganda, era
feita de macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-o da
liberdade à escravidão.
Nas senzalas e nas lavouras, cartas de alforria e uniformes começaram a chegar endereçados a homens que, repentinamente, se viram no dever de defender a pátria que até então lhes negava condição de gente. Em janeiro de 1867, os primeiros libertos da guerra foram encaminhados para o Exército e a Marinha do Brasil[14].
Forros
e engajados como soldados, eles lutaram em pelo menos três dos quatro exércitos
dos países envolvidos. O Corpo dos Zuavos da Bahia era um dos muitos batalhões
formados exclusivamente por negros. O consenso entre muitos dos comandantes dos
Aliados era de que aqueles homens de mãos calejadas e costas marcadas lutavam
mais bravamente e com maior entusiasmo que os soldados brancos, porque lutavam
por liberdade.
Os
combatentes da chamada Guerra do Paraguai representavam uma realidade diversa,
onde religiosidade e preconceito estiveram fortemente presentes. A grande parte
da historiografia nacional sobre a guerra enxerga o soldado paraguaio era um
fanático, subserviente ao seu ditador, o tirano Solano López, de raízes
católicas, porém, um bárbaro guarani.
É
verdade que a cruz e a espada sempre estiveram unidas na história da ocupação/
colonização dos europeus sobre a América. A religião teve e, ainda tem um papel
relevante na organização das sociedades. Tratando-se da América espanhola e
portuguesa foi a Companhia de Jesus, criada em 1534, por Inácio de Loyola que
teve a função de evangelizar o novo mundo para compensar a perda de espaço dos
católicos em território europeu resultante do movimento protestante do século
XVI.
Sem dúvida, a Guerra do Paraguai serviu para operar mudanças no Estado brasileiro, principalmente, com o fortalecimento do Exército enquanto instituição nacional, com poder político e a destruição do Paraguai e, tiveram consequências de longo prazo decorrente dessa guerra. Particularmente, o fortalecimento militar do exército brasileiro e das forças armadas em geral o que veio depois engendrar mudanças na história brasileira[15].
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Notas:
[1]
A guerra é um fenômeno social. Sua natureza foi explicada por Carl von
Clausewitz (1780-1831) como sendo “um ato de violência destinado a forçar o
adversário a submeter-se à nossa vontade” (Clausewitz, 1996, p. 7). A partir
das observações sobre as Guerras Napoleônicas (1803-1815), teorizou a guerra
não como um objeto independente, mas com um caráter instrumental,
sintetizando-a na máxima: “A guerra é a continuação das relações políticas com
o complemento de outros meios” (Clausewitz, 1996, p. 870). Os desígnios, ou
seja, os objetivos políticos estatais são determinantes no caráter do conflito
armado.
[2] Entre as causas da Guerra do Paraguai encontram-se as rivalidades entre Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai causadas pelos desentendimentos quanto às fronteiras entre os países, a liberdade de navegação dos rios platinos, as disputas de poder por facções locais (federalistas e unitaristas na Argentina, e os blancos e colorados no Uruguai) e, ainda as rivalidades históricas de mais de três séculos. O motivo para o começo da guerra foi a intervenção do Brasil na política uruguaia entre agosto de 1864 e fevereiro de 1865. Para atender ao pedido do governador dos blancos de Aguirre, López tentou servir de intermediário entre o Império do Brasil e a República Oriental do Uruguai, mas como o governo brasileiro não aceitou sua pretensão, deu início às inimizades. Assim começa o maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a guerra do Paraguai que serve como fim das lutas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do rio da Prata.
[3]
A Batalha Naval do Riachuelo é considerada, pelos historiadores, como uma
batalha decisiva da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870) –
o maior conflito militar na América do Sul, somente superado em vítimas no Novo
Mundo pela Guerra Civil Americana (1861-1865). A importância da vitória nesta
Batalha está ligada ao fato que, até aquela data, o Paraguai tinha a iniciativa
na guerra e ela inverteu a situação, garantiu o bloqueio e o uso pelo Brasil
dos rios, que eram as principais artérias do teatro de operações de guerra.
[4]
Para o Brasil, a guerra gerou forte impacto na economia, uma vez que os gastos
do Brasil foram 11 vezes o orçamento anual do país em 1864. Além disso, o
governo brasileiro saiu bastante endividado, sobretudo com bancos ingleses, em
decorrência dos empréstimos feitos para financiar o conflito. A guerra também
fortaleceu o exército como instituição e marcou o início da decadência da
monarquia.
[5]
A guerra teve início dia 26 de dezembro de 1864, quando o Paraguai aprisionou a
embarcação brasileira Marquês de Olinda, que estava navegando no Rio Paraguai
em direção a Cuiabá, cuja única forma de chegar era justamente via fluvial.
Lopez deteve o navio e invadiu o Mato Grosso, onde permaneceu até pelo menos o
ano de 1868 e destruiu com rapidez os soldados brasileiros da Guarda Nacional
presentes em menor número. Do Mato Grosso, seguiu para o atual estado do Rio
Grande do Sul de onde pensava em invadir o Uruguai em auxílio aos blancos e
contra os colorados. Era, no entanto, necessário para isso passar pelo
território argentino Corrientes, algo que o então presidente argentino
Bartolomé Miltre não permitiu, já que era aliado dos colorados também. Lopez
declarou então guerra à Argentina e invadiu seu território. No dia 1º de maio
de 1865, Argentina, Brasil e os colorados uruguaios constituíram a Tríplice
Aliança contra paraguaios e blancos uruguaios.
[6]
No que se refere às definições dos limites entre o Império Brasileira e o
Paraguai, uma das principais causas da guerra, foi que o governo imperial
reivindicava a soberania do território entre os rios Branco e Apa, tendo este
último como limite com o Paraguai, com base no princípio do uti possidetis. O
governo paraguaio, a seu turno, contestava o limite no Rio Branco, com base no
Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, assinado entre a Coroa Espanhola e a
Portuguesa. A diplomacia imperial rejeitava esse pleito e argumentava que o
Tratado de Badajoz, de 1801, firmando entre as duas metrópoles, anulara o
documento do século anterior. Como resposta à tais indefinições, durante a
década de 1850, Carlos López colocou diversos obstáculos à livre navegação do
Rio Paraguai por navios brasileiros, condicionando-a a delimitação da fronteira
entre os dois países no Rio Branco. Assim, situa-se a primeira ameaça de guerra
entre os dois países, uma vez que a livre navegação era vital para o Império,
levando-o ameaçar o Paraguai com uma guerra, para qual não estava preparado.
Desse modo, o Paraguai cedeu e acabou anuindo e assinando com Império, em abril
de 1856, um tratado em que garantia livre navegação e postergou por seis anos a
discussão das fronteiras, mantendo-se o status quo do território litigioso
entre os Rios Apa e Branco.
[7]
Foi por meio das vozes de médicos, engenheiros, padres, oficiais, soldados e
civis envolvidos no conflito que foram obtidas as informações sobre os soldados
que participaram da guerra. Um dos raros registros de soldados é o Diário de
Campanha de Francisco Pereira da Silva Barbosa que traz informações sobre
batalhas, as marcas a pé e sem cavalos, as crises de fome, as epidemias e
doenças, a presença de acampamentos de crianças e mulheres, que eram esposas,
filhas, parentes, enfermeiras e viúvas, amantes, prostitutas, escravas,
andarilhas, vivandeiras, prisioneiras de guerra e soldadas.
[8] Em verdade, a Guerra do Paraguai foi uma guerra epidêmica, pois as doenças infecciosas acompanharam o conflito, do início ao fim, sem contar os surtos com os de cólera. O historiador Leonardo Bahiense, reitera: "Apenas a cólera foi responsável por no mínimo 4.535 mortes de soldados brasileiros durante toda a guerra. Segundo ele, com base em documentos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no primeiro semestre de 1868, 52,5% das mortes das tropas aliadas resultaram da intensa desidratação causada pela bactéria Vibrio cholerae, e 3,6% de malária e outras doenças caracterizadas genericamente como febres. Em muitos momentos, acrescenta a pesquisadora da UFF, soldados e prisioneiros paraguaios com cólera eram abandonados nas estradas, por ordem dos comandantes, quando as tropas se moviam de um acampamento para outro. Em retirada da Laguna, publicado em francês em 1871, e em português três anos depois, o engenheiro militar Alfredo Taunay (1843-1899) descreveu os surtos de cólera como adversário oculto, a ninguém perdoando. A peste é a maior inimiga que temos, relatou o Marechal de Campo Manuel Luís Osório ao ministro da Guerra Ângelo Muniz da Silva Ferraz, ao assumir o comando das tropas, em julho de 1867. Outra doença registrada no Arquivo do Exército, era a sífilis. Havia prostituição nos acampamentos, principalmente com as paraguaias por causa da fome. Peculiaridade dessa guerra, as mulheres que acompanhavam as tropas eram mães, filhas, irmãs ou companheiras dos soldados, para os quais lavavam os uniformes e cozinhavam. In: FIORAVANTI, Carlos. O terror das doenças na guerra do Paraguai. Pesquisa FAPESP. Edição 309. Nov.2021. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-terror-das-doencas-na-guerra-do-paraguai/ Acesso em 26.11.2021.
[9]
Em "Escravidão ou morte: os escravos brasileiros na Guerra do
Paraguai", de 1996, o historiador Jorge Prata de Sousa contemplou as
discussões sobre a participação dos escravos na campanha do Paraguai: Se, num
primeiro momento, o escravo aparecia esporadicamente como substituto do guarda
nacional convocado, depois passou a fazer parte do contingente necessário ao
Exército e a Marinha. Cabia ao Império, então, comprar escravos a preço de
mercado para atender às necessidades da guerra. Nos primeiros anos da guerra,
escravos recém-libertos foram enviados às áreas de conflito em substituição aos
guardas nacionais provenientes de famílias endinheiradas, ou então para
preservar guardas em seus postos de comando nos municípios escravistas.
[10]
A Batalha de Cerro Corá ou Aquidabanigui foi a última batalha da Guerra do
Paraguai, travada no dia primeiro de março de 1870, nas imediações de Cerro
Corá, 454 quilômetros ao nordeste de Assunção. Também a morte de Solano López é
cercada por divergências e imprecisões sobre o que, de fato, ocorreu quando dos
acontecimentos dentro da floresta, onde fugiu. Ainda assim existem pontos em
comum no relato de oficiais e combatentes paraguaios e imperiais. Após a
derrota dos rifreros, López se dirigiu ao quartel-general, no centro do
acampamento e, de lá, junto com coronel Silveiro Aveiro, o major Manuel Cabrera
e o alferes Ignácio Ibarra, todos a cavalo, tentaram fugir, mas foram
alcançados por soldados da cavalaria imperial, pela esquerda, o que impediu uma
fuga para o arroio Aquidabá-niguí. Nessa ocasião, os soldados imperiais fizeram
uma intimação para López se rendesse. Dois soldados, um em cada lado, tentaram
segurá-lo, mas López tentou ferir um dos imperiais com seu espadim de
cerimônia, tendo sido revidado com um golpe de machado na cabeça, porém foi
amortecido pelo chapéu de panamá que usava. Um dos cavaleiros imperiais desceu
do cabalo e transpassou López com uma lança que empunhavam de baixo para cima,
atingindo a virilha direita e alcançando as entranhas, comprometendo fatalmente
o peritônio, o intestino e a bexiga. Esse cavaleiro tinha a alcunha de Chivo
Diabo, 22 anos e era pertencente ao regimento do coronel João Nunes da Silva
Tavares. Os momentos finais da morte de Solano López foram testemunhados por
poucos ou nenhum soldado paraguaio e por apenas alguns soldados imperiais,
incluindo o general brasileiro Correia da Câmara. Ao fim da guerra, Câmara
redigiu três relatórios contraditórios sobre a morte do presidente paraguaio.
Ao marechal Vitorino José Carneiro Monteiro, o general imperial redigiu o
primeiro relatório militar, chamado de parte, ainda no dia 1 de março,
declarando, por duas vezes, que o marechal havia sido morto em sua frente,
pois, não aceitou se render, mesmo estando "completamente derrotado e
gravemente ferido".
[11]
Até os anos de 1990, a historiografia tinha duas explicações para a Guerra do
Paraguai: a primeira colocava a Inglaterra como uma das principais responsáveis
pelo conflito, partindo da ideia de que o Uruguai era um país autônomo e
potencialmente um período para os britânicos na região, já que era uma
potência. A outra explicação colocava unilateralmente Solano Lopez como o único
responsável, transformando-o em um tirano louco com ganas imperialistas. Essas
explicações careciam de dados precisos e de fontes, sendo muito mais
ideológicas do que de fato correspondentes à realidade dos quatro países e da
bacia platina no momento em questão. A maior explicação para a ocorrência do
conflito foram disputas internas entre os quatro países, não só pela hegemonia,
mas também da livre dominação da navegação do Rio da Prata, que facilitava o
acesso ao mar à Leste, além do deslocamento pelo interior do continente e a
exploração de metais preciosos. Além disso, a disputa de domínio entre Paraguai
e Brasil era muito baseada na questão de que eram os dois únicos países cujos
governantes não eram escolhidos em lugar algum. Isso conferia, por um lado,
força para disputar a hegemonia e, por outro, desejo de realizar essa disputa.
Se o Brasil estava aliado aos colorados, o Paraguai estava aliado aos blancos,
que lhe garantiam a saída para o mar, o que gerava um claro conflito de
interesse.
[12]
A província da Bahia foi a primeira a se oferecer em sacrifício da pátria
ultrajada. Governava a província a política progressista representada pelo
Desembargador Luiz Antônio Barbosa de Almeida quando o Corpo de Polícia da
capital sob o comando o tenente-coronel Joaquim Maurício Ferreira
antecipando-se ao decreto, que criava os Corpos de Voluntários, ofereceu-se para
participar da luta, embarcando com 477 homens no dia 23 de janeiro de 1865.
[13]
José Francisco Lacerda, vulgo Chico Diabo (1848 —1893), foi um militar (cabo)
brasileiro que lutou na Guerra do Paraguai e ficou famoso por ter matado o
ditador paraguaio Francisco Solano López, na batalha de Cerro Corá (1º de março
de 1870). Chico recebeu como recompensa cem vaquilhonas (vacas que ainda não
deram cria). Tomou ainda para si a faca de prata e ouro que López levava quando
foi morto e na qual constavam, gravadas em ouro, as iniciais FL,
coincidentemente as mesmas do nome de Chico. A lança usada pelo militar
brasileiro no episódio encontra-se no Museu Histórico Nacional, no Rio de
Janeiro. Ao retornar do Paraguai, em 1871, Chico casou-se com uma prima, Isabel
Vaz Lacerda, com quem teve quatro filhos, e trabalhou como capataz em várias
estâncias. O nome de Chico ficou consagrado popularmente em uma quadrinha muito
em voga na época: "O Cabo Chico Diabo, do diabo Chico deu cabo".
Faleceu repentinamente, em 1893, quando se encontrava no Uruguai a serviço de
Joca Tavares. Para receber os restos mortais do marido, anos depois, a viúva
Isabel teve que contratar um uruguaio para roubá-los. Seu corpo foi sepultado
novamente no Cemitério da Guarda, em Bagé. Em 2002, foi colocada uma lápide
sobre o túmulo, por iniciativa do núcleo de pesquisas históricas daquela cidade
gaúcha.
[14]
No Exército brasileiro, internamente, surgiam as discórdias. Em
outubro de 1866, o Partido Conservador, na oposição, responsabilizava o Partido
Liberal, no poder, pelos rumos incertos tomados pelo conflito. É neste contexto
que o General Luís Alves de Lima e Silva, que também era Senador pelo Partido
Conservador, assume, muito prestigiado, o comando das tropas do Império. Na
frente de batalha no Paraguai a situação do Exército era complexa. A tropa
estava desanimada contando com um efetivo insuficiente e despreparado. Rareava
a apresentação de voluntários, o que fez com que se intensificasse o
recrutamento obrigatório. Críticas ferozes se avolumavam na imprensa, que
chegou a classificar a guerra como "açougue do Paraguai." A maioria
recrutada era negra. Segundo a historiadora Lília Moritz Schwarcz, esta mudança
na coloração do Exército fez com que os jornais paraguaios passassem a,
ironicamente, chamar os soldados brasileiros de "los macaquitos",
apelido que depois se estendeu aos Generais, ao Imperador e à Imperatriz. Esta
denominação pejorativa talvez explique o motivo que levou D. Pedro II a mover
uma perseguição implacável a Solano López.
[15]
Uma curiosidade, ao final da guerra, Solano López ordenou que crianças acima de
doze anos participassem das batalhas usando barbas postiças. E, a grande
maioria foi assassinada pelo exército brasileiro. Com o fito de majorar o
continente de guerra, o governo brasileiro instituiu os Voluntários da Pátria
em 1865. Aos homens livres eram prometidos lotes de terra, dinheiro e pensão
para as viúvas. Já para os escravos era oferecida a liberdade quando voltassem.
A Tríplice Aliança teve a participação de 235,5 mil soldados. Já o Paraguai
contou com 150 mil soldados. O Exército paraguaio construiu um canhão a partir
da fundição de sinos de diversas igrejas de Assunção, sendo conhecido como
canhão cristão e, foi apreendido pelo Exército brasileiro durante o conflito.
Atualmente, este se encontra no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Em
2014, o neto de Solano López pediu ao governo brasileiro que o devolvesse.